segunda-feira, fevereiro 26, 2018

O potencial do Enoturismo em Portugal

A paisagem singular das encostas do Vale do Douro, de características xistosas, vem produzindo, há quase dois mil anos, um vinho excepcional que transpassa o mero dom da natureza, transformando-se em um patrimônio cultural português onde acumulam-se o trabalho coletivo, as experiências, saberes e arte de muitas gerações. Além de ser um produto chave para economia nacional, a produção do Alto Douro Vinhateiro é também uma expressão de Portugal para o mundo.
 São constantes as descobertas arqueológicas de lagares e vasilhame vinário, como as recém reveladas pela pesquisa no Vale de Mir, em Alijó, que remontam ao sec. I d.C., de produção romana, testemunhando a antiguidade da cultura nessa região. No período medieval, com a instalação de diversas ordens religiosas, principalmente a dos monges de Cister, houve um grande avanço na qualidade, produção e venda do vinho, que era feita exclusivamente pelo rio Douro até à foz em Gaia e no Porto. Os mosteiros de Salzedas, S. João de Tarouca e S. Pedro das Águias são exemplos dessa produção, que se espalhou por toda a região do Alto Douro Vinhateiro e hoje abre-se a novas potencialidades, tais como o Enoturismo.
A oferta do Enoturismo no norte de Portugal, nomeadamente na Região Demarcada do Douro, destacada como a mais antiga região vinícola demarcada do mundo (a designação de vinho do Porto surgiu na segunda metade do séc. XVII, diante da expansão da cultura e das exportações) e reconhecida como Património Mundial pela UNESCO, vem crescendo a cada ano, segundo dados da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte e de entidades internacionais tais como a World Tourism Organization – UNWTO, órgão das Nações Unidas.
A Associação das Rotas do Vinho de Portugal elaborou um estudo que contou com a colaboração de cerca de 260 unidades de Enoturismo, estimando um total de 2,2 milhões de visitantes em 2016. Já no Grande Porto foram registrados cerca de 1 milhão de visitantes/ano nas Caves do Vinho do Porto, em Gaia, consideradas hoje uma das maiores atrações turísticas dessas cidades.
Através de estudos apresentados pelo Turismo de Portugal, IP., ainda que não tenha havido um crescimento uniforme, 84% das empresas de Enoturismo inquiridas nesta pesquisa afirmaram que a procura aumentou, fazendo com que a base de recepção tenha sido ampliada não apenas no que diz respeito uma ampla abordagem dos produtos (provas de vinho (32%), visitas guiadas às instalações (28%) e visitas guiadas às vinhas (16%) como também na ordenação geral da oferta gastronômica, de hospedagem e dos bens culturais. Mais da metade dos turistas é nacional (54%), mas também houve um crescimento dos turistas internacionais provenientes do Reino Unido, França, Brasil, Espanha, Alemanha e EUA.
Foram identificados pelo Turismo de Portugal, IP., mais de 250 adegas, 850 quintas produtoras, 76 caves, 1200 produtores, além dos museus do vinho e as aldeias vinhateiras, e é imprescindível ressaltar que boa parte do sucesso do Enoturismo em Portugal deve-se às 11 Rotas dos Vinhos existentes atualmente, que desempenham um papel fundamental no desenvolvimento dessa atividade turística.
Para coroar esse crescimento, a publicação norte-americana Wine Spectator, uma das mais prestigiadas revistas na área, considerou em seu ranking dos 10 melhores vinhos do mundo o Dow’s Vintage Porto 2011 como o melhor vinho do mundo em 2014, obtendo um score de 99/100, além de colocar outros dois outros vinhos da região do Alto Douro (Chryseia Tinto 2011 e o Quinta Do Vale Meão 2011) no Top 10 mundial.
Representando um dos melhores produtos nacionais, o Enoturismo tem todo o potencial latente para ser uma das maiores riquezas do país e preservar sua história, tradições e patrimônios como uma força conjunta para o desenvolvimento econômico e social de Portugal.

Maria de Lourdes Ferreira Calainho

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, no curso de Mestrado em Patrimônio Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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