O que pensa
o(a) caro(a) leitor(a) quando pensa no Algarve? Praias? Hotéis? Bares repletos
de turistas estrangeiros, quiçá? Pois bem, existe um outro Algarve,
desconhecido para grande maioria dos forasteiros, sobre o qual me irei
debruçar. Fá-lo-ei sem recorrer a qualquer revisão de literatura, pois trata-se
de uma temática que me é familiar.
Alcoutim
Fonte: visitportugal.pt
Procurada
pelo belíssimo litoral que possui, a região algarvia é, porém, constituída por
outras duas zonas: barrocal e serra. São estas duas zonas que passam
despercebidas para aqueles que, pretendendo chegar às convencionais zonas
turísticas, desbravam a região através de uma autoestrada que não faz justiça à
paisagem que corta. Com a típica obstinação única por praia e sol, os viajantes
acabam, assim, por perder a oportunidade de contemplar uma área que é
turisticamente negligenciada.
Sim, ao
contrário do que se possa imaginar, o interior algarvio é rico, estética e
culturalmente, podendo facilmente digladiar com a beleza do litoral. Por aqui, é
possível encontrar pequenas vilas, bonitas serras e imensas zonas naturais, muitas
delas áreas protegidas, detentoras de uma vasta fauna e flora. Resumindo, uma
realidade que não é publicitada ou divulgada. São imensos, e cada vez mais os spots publicitários relativos ao Algarve,
muitos deles até são transmitidos no estrangeiro, mas a verdade é que são raros
(senão inexistentes) aqueles que mencionam o valor intrínseco das zonas mais
distantes da costa. Pessoalmente, fico com a sensação de que esta região está essencialmente
focada em promover praias e campos de golfe.
Monchique
Fonte: postal.pt
Claro que
esta divulgação é importantíssima para a região. Disso não haja dúvida. A
questão é que se trata de uma estratégica meramente sazonal, que se traduz na
ausência de afluência turística no restante período do ano. Embora se tenha revelado
preponderante, se esta publicidade não contempla o restante território, não
podemos esperar que o turismo progrida de maneira equitativa na região. Ora, e se
os próprios portugueses não são conhecedores daquilo que o seu país tem para
oferecer, como esperar que os turistas estrangeiros, representantes de uma
grande parcela das receitas obtidas na região, estejam cientes do quão
diversificado é o Algarve?
Com mais de
trezentos dias de sol por ano, e sendo tão dependente do setor como é, explorar
turisticamente o restante Algarve traduzir-se-ia num maior desenvolvimento
regional, somando-se a isso milhares de postos de trabalho salvos da sempre
temida época baixa. Para tal, e começando pelas autarquias, entidades
responsáveis devem unir esforços em prol da região e dos respetivos habitantes.
Alte
Fonte:
algarvefantastic.com
Se são
necessárias provas em como este tipo de iniciativa pode ter sucesso, basta
observar aquilo que se passa no Alentejo, região essa que se tem vindo a tornar-se
num verdadeiro refúgio para muitos, principalmente para aqueles que procuram
uma alternativa à realidade stressante e caótica que vivenciam o resto do ano.
Sabemos que
“interior” habitualmente significa inexistência de investimento e de
publicidade, mas estamos a falar de uma aposta que se poderia revelar rendível
a médio ou longo prazo. Tal como nem sempre o litoral algarvio teve os recursos
e as infraestruturas que tem, até porque, outrora, era essencialmente composto
por vilas piscatórias, se queremos maximizar o potencial turístico de uma região,
temos de lhe fornecer as ferramentas necessárias. Para tal, é imperial uma
gestão responsável, que priorize, acima de tudo, a sustentabilidade. Utilizar
corretamente os recursos humanos e naturais disponíveis é, aqui,
imprescindível.
Eliano Costa
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)
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