A regionalização surgiu no sistema político português em
1976. Fazia parte de um projeto que visava a descentralização do Estado
português, interpretada como um caminho fundamental na consolidação das
aspirações democráticas que teve o seu início com o fim do Estado Novo.
Apesar de consagrada na Constituição da República Portuguesa
em 1976 nos artigos 238o, 256o e seguintes, com o passar
dos anos e com um sistema político-partidário cada vez mais fervoroso, a
regionalização começou por esbarrar em contradições e impasses que levaram a um
sucessivo adiamento, que culminou com a alteração na constituição deste
processo ambicioso de reforma estatal que inviabiliza praticamente a sua
aplicação.
Numa altura em que muito se tem debatido e opinado sobre o
Documento Verde da Reforma da Administração Local, questiono-me se num contexto
em que as regiões administrativas fossem uma realidade nacional, se as
disparidades e a falta de coesão económica seriam tão evidentes como são nos
dias de hoje. A intervenção externa que assiste económica e financeiramente
Portugal propõe diminuir o número de freguesias e com isso fazer uma redução
drástica nos custos. Apesar de não ser admitido pelo ministro que tutela esta
pasta, esta reforma vem no meu entender apoiar o ideal da regionalização, em
que é necessária maior autonomia para os municípios, impondo ao mesmo tempo
maior rigor nas contas que cada um terá que efetuar. Mas as grandes questões que
se impõe são: de onde é que vêm os apoios financeiros para as regiões? E como é
feita essa mesma distribuição de fundos?
A regionalização proporcionaria às regiões um desenvolvimento
mais elevado e mais sustentado e com maior proximidade, algo que o sistema
atual não permite devido à ausência de conhecimento da realidade local. Para se
desenvolver um país, não se pode apenas devolver determinadas regiões,
apresentá-las perante o exterior como sendo o seu todo nacional. É necessário
olhar para todo o território que com muito sangue derramado foi conquistado há
muitos séculos atrás. É necessário apoiar as regiões que estão mais afastadas
dos grandes aglomerados urbanos e desenvolver estas. Como é do conhecimento
geral, com o sistema administrativo em vigor estas regiões nunca serão
desenvolvidas. É por isso necessário que se veja uma nação que não obstante as
diferenças culturais, até de certa forma linguísticas, representa uma singular
identidade nacional.
Em termos de regionalização mas não só nesta matéria, o que
assistimos em Portugal é a uma diferença de planos que têm também diferentes
ritmos de atuar. Existe uma grande diferença entre o discurso e a prática. Acredito
que não seja só no nosso país que isto aconteça, e apesar de muitas das vezes
nos darmos por habituados e a um certo conformismo por este tipo de atuação, o
certo é que muito dos discursos se tivessem sidos colocados em prática,
provavelmente neste momento estaríamos noutro patamar tanto a nível regional
como a nível nacional. A regionalização fazendo parte das coisas da lógica,
nunca fez parte da lógica das coisas, e na altura em que aconteceu em Portugal
um referendo, a campanha que se assistiu baseou-se na má informação às pessoas
sobre o que implicava realmente todo este processo, acabando assim por, a
quando do momento de decisão por parte da população, este projeto não ser
viabilizado.
Atualmente, para que este processo seja posto em prática é
necessário efetuar um referendo a nível nacional, seguido de um a nível local,
o que torna muito difícil a sua aprovação.
A descentralização do
poder poderá ser vista como um passo para o crescimento regional, que por sua
vez impulsiona o crescimento económico, passando assim o governo central a
estar liberto de determinadas funções, focalizando-se assim noutras matérias
que visem a sustentabilidade financeira e económica do país, e por outro lado
as regiões passam a deter maior autonomia e liberdade de ação. A
responsabilidade passará a ser mais elevada, mas penso que uma organização
administrativa por regiões levará a um crescimento mais sustentado e
equilibrado.
Em suma, o avanço neste
sentido passa acima de tudo e primeiramente por uma mudança de mentalidade, não
só a nível político mas também de toda a sociedade. É necessária uma maior
interação entre governos e população, dando assim uma maior ação participativa à
sociedade e a oportunidade desta contribuir para o desenvolvimento regional e
nacional. Uma reforma administrativa através de regiões seria uma oportunidade
muito interessante para o desenvolvimento nacional.
Sérgio Soares
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