sábado, maio 05, 2012

Viagem Medieval de Santa Maria da Feira – uma aposta certeira

A Viagem Medieval de Santa Maria da Feira aconteceu pela primeira vez em 1996, na Praça d´Armas do Castelo, recreando acontecimentos e episódios que marcaram a história nacional da idade média, mas rapidamente prosperou e na sua XV edição (2011) ocupava já todo o centro histórico de Santa Maria da Feira.
Este evento é, na minha opinião, o maior evento recreativo da época medieval em Portugal. Não posso dizer que fui a todos, mas ao longo dos últimos dez anos participei nos mais sonantes e não há nenhum que se lhe compare na dimensão, na caracterização, nem mesmo no investimento feito, quer ao nível financeiro, quer no que toca a capital humano. De acordo com o website da autarquia, “este projecto diferencia-se pelo rigor histórico, dimensão (espacial e temporal) e envolvimento da população e o associativismo local”.
Na maior parte dos eventos desta natureza, os artesãos, feirantes e comerciantes, são os mesmos, contudo o espaço dinamizado em Santa Maria da Feira é enorme, podendo albergar uma quantidade de “estabelecimentos” muito maior. De acordo com a organização do evento, que resulta de uma parceria da autarquia com Federação das Coletividade de Cultura e Recreio da Feira, a última edição, em 2011 teve, durante os dez dias da Viagem Medieval, mais de meio milhão de visitantes. É um número surpreendente, se considerarmos que é equivalente a um vigésimo da população nacional.
Contudo a Viagem Medieval, como muitos eventos desta natureza, enfrenta problemas de sustentabilidade, situação que no último ano foi contrariada com a cobrança do valor simbólico de €2 referente a uma pulseira, que era de aquisição obrigatória em determinados horários. Muitos foram os protestos e vários autóctones se insurgiram contra esta medida, criando blogues e intervindo na comunicação social, afirmando que seria um entrave à participação de turistas e que esta acção levaria a um enorme decréscimo nos visitantes.
Ora, Paulo Sérgio Pais, administrador do evento afirmou que era expectável a venda de 200 mil pulseiras e que no final tinham vendido 229 mil, superando assim as expectativas. Atestou ainda que “a entrada paga não teve qualquer efeito no número de visitantes nas áreas temáticas pagas”, bem como o aumento na venda de merchandising, que quase duplicou de 2010 para 2011. No seguimento desta linha de pensamento, foi ainda assegurado que este valor significa que a Viagem Medieval atingiu no ano de 2011 a sua auto-sustentabilidade económica, em que a receita das pulseiras cobriu a parte da Câmara Municipal, retirando assim do orçamento camarário este encargo.
Julgo que esta medida prova duas coisas: a primeira, é que num ano de crise económica, Santa Maria da Feira soube aproveitar as suas qualidades organizacionais e não foram os €2 cobrados pela pulseira, que afastaram os interessados em integrar esta iniciativa; em segundo lugar, acredito que o valor cobrado, que é claramente simbólico, não é selectivo de público, tornando acessível a todos a vivência de um imaginário que nos transporta para os tempos áureos da grande nação que é Portugal.
Não obstante a continuação da realização desta Viagem Medieval e de tantas outras iniciativas do género, que acontecem um pouco por tudo país, na tentativa de afirmar o rico património histórico e cultural das mais diversas localidades, creio que urge repensar a realização de tantos eventos medievais por esse país fora, visto que se torna uma pouco exaustiva a aposta nesta temática.
Como um óptimo exemplo disso, ressalvo exactamente o concelho da Vila de Santa Maria da Feira, que diversificou nestes últimos 10 anos a sua oferta cultural, criando diversos eventos ao longo do ano, que tornam sustentável o turismo local. Destaco assim, a “Festa das Fogaceiras”, os “Encontros com a música” e o “Imaginarius – Festival Internacional de Teatro de Rua”. Este último decorre já no próximo mês de Maio e tal como a Viagem Medieval é uma aposta ganha da autarquia, que traz ao concelho milhares de turistas durante a sua realização.

Jorge Carneiro Leão


(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)

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