quinta-feira, outubro 28, 2010

Distorções populacionais e centros de média dimensão

A rede urbana nacional apresenta-se desequilibrada, isto é, tem um grande número de centros de pequena dimensão, e dois grandes centros de nível mais elevado, faltando assim centros de média dimensão e importância. Apresentando um paralelismo entre a dimensão demográfica dos centros urbanos e o seu nível hierárquico, de acordo com as funções centrais que possuem. Por exemplo, as duas maiores cidades do país, Lisboa e Porto, são aquelas em que encontramos funções mais raras. Podemos ainda observar que a maioria dos centros urbanos localizam-se no litoral e à volta das duas grandes metrópoles. Estamos então, perante duas situações: a litoralização e a bipolarização.
A litoralização é o fenómeno que corresponde à maior concentração populacional na faixa do litoral, criando grandes desequilíbrios e assimetrias regionais. Ora, face a um litoral industrializado, dotado de serviços diversificados, de grandes redes de transportes e de comunicação, contrasta um interior de fraco dinamismo económico que não consegue fixar população.
Como sabemos a população tende a seguir o sentido da oferta e das oportunidades, e uma vez que dá-se a deslocação destas para o litoral, dá-se também o fluir da população. Seja por movimentos pendulares, migrações ou êxodo rural, os mais jovens tendem em alterar os seus estilos de vida, procurando áreas mais dinâmicas e atractivas.
Esta deslocação para o litoral originou um crescimento rápido das principais cidades aí localizadas e o aparecimento de novos núcleos urbanos sobretudo à volta das duas grandes metrópoles, gerando o notório desequilíbrio.
O excessivo congestionamento está a causar uma crescente pressão nos recursos. Temos um interior cada vez mais envelhecido e estagnado, com menor oferta económica, cultural e social, nos quais os municípios têm de assegurar a manutenção de um conjunto de actividades e serviços caros para servir uma população reduzida. Enquanto o litoral enfrenta uma grande perda de qualidade de vida e ambiental, resultante da expansão acelerada e desordenada fruto da ausência de planeamento e de uma especulação imobiliária desenfreada.
Contudo, apesar da grande litoralização a costa não é aproveitada como deve ser, não se tira partido do mar, nem dos portos, nem da posição estratégica que Portugal dispõe face à Europa como um bom local de entrada de rotas comerciais marítimas transatlânticas.
Já no interior, para além das capitais de distrito, existem poucas cidades e as que existem apresentam um número de habitantes relativamente baixo e sabemos que as regiões do país mais dinâmicas e mesmo mais desenvolvidas são aquelas que possuem cidades melhor posicionadas no sistema urbano. Deve-se, por isso assegurar cidades de média dimensão pois proporcionam consistência económica e social ao interior, partindo do princípio indiscutível de que a cidade dinamiza a sua área de influência.
Sobre estes aspectos, concluímos que será necessário promover o seu desenvolvimento. Dado que estas constituem elos de ligação entre os centros de diferente nível hierárquico e contribuem para o equilíbrio da rede urbana. Além de que são fundamentais para atrair população jovem, pois possuem actividades empregadoras, fornecem bens e serviços diversificados ao nível da saúde, educação, cultura, lazer e ajudam à difusão de ideias e à inovação.
Em suma, surgem consequentemente problemas com a carência de cidades médias, que bem distribuídas pelo território são capazes de polarizar e de manter a coesão interna e que com a ajuda de mais e melhores vias de comunicação e transporte, transformam áreas esquecidas em pólos de desenvolvimento. Há ainda o litoral que melhor aproveitado pode fazer a ligação do mundo com a Europa, bastando algum incentivo e espírito de descoberta, que já foi a marca do nosso país.

Marco António Machado Carneiro

(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho)

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