Este artigo
versa uma chamada de atenção para o investimento estrangeiro, com
comparticipações elevadas do estado diretas e indiretas e a preservação da
natureza.
Foi criada a
maior unidade mundial de aquicultura de produção de rodovalho, na zona Sul da
Praia de Mira, a 500
metros da costa, em plena Rede Natura
2000, no concelho de Mira, Distrito de Coimbra. A Acuinova filial do grupo
Espanhol Pescanova investiu 140 milhões de euros nesta unidade de produção, foi
reconhecida como PIN – Potencial Interesse Nacional. O contributo do estado
português acordado é de sensivelmente 45 milhões de euros e 42 hectares de terreno,
existindo o compromisso de criação de 200 postos de trabalho por parte da
Pescanova. A fábrica foi inaugurada em 21 de Junho de 2009. Mais de dois anos
após o início de laboração ainda só tinham empregado 106 pessoas, o que não
correspondia à perspetiva inicial.
Situações como
esta, com elevado investimento financeiro por parte do estado tendo como
contrapartida 200 postos de trabalho, na melhor das hipóteses e fazendo as
contas por alto, os 45 milhões de euros, multiplicando 200 postos de
trabalho por 14 meses e posteriormente multiplicar por 10, o equivalente a 10
anos de atividade equivalia a 28.000 salários. Dividindo por 45 milhões de
euros por 28.000 salários o resultado é de 1607 euros por mês para cada
funcionário, por isso eles vieram para Portugal, que bom negócio para eles, dez
anos de ordenados pagos e 42
hectares de terreno.
No decreto-Lei
n.º 174/2008 de 26 de Agosto, no artigo 1, terceiro ponto é reconhecido como
sendo PIN – Potencial Interesse Nacional, projetos que representem um investimento
global superior a 25 milhões de euros, assim como é referido no mesmo artigo,
ponto dois, alínea VI) Balanço económico externo, nomeadamente no aumento de
exportações ou na redução de importações. Estes dois argumentos convergem para
que o investimento da Pescanova seja um PIN por ter um investimento muito
superior a 25 milhões de euros e a empresa espera produzir 7000 toneladas de
rodovalho por ano sendo 99% para exportação. Em relação à exportação, é muito
interessante porque toda a produção para exportação é vendida à mesma empresa,
que pertence ao grupo Pescanova, e está instalada em Espanha. Só depois
vende para o resto da Europa e mundo. Possivelmente o que acontece é venderem a
um preço pouco superior ao de custo, à empresa do grupo e as mais-valias para a
Acuinova serem muito baixas. No mesmo decreto-Lei no ponto “8 –
Sustentabilidade ambiental, alinea a) Compatibilidade com os valores naturais
presentes, designadamente com as áreas protegidas e com a Rede Natura 2000…”.
O Sitio de
Interesse Comunitário da Rede Natura 2000 das Dunas de Mira, Gândara e Gafanhas
têm a área de 20 511 ha
distribuídos pelo Concelhos de Cantanhede 13%, Figueira da Foz 18%, Mira 51% e
Vagos 12%. O Concelho de Mira com 6340 ha . No respetivo Plano Setorial estão
referenciadas como fatores de ameaça, a ‘pressão turística, construção de
campos de golfe, eutrofização do sistema lagunar, invasão por espécies
infestantes, drenagens agrícolas e captações de água, incêndios, extração de
inertes, efeitos das obras de proteção costeira (esporões), prática de
desportos motorizados e pisoteio das dunas. As orientações de gestão referidas
no mesmo documento são a salvaguarda da faixa litoral, destacando-se os habitats dunares e a flora associada, área
dunar esta que foi ocupada por 42 hectares da Empresa Acuinova.
A Pescanova
antes tinha tentado instalar este projeto na Costa da Muerte, na Galiza, mas
foi chumbado pelas autoridades regionais, que invocaram questões ambientais.
Existe uma opinião cada vez mais unanime de que
o Decreto-Lei n.º 76/2011 de 20 de
Junho, que vêm substituir o Decreto-Lei n.º 174/2008 de 26 de Agosto,
vem facilitar
a subversão dos valores naturais em relação aos interesses económicos e
baixa nitidamente o patamar de exigência para ser considerado PIN – baixando
por exemplo o investimento de 25 milhões de euros para 10 milhões.
O investimento
direto estrangeiro é de grande importância para a economia portuguesa, mas não
pode ser visto como a única solução para o desenvolvimento económico de
Portugal e para resolver os problemas estruturais da economia. Na minha opinião
quando o investimento tem apoios do estado diretos ou indiretos através de
exceção de impostos devem ser tomadas precauções, para quando deixar de
interessar à empresa manter-se em Portugal, se deslocalizar sem pagar
indeminizações correspondentes ao investimento inicial do estado. Não devemos
esquecer o caso de muitas empresas ligadas por exemplo ao calçado e ao
vestuário que se deslocalizaram para outros países com mão-de-obra mais barata,
criando elevados índices de desemprego nas áreas onde estavam instaladas,
criando uma forte retração no desenvolvimento desses locais.
Paulo Azevedo
Bibliografia
Sites:
http://alencastre.ipapercms.dk/SAPPortugal/sapclubportugal/n37/?Page=40
consultado em 22 de Abril de 2012.
http://www.drapc.min-agricultura.pt/base/documentos/bol_informativo_10_1109.pdf
consultado em 22 de Abril de 2012
http://expresso.sapo.pt/mira-socrates-inaugura-unidade-da-pescanova-com-orgulho-na-administracao-portuguesa=f522024
consultado e 17 de Abril de 2012
http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=683482
consultado em 17 de Abril de 2012
http://portal.icnb.pt/NR/rdonlyres/064A6C30-12C6-4EA9-B4F8
AE3F420135BE/0/SIC_Dunas_Mira_Gandara_Gafanhas.pdf consultado em 17 de
Abril de 2012
Legislação:
Decreto-Lei n.º 174/2008 de 26 de Agosto
Decreto-Lei n.º 76/2011 de 20 de Junho
(artigo de opinião produzido no âmbito da
unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em
Geografia, do ICS/UMinho)
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