1. Ouvindo acerca de semana e meia as declarações feitas para os telejornais por Teixeira dos Santos e José Sócrates sobre a situação económico-financeira nacional e as medidas que o governo se propunha tomar para debelar o défice público, não pude deixar de pensar que um incompetente nunca admite a sua incompetência. Conclui daí que um e outro já tinham assegurado o seu lugar no livro da pequena história de Portugal.
Tenha-se a-propósito presente que o país vive um período de estagnação económica desde 2001 e que as receitas em que se insiste para nos tirar da crise são as mesmas que nos arrastaram para este quadro de dívida, de anemia estrutural e de descrença. Nesse contexto, há quem venha falando (alguns, há um par de anos) da premência de se estabelecerem pactos políticos. Alternativamente, eu sou a favor de um pacto social, isto é, de um pacto entre agentes e estruturas económicas e sociais e uns poucos agentes políticos que conservem a noção de serviço público, que nos permita descolar do quadro lamacento, sem projecto para o país e as suas gentes para que nos deixámos empurrar.
2. No mesmo contexto, vieram-me também à memória as respostas que, na véspera, dera a um estudante de mestrado que me fizera chegar um pedido de ajuda. Ocorreram-me essas questões e ocorreu-me o ingrato que é remar contra a maré. Esse pensamento ia-me desfilando na cabeça à medida que ia escutando as palavras de assentimento, de conformismo de uns quantos economistas e fazedores de opinião que apareceram de seguida a comentar as medidas anunciadas pelo governo.
3. Uma das perguntas que me fora endereçada repostava-se a "Quais são(eram) as nossas vantagens competitivas (Zona costeira? Ponto geográfico? Energias Renováveis?....?)?". Apeteceu-me logo então sublinhar que o problema de desenvolvimento do país resultava muito mais de outras coisas que da ausência ou da escassez de recursos. Acabei por lá chegar mas, antes, sublinhei que:
“No que se refere a áreas de oportunidade, as energias renováveis são claramente uma oportunidade a explorar, mas o turismo, em diversas dimensões, também o é e tem sido subaproveitado. Na dimensão potencial turístico e energético, a zona costeira é uma fonte potencial de vantagens competitivas. Tem é que ser convenientemente explorada, como muitos outros atributos, incluindo o posicionamento geográfico.
A meu ver, os territórios e os países, de um modo geral, devem constituir carteiras de produtos e organizá-los de modo a tirar deles o melhor partido económico, muito mais do que fazer apostas em factores ou produtos isolados. Para tal é preciso ter estratégia e capacidade de iniciativa e liderança, que são dimensões deficitárias em Portugal, nos tempos mais recentes, pelo menos”.
Pois é: escassas, escassas mesmo em Portugal são a ousadia, a iniciativa, o sentido de projecto e a conformação de lideranças sociais que não sejam circunstanciais, que não olhem só para o umbigo, que ponham as regiões, o país em primeiro lugar.
4. E já que falo de recursos dos territórios e de turismo, em particular, sugere-se-me perguntar por onde anda e a que conduziu a reorganização das regiões turísticas que o primeiro governo de José Sócrates tão empenhadamente levou a cabo? A que resultados (em matéria de captação de visitantes e de promoção de imagem dos destinos turísticos nacionais) conduziu? Sei entretanto que em muitas terras deste país (mesmo nalgumas com importantes recursos turísticos e algum caminho feito de afirmação no sector) subsiste a carência de aposta em estratégias articuladas com outros municípios vizinhos em matéria de agendas conjuntas de eventos culturais e na disponibilização de roteiros turísticos (em comum). Sei que em matéria de promoção turística uns são tidos como filhos e outros como enteados. Sei que o caminho que importa fazer em matéria de oferta turística, no sentido de produtos mais “sofisticados” e visando clientelas mais exigentes, está, em grande medida, por fazer, pese todos PENTs (leia-se: planos nacionais de desenvolvimento turístico) que se tenham elaborado.
Digam-me lá se é por falta de recursos turísticos (natureza, nas suas diferentes expressões; património material e imaterial; equipamentos de hotelaria e restauração; programação cultural; singularidade e autenticidade, nas suas expressão física e humana; cortesia do acolhimento por arte dos residentes) que o país se mantém aquém daquilo a que podia aspirar em termos de desenvolvimento (e receita) turística?
