O vasto desenvolvimento que o turismo cinematográfico adquiriu nas últimas
décadas relaciona-se com motivações das diversas comunidades em redor do mundo em
adquirir novas experiências sociais, gastronómicas e geográficas, baseando-se em
filmes e séries.
O diverso leque de visitantes que anualmente partem para locais alvo de
gravações cinematográficas tem vindo a aumentar. O estímulo passa por “viver
uma experiência” completamente distinta do que estão acostumados na rotina do
seu dia-a-dia. Por diversos dias entram numa realidade dissemelhante,
transportados para uma história fictícia, que os marcou significativamente ao
ponto de procurarem revisitar espaços em pessoa, outrora vistos através de um
ecrã.
É assim que o turismo cinematográfico se desenvolve no mundo, transformando
locais em espaços de louvor turístico. É ambicionado pela “sociedade das
experiências”, e fornecido pelo destinatário, que procura desenvolver a sua
imagem enquanto destino turístico com valor distinto dos demais.
É estimulado pela curiosidade do visitante, pela indústria do
entretenimento, pelo aumento das viagens internacionais, pelas páginas oficiais
nas redes sociais que exercem não só um papel de proximidade com o público, com
pequenos trechos de gravação, ou interação do elenco com os fãs, mas também
como a forma mais rápida e económica de fornecer informação ao público.
Escolhi como exemplo de turismo cinematográfico a série televisiva
“Outlander” e o seu efeito na Escócia. Quando a escritora Diana Gabaldon redigiu
o que viria a ser o seu best-seller,
não imaginava o impacte que os livros e posterior série teriam para o turismo e
desenvolvimento das áreas rurais escocesas. Segundo o website oficial “Visit Scotland”, a série aumentou em 67% o seu
turismo nas áreas filmadas.
A série relata a história de Claire Randall, enfermeira durante a 2º Guerra
Mundial, que decidiu viajar com o seu marido, historiador, Fran Randall, para a
Escócia, no final da guerra. Após tocar numa pedra mágica, Claire recua 200
anos no tempo, sozinha no ano de 1743, durante as rebeliões jacobinas. É nesta
realidade que conhece o jovem guerreiro escocês Jamie Fraser e Jonathan
Randall, um antepassado do seu marido e capitão inglês.
A série foi gravada em vários espaços escoceses situados entre as cidades
de Culloden, Inverness e Stirling, com oportunidade de conhecer o espaço da
famosa Batalha de Culloden, em 1746, onde as tropas jacobinas escocesas
enfrentaram o exército inglês, o Castelo de Doune, o Castelo de Urquhart, os
longos prados escoceses, e até mesmo as Pedras Callanish.
Figura 1 - Elenco no Castelo de Midhope,
Escócia
A presença do turismo cinematográfico nesta região da Escócia desenvolveu
gradualmente os diversos espaços, deu a conhecer a cultura, as músicas,
tradições e a gastronomia presentes nas gravações da série. O Castelo de Doune
viu os seus números de visitantes passarem de 38 mil para 142 mil visitantes
anuais, já o Hotel Covenanter, cenário de rodagem dos primeiros episódios, viu
as suas reservas aumentarem. De forma a estimular o interesse e maximizar o
tempo dos turistas, foram criadas rotas de viagem pelos lugares de gravações da
série, divididas pelas quatro temporadas.
Os impactes positivos de Outlander para a Escócia a nível socioeconómico e
ambiental foram variados. Em concreto, a série gerou o desenvolvimento de
infraestruturas existentes e a criação de outras que geraram oportunidades de
emprego locais, melhorando a qualidade de vida dos locais, e aumentou a
preservação do património material e imaterial escocês e respetivas tradições
relacionadas com a linguagem, os costumes e os saberes, justificando a sua
proteção.
A nível económico a série atraiu turistas de várias partes do mundo,
realidades económicas distintas, que usufruíram de serviços locais (acomodação,
comida local, presentes). Estes serviços beneficiam a economia local e o
governo escocês, graças às taxas em cada ofício.
Figura 2 - Elenco nos prados escoceses
O cine-turismo acarreta desvantagens, como a enchente de pessoas em
diversos espaços ambientais e históricos, que prejudicam inconscientemente ou
conscientemente os espaços. Para além disso, trata-se de um turismo
maioritariamente sazonal, podendo resultar num desenvolvimento económico
desequilibrado e não equitativo, anualmente.
O turista
cinematográfico advém de diferentes contextos socioeconómicos, de faixas
etárias distintas e diferentes graus de fanatismo.
Tem reflexos do desenvolvimento local
e, simultaneamente, podem ser uma ameaça ao mesmo. Contudo, têm todos uma
ligação: o desejo de conectarem-se com um mundo distinto do real, vivenciarem
uma experiência distinta, visitando lugares físicos,
tentando voltar a um mundo ficcional.
Diana Inês de Castro Mendes
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
Sem comentários:
Enviar um comentário