Longe estão os tempos em que se pensava que ter uma casa e um terreno produtivo no campo era sinónimo de qualidade de vida.
Como se tem vindo a constatar, o conceito da litoralização está vem presente na nossa realidade. Este diz respeito ao processo de progressiva concentração de pessoas e de actividades ao longo da parte litoral do país, sem que o interior acompanhe este ritmo.
Este fenómeno verificou-se com maior intensidade a partir da década de sessenta, como consequência da evolução económica e demográfica verificada em Portugal.
Os principais acontecimentos que estiveram na base da saída de pessoas das zonas interiores foram, essencialmente, o êxodo rural e a emigração que originou um rápido e acentuado crescimento das principais cidades portuguesas, Lisboa e Porto, levando neste contexto a outro conceito, designado por bipolarização. Actualmente a Área Metropolitana de Lisboa tem cerca de 2,8 milhões de habitantes, o que representa 27% da população do nosso país, enquanto a Área Metropolitana do Porto tem cerca de 18% da população total. Ou seja, as duas metrópoles juntas têm praticamente metade de toda a população residente em Portugal. Estes números mostram que temos, sem dúvida, um país desequilibrado e litoralizado.
As causas aliadas à crescente litoralização do país prendem-se com factores de ordem natural, como: o clima, o relevo, disponibilidades hídricas, fertilidade dos solos, mas sobretudo está relacionado com factores como: a busca de empregos com melhores níveis de salário, melhor qualidade a nível de escolas, universidades, maior existência de infra-estruturas e serviços (hospitais, transportes, educação). Também a sua situação geográfica condiciona a maior instalação e o desenvolvimento das actividades económicas, como é o caso de maior diversificação de indústrias e serviços. No caso de Portugal, tal verifica-se mais na faixa litoral entre Braga e Setúbal.
Ora, isto acarreta diversas consequências tanto para as áreas de chegada, como nas áreas de partida. Em relação ao aumento da população no litoral, isto leva a problemas de cariz social, uma vez que várias cidades vêm chegar grandes aglomerados de pessoas, nas quais estas não dispõem de todos os recursos necessários para dar resposta às necessidades de toda a população. Os empregos tornam-se insuficientes, levando, assim a situações de desemprego, e com isto, crescente aumento da pobreza e da marginalidade. A litoralização faz com que haja cada vez menos qualidade de vida no litoral, faz diminuir a qualidade dos serviços prestados, aumenta a poluição e a pressão demográfica, com todos os problemas que lhe estão associados.
Os problemas aliados às zonas rurais em consequência do êxodo rural são, entre outros: desertificação de aldeias, envelhecimento da população, decréscimo da natalidade. Com a diminuição da população rural decresce a arrecadação de impostos, diminui o turismo nestas zonas, perda de costumes e práticas locais. Impede o aproveitamento de todas as potencialidades dos territórios afectados (recursos naturais, aptidão para a agricultura e agro-indústria, posicionamento estratégico, etc.)
A combinação destes dois fenómenos aumenta os custos para o país, pois os serviços no interior não podem ser fechados (por muito poucas pessoas que lá vivam, não podem ficar a 300quilometros do hospital mais próximo), e os serviços no litoral têm de ser melhorados para dar resposta à população crescente.
Este problema é grave, e pode tornar-se insustentável para um país em dificuldades económicas. Por isso torna-se urgente que as entidades competentes se preocupem e encontrem soluções viáveis para tal realidade.
Tem-se vindo a falar de possíveis soluções para potencializar o interior e aumentar a sua atractividade. Desta forma, seria importante apostar em áreas para as quais estas estão dotadas. Assim um possível projecto seria a aposta forte no desenvolvimento do turismo rural, do turismo termal e do turismo sénior. Este poderia ser uma mais-valia, uma vez que o interior é dotado de vários recursos que levariam a um bom desenvolvimento deste projecto.
