Todos os territórios são mais que um
espaço geográfico. Estes detêm em si recursos naturais, edificações
patrimoniais, eventos e festividades, produtos artesanais que representam o
modo de vida das populações residentes. Sabemos que as caraterísticas de um
território funcionam como atrativo turístico e que muitas cidades, vilas e
aldeias têm conseguido rendibilizar os seus recursos de uma forma sustentável. Sendo
o território uma rede de interesses de uma comunidade, há que aproveitar o saber fazer das populações e a sua mão-de-obra
especializada em determinados produtos artesanais e deste modo inserir-se no
setor do turismo criativo.
0 conceito de turismo criativo
consolidou-se como alternativa ao turismo de sol e praia e ao turismo cultural
demasiado massificado, que não serve ao turista que pretende não apenas
observar mas participar, envolver-se, adquirir experiências e saberes em
interação com a população do território visitado. A definição deste conceito é apresentada por
teóricos como Greg Richards e Julie Wilson e, em 2006, a UNESCO, atenta às
atividades turísticas, propõe também uma definição para este setor do turismo
considerando-o como: “Uma viagem voltada para uma experiência engajada e autêntica,
com a aprendizagem baseada na participação nas artes, no património, ou no caráter
especial de um lugar e com a conexão que este fornece com os que lá residem e
com a sua cultura viva”[1].
Assim fica explícito que a UNESCO encontra nesta nova geração de turismo uma
forma de interligação entre várias atividades, que vão desde as novas
tecnologias até às tradições e outros aspetos da cultura material e imaterial.
Com aquele propósito, a UNESCO criou,
em 2004, a Rede de Cidades Criativas, com o objetivo de promover o
desenvolvimento social, económico e cultural de várias cidades dispersas pelo
mundo, pretendendo alