É recorrente na
literatura académica que a ampliação do conceito de património a partir da
incorporação da perspetiva antropológica de cultura fez emergir novas
possibilidades, desafios e questões, entre os quais a dimensão da
patrimonialização do imaterial. A popularidade de Iemanjá, sempre
descrita com palavras de afeto mesmo por aqueles que não praticam as religiões
de matriz africana, fez dela a divindade mais festejada em todo o Brasil. De
norte a sul, são inúmeras as festas, algumas bem famosas, como a do dia 2 de
fevereiro, em Salvador.
No Brasil, uma
metodologia foi desenvolvida visando traduzir num dossiê escrito e com
documentação audiovisual expressões culturais imateriais passíveis de serem
reconhecidas como património. Trata-se do Inventário Nacional de Referencias
Culturais (INRC), que busca coordenar os processos de produção desses bens, dos
valores neles investidos, de sua transmissão e reprodução, bem como de suas
condições materiais de produção.
Devido
a ser evidente a dificuldade de traduzir em documentação material, a análise
dos processos de Inventários e Registro de Festejo, como o de Iemanjá, é
realizada pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Nesse processo, uma consulta ao Conselho Consultivo do Património Cultural pode
ser solicitada, para fins de avaliação de uma possível patrimonialização.
É
preciso chamar a atenção para o fato de que ao se contemplar uma manifestação
cultural de caráter religioso, é preciso entender-se que a noção de
religiosidade é complexa, dinâmica e não pode ser vista de forma taxativa. Ao
classificar, é preciso distinguir quais as especificidades dessa tradição
religiosa.
A Festa, que ocorre no bairro do Rio Vermelho, em Salvador,
acontece desde 1974, porém, o cortejo é realizado pelos pescadores desde 1920.
A celebração começa pela manhã do dia 2 de fevereiro, com uma procissão, onde
vários fiéis e simpatizantes do Candomblé andam pelas ruas, e esta finaliza-se
na praia. Depois, ocorre a entrega das oferendas pelos pescadores a Iemanjá. Os
responsáveis pela pescaria vão de barco, por volta das 16h, e realizam a
entrega das lembranças. Normalmente, as prendas oferecidas são: perfumes,
flores, velas e até champanhe.
Em fevereiro de 2020, a tradicional
Festa de Iemanjá em Salvador foi promovida a Patrimônio Cultural, durante ato
solene realizado na Colônia de Pescadores do bairro do Rio Vermelho. A
formulação de um plano de salvaguarda é algo que está sendo elaborado, com a
finalidade de promover ações de apoio para que os saberes e fazeres ligados à
manifestação sejam preservados e transmitidos, e este receberá o apoio, com o
reconhecimento da prefeitura, da Fundação Gregório de Mattos (FGM).
De
acordo com o presidente da FGM, Fernando Guerreiro, a entidade recebeu a
solicitação do reconhecimento da festa pela OAB. Posteriormente, o Conselho
Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou, o prefeito ACM Neto assinou e a
manifestação foi reconhecida como Patrimônio Cultural de Salvador. Atualmente, a festa recebe cerca de 700 mil pessoas na
praia do Rio Vermelho, e atrai pessoas de toda parte do país e do mundo.
Wanessa Batista Menezes[1]
Bibliografia
BAHIA
NO AR. Festa de Iemanjá é reconhecida como Património
Cultural de Salvador. Disponível em:
https://bahianoar.com/festa-de-iemanja-e-reconhecida-como-patrimonio-cultural-de-salvador/.
Acesso em: 10/04/2020.
SANT’ANNA, Márcia. (2009). A face
imaterial do patrimônio cultural: os novos instrumentos de reconhecimento e
valorização. Rio de Janeiro: Lamparina.
IPHAN. (2009). Chamada Pública.
Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1019/. Acesso em: 25/03/2020.
UNESCO.
(1989). Recomendação sobre Salvaguarda da Cultura Popular e
Tradicional. Disponível em:
. Acesso
em: 01/03/2020.
UNESCO.(2003). Convenção
sobre a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial. Disponível em: .
[1] Aluna do Mestrado
em Património Cultural na Universidade do Minho. Licenciada em História pela
Universidade Católica de Santos em 2007. Ensaio realizado no âmbito da Unidade
Curricular Património
Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional.
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