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de 2010/10/12 do Suplemento de Economia do Diário do Minho, no contexto de coluna regular, denominada "A Riqueza das Regiões")
Tenha-se a-propósito presente que o país vive um período de estagnação económica desde 2001 e que as receitas em que se insiste para nos tirar da crise são as mesmas que nos arrastaram para este quadro de dívida, de anemia estrutural e de descrença. Nesse contexto, há quem venha falando (alguns, há um par de anos) da premência de se estabelecerem pactos políticos. Alternativamente, eu sou a favor de um pacto social, isto é, de um pacto entre agentes e estruturas económicas e sociais e uns poucos agentes políticos que conservem a noção de serviço público, que nos permita descolar do quadro lamacento, sem projecto para o país e as suas gentes para que nos deixámos empurrar.
2. No mesmo contexto, vieram-me também à memória as respostas que, na véspera, dera a um estudante de mestrado que me fizera chegar um pedido de ajuda. Ocorreram-me essas questões e ocorreu-me o ingrato que é remar contra a maré. Esse pensamento ia-me desfilando na cabeça à medida que ia escutando as palavras de assentimento, de conformismo de uns quantos economistas e fazedores de opinião que apareceram de seguida a comentar as medidas anunciadas pelo governo.
3. Uma das perguntas que me fora endereçada repostava-se a "Quais são(eram) as nossas vantagens competitivas (Zona costeira? Ponto geográfico? Energias Renováveis?....?)?". Apeteceu-me logo então sublinhar que o problema de desenvolvimento do país resultava muito mais de outras coisas que da ausência ou da escassez de recursos. Acabei por lá chegar mas, antes, sublinhei que:
“No que se refere a áreas de oportunidade, as energias renováveis são claramente uma oportunidade a explorar, mas o turismo, em diversas dimensões, também o é e tem sido subaproveitado. Na dimensão potencial turístico e energético, a zona costeira é uma fonte potencial de vantagens competitivas. Tem é que ser convenientemente explorada, como muitos outros atributos, incluindo o posicionamento geográfico.
A meu ver, os territórios e os países, de um modo geral, devem constituir carteiras de produtos e organizá-los de modo a tirar deles o melhor partido económico, muito mais do que fazer apostas em factores ou produtos isolados. Para tal é preciso ter estratégia e capacidade de iniciativa e liderança, que são dimensões deficitárias em Portugal, nos tempos mais recentes, pelo menos”.
Pois é: escassas, escassas mesmo em Portugal são a ousadia, a iniciativa, o sentido de projecto e a conformação de lideranças sociais que não sejam circunstanciais, que não olhem só para o umbigo, que ponham as regiões, o país em primeiro lugar.
4. E já que falo de recursos dos territórios e de turismo, em particular, sugere-se-me perguntar por onde anda e a que conduziu a reorganização das regiões turísticas que o primeiro governo de José Sócrates tão empenhadamente levou a cabo? A que resultados (em matéria de captação de visitantes e de promoção de imagem dos destinos turísticos nacionais) conduziu? Sei entretanto que em muitas terras deste país (mesmo nalgumas com importantes recursos turísticos e algum caminho feito de afirmação no sector) subsiste a carência de aposta em estratégias articuladas com outros municípios vizinhos em matéria de agendas conjuntas de eventos culturais e na disponibilização de roteiros turísticos (em comum). Sei que em matéria de promoção turística uns são tidos como filhos e outros como enteados. Sei que o caminho que importa fazer em matéria de oferta turística, no sentido de produtos mais “sofisticados” e visando clientelas mais exigentes, está, em grande medida, por fazer, pese todos PENTs (leia-se: planos nacionais de desenvolvimento turístico) que se tenham elaborado.
Digam-me lá se é por falta de recursos turísticos (natureza, nas suas diferentes expressões; património material e imaterial; equipamentos de hotelaria e restauração; programação cultural; singularidade e autenticidade, nas suas expressão física e humana; cortesia do acolhimento por arte dos residentes) que o país se mantém aquém daquilo a que podia aspirar em termos de desenvolvimento (e receita) turística?
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de 2010/10/12 do Suplemento de Economia do Diário do Minho, no contexto de coluna regular, denominada "A Riqueza das Regiões")
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