Isto seria, possivelmente, uma forma de fixar população, uma vez que com tais serviços iria proporcionar criação de emprego, construção de infra-estruturas, desenvolvimento e consumo de produtos tradicionais e locais, traria vários turistas que teriam de consumir dos serviços da região… Outra solução a ter em conta seria a melhoria das acessibilidades nas regiões interiores, como a construção de auto-estradas, linhas ferroviárias que ligassem as pessoas às principais cidades litorais para que estas possam usufruir dos serviços aqui prestados. Assim, tentar-se-ia impedir o abandono destas das suas regiões de origem.
Em jeito de conclusão, é importante referir, que um país não mede o seu grau de desenvolvimento pelo elevado número de pessoas sediadas nas grandes cidades. Mas sim, pela sua capacidade produtiva, pelos seus níveis de riqueza… Por isso, é tempo de mudar mentalidades e apostar noutras áreas para as quais o nosso país tem recursos para tal.
Marisa Rodrigues
Como se tem vindo a constatar, o conceito da litoralização está vem presente na nossa realidade. Este diz respeito ao processo de progressiva concentração de pessoas e de actividades ao longo da parte litoral do país, sem que o interior acompanhe este ritmo.
Este fenómeno verificou-se com maior intensidade a partir da década de sessenta, como consequência da evolução económica e demográfica verificada em Portugal.
Os principais acontecimentos que estiveram na base da saída de pessoas das zonas interiores foram, essencialmente, o êxodo rural e a emigração que originou um rápido e acentuado crescimento das principais cidades portuguesas, Lisboa e Porto, levando neste contexto a outro conceito, designado por bipolarização. Actualmente a Área Metropolitana de Lisboa tem cerca de 2,8 milhões de habitantes, o que representa 27% da população do nosso país, enquanto a Área Metropolitana do Porto tem cerca de 18% da população total. Ou seja, as duas metrópoles juntas têm praticamente metade de toda a população residente em Portugal. Estes números mostram que temos, sem dúvida, um país desequilibrado e litoralizado.
As causas aliadas à crescente litoralização do país prendem-se com factores de ordem natural, como: o clima, o relevo, disponibilidades hídricas, fertilidade dos solos, mas sobretudo está relacionado com factores como: a busca de empregos com melhores níveis de salário, melhor qualidade a nível de escolas, universidades, maior existência de infra-estruturas e serviços (hospitais, transportes, educação). Também a sua situação geográfica condiciona a maior instalação e o desenvolvimento das actividades económicas, como é o caso de maior diversificação de indústrias e serviços. No caso de Portugal, tal verifica-se mais na faixa litoral entre Braga e Setúbal.
Ora, isto acarreta diversas consequências tanto para as áreas de chegada, como nas áreas de partida. Em relação ao aumento da população no litoral, isto leva a problemas de cariz social, uma vez que várias cidades vêm chegar grandes aglomerados de pessoas, nas quais estas não dispõem de todos os recursos necessários para dar resposta às necessidades de toda a população. Os empregos tornam-se insuficientes, levando, assim a situações de desemprego, e com isto, crescente aumento da pobreza e da marginalidade. A litoralização faz com que haja cada vez menos qualidade de vida no litoral, faz diminuir a qualidade dos serviços prestados, aumenta a poluição e a pressão demográfica, com todos os problemas que lhe estão associados.
Os problemas aliados às zonas rurais em consequência do êxodo rural são, entre outros: desertificação de aldeias, envelhecimento da população, decréscimo da natalidade. Com a diminuição da população rural decresce a arrecadação de impostos, diminui o turismo nestas zonas, perda de costumes e práticas locais. Impede o aproveitamento de todas as potencialidades dos territórios afectados (recursos naturais, aptidão para a agricultura e agro-indústria, posicionamento estratégico, etc.)
A combinação destes dois fenómenos aumenta os custos para o país, pois os serviços no interior não podem ser fechados (por muito poucas pessoas que lá vivam, não podem ficar a 300quilometros do hospital mais próximo), e os serviços no litoral têm de ser melhorados para dar resposta à população crescente.
Este problema é grave, e pode tornar-se insustentável para um país em dificuldades económicas. Por isso torna-se urgente que as entidades competentes se preocupem e encontrem soluções viáveis para tal realidade.
