Considero
que é escassa a informação relativa a estes ritos pagãos quer do nosso concelho
quer de outras regiões, em geral. Há alguns apontamentos que fazem remontar à
Grécia Arcaica (deus Dionísio, patrono do vinho e do seu cultivo) a origem do
Carnaval, sempre em torno de festejos que honravam a colheita, comemorando-se
com alegria o ato de comer e beber indispensável à existencia humana.
Com
a proliferação do cristianismo, foram impostas algumas regras sociais, nomeadamente,
a abstinencia e jejum em tempo quaresmal (quarenta dias que antecedem a Páscoa),
em contraponto à euforia e manifestações populares relativos ao Carnaval. São
hoje considerados esses eventos como fazendo parte de todo um património
intangível e imaterial. Nesta sequência, considero a tradição da Queima do
Galheiro, que acontece na freguesia de Fradelos, no concelho de Vila Nova de
Famalicão, uma celebração do Carnaval pagã e única.
Todos
os anos, desde que há memória, realiza-se em Fradelos, uma das quarenta e nove
freguesias de Vila Nova de Famalicão, a tradicional Queima do Galheiro. Em cada
cruzamento ou largo desta freguesia, a população reúne nestes sítios restos de
mato, galhos das sementeiras e silvados, em redor de um tronco de pinheiro –
galheiro - em forma piramidal, que é encimada por um boneco de palha denominado
de “entrudo”. Esta rima de restos agrícolas e florestais será queimada para gaúdio
dos moradores, após as 21h, no dia do Entrudo (dia de Carnaval). Os moradores
juntam-se em redor da fogueira, num rito perfeitamente pagão, dançam, cantam,
bebem e dão largas à euforia que antecede o tempo quaresmal. Esta atividade
assinala, por isso, o início e o fim de ciclos religiosos e das colheitas, atraíndo
hoje em dia um número cada vez maior de visitantes.
Esta
atividade é desenvolvida em Fradelos nos últimos vinte anos pela KOKLUS, uma
associação cultural de Fradelos que, em conjunto com a população, tem mantido
ativa esta tradição, não a deixando cair no esquecimento.
No
âmbito da estratégia de valorização de produtos endógenos e patrimónios
intangíveis, preconizado pelas Comunidades do Alto Minho, Cávado e Ave,
organizados na associação Minho Inovação, que tem o apoio de Norte 2020 e do
FEDER, o Município de Vila Nova de Famalicão tem incentivado e dinamizado esta
iniciativa integrante do património imaterial do concelho.
Luís Miguel Cardoso Pinho
Ferreira
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
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