Tem-se vindo a falar de possíveis soluções para potencializar o interior e aumentar a sua atractividade. Desta forma, seria importante apostar em áreas para as quais estas estão dotadas. Assim um possível projecto seria a aposta forte no desenvolvimento do turismo rural, do turismo termal e do turismo sénior. Este poderia ser uma mais-valia, uma vez que o interior é dotado de vários recursos que levariam a um bom desenvolvimento deste projecto.
Isto seria, possivelmente, uma forma de fixar população, uma vez que com tais serviços iria proporcionar criação de emprego, construção de infra-estruturas, desenvolvimento e consumo de produtos tradicionais e locais, traria vários turistas que teriam de consumir dos serviços da região… Outra solução a ter em conta seria a melhoria das acessibilidades nas regiões interiores, como a construção de auto-estradas, linhas ferroviárias que ligassem as pessoas às principais cidades litorais para que estas possam usufruir dos serviços aqui prestados. Assim, tentar-se-ia impedir o abandono destas das suas regiões de origem.
Em jeito de conclusão, é importante referir, que um país não mede o seu grau de desenvolvimento pelo elevado número de pessoas sediadas nas grandes cidades. Mas sim, pela sua capacidade produtiva, pelos seus níveis de riqueza… Por isso, é tempo de mudar mentalidades e apostar noutras áreas para as quais o nosso país tem recursos para tal.
Marisa Rodrigues
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do Curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho)
4 comentários:
Vou fazer um comentário que vou o dividir em várias partes sendo que o sistema só aceita 4040 carácteres.
Depois de ler este texto o qual eu propositadamente procurei e procurei a busca de uma resposta de um PORQUÊ!!!? fico a pensar o que está a correr mal.
Questiono-me vezes sem conta do PORQUÊ de isto estar neste ponto de situação.
Depois de ter saído de Lisboa para emigrar para vários países da Europa e America do sul e médio Oriente, decidimos regressar para casa ao fim de vinte anos. Ainda somos novos estamos na casa dos quarenta anos.
Deparando-nos com uma Lisboa caríssima e, apesar de estar ali a nossa família e as nossas raízes decidimos optar pelo interior transmontano , mais concretamente a cidade de Mirandela.
Mirandela parece ser uma cidade que precisa de gente, e de novos negócios e ideias , ora , sendo uma cidade pequena com cerca de 25,000 habitantes , sentimos que fazer ali qualquer coisa séria e honesta seria uma excelente ideia, e com a experiência e com algum investimento poderíamos contribuir para um local onde a cidade e pessoas que a visitassem pudessem usufruir com prazer de algo que não só valorizava a cidade , como oferecia empregos aos habitantes desta e claro nos faria a nos migrantes portugueses, mais prósperos e felizes.
Alugamos então casa ali , casa nova , 200 m2 , garagem privada , localizada no centro da cidade , enfim uma casa bastante boa que em Lisboa pagava mais de 1000€ /mês, aqui no interior português faço a festa por apenas 450€, uau , nem em Moscavide pagava isso pelo meu apartamento de 55 m2 é fantástico.
PARTE 2:
Aliás o negócio era o principal objetivo, pois sem trabalho não há vida.
E depois de ouvir o nosso governo e o concelho de outros para migrar para o interior português. Assim o fizemos.
Os primeiros dois meses foram bons mas curiosos, e uma das curiosidades era que todas as pessoas que nos visitavam perguntavam de onde éramos. O que perguntamos a algumas pessoas que não eram de Mirandela o porque de toda a gente nos perguntar isso.
O que nos foi passado foi que várias pessoas de pequenas vilas e cidades já haviam tentado abrir negócios ali , mas no entanto ao fim de alguns meses acabam por ter que encerrar portas.
E encerraram portas mesmo tendo preços mais baratos e mais qualidade.
E eu perguntei porquê!!?
Então foi nos dito que eles não gostam de pessoa de outros locais e se não forem da terra ou de ascendência dali simplesmente não vão aos locais dessas pessoas.
Bom, eu achei aquilo exagerado e não quiz acreditar. Mas a verdade é que a questão que nos faziam era sempre a mesma ...de onde somos e se temos alguma ligação a Mirandela e o porquê de termos ido para esta cidade.
Ora , há uma altura que nós já não temos resposta , porque nos fazem sentir não como portugueses ou emigrantes mas como seres de outros planetas.
Facto é que estamos aqui à 6 meses e temos que encerrar portas. Ainda hoje nos disseram na cara que se for para irem comer a um restaurante que vão as pessoas da terra e não a pessoas que vem de fora.
Parte 3
Mas deparei-me com testemunhos de várias pessoas, migrantes ( a maioria de Lisboa, alguns também do Porto) que, ao fazer aquilo que nos é sugerido, tentar viver fora da grande metrópole , são tratadas como alienistas , muitos com tal indiferença e prepotência criando situações terríveis para quem deixou tudo e foi para ali.
Não há muito tempo mataram o cão de um casal de Lisboa cujo os mesmo, vieram à procura de uma nova vida no interior optaram por fazer o mesmo que nós, arriscar e simplesmente ir à aventura de poder ter uma vida mais digna a qual seria não só bom para eles mas para a própria cidade/vila/ aldeia , local, para TODOS uma mais valia e apenas viveram um pesadelo:
A mentalidade, a mesquinhice, a inveja, a raiva generalizada , o sentimento de inferioridade ou seja aquilo que for, que eu não consigo entender o porquê , não os deixa EVOLUIR.
Por isso, todo este texto tem muito sentido, mas na pratica nada disto faz sentido.
Repare, não é só neste caso específico ha várias outras situações de teorias que fazem sentido mas que há que questionar quem está no terreno como está a correr essa experiência ...e ninguém o faz.
Há que querer saber como está a correr a vida destas pessoas que decidiram ouvir os concelhos/ sugestões de quem lhes diz faz isto ou aquilo por achar na teoria que é correcto. E é importante saber o que realmente se está a passar.
Enfim...ainda podia escrever muito mais acerca de outras coisas como a corrupção generalizada e organizada que existem nestas cidades, são regras que não se cumprem, coisas que num outro local são chamadas de ilegais mas que aqui "ninguém vê " , mas isso é outro assunto que daria para fazer um livro.
Pergunto-me o porquê de isto ser assim quando por exemplo nós em Lisboa se tivermos a trabalhar ao nosso lado algum de Braga ou Mirandela ou Beja ou seja de onde for, nem nos passa pela cabeça perguntar de onde aquela pessoa é. Especialmente em 2017 que isso e outras coisas não existem.
Enfim ...que tristeza isto tudo. Vidas destruídas por ideias que seriam lindas mas que não são verdades.
Viver com metadona - adorei o seu texto. Não tinha a minha noção desta realidade. Sou um estudante. Curiosamente estou a estudar o fenómeno da litoralização e, por acaso, encontrei este artigo. Como referiu o autor, o problema da litoralização passa, sobretudo, por dar uma nova vida ao litoral. E também, foi isso que aprendi. Curiosamente, ao pensar neste assunto, penso que mais tarde, na minha vida adulta gostaria de ir, assim para uma aldeia do interior, onde só se veem idosos. Gostaria de ser um ponto de mudança na vida daquelas pessoas. Dar-lhes um final de vida um pouco mais "alegre". Talvez criaria um projeto que divulgasse os produtos regionais. Porém, depois de ler o seu comentário fico entristado. Parece que cortaram as asas do meu sonho. É triste a realidade de grande parte da população portuguesa conservadora e com ideais nacionalistas. É por isso que não evoluímos. É por isso que os nossos jovens têm de emigrar para fora em busca de melhores condições de vida. É por isso que muitos idosos morrem abandonados e isolados no meio das montanhas. Tudo por causa da mentalidade retrógrada de muitas pessoas. Não obstante, tenciono, de alguma forma, mudar estas mentalidades. Como? Ainda não sei, mas certamente irei fazê-lo! Viva Portugal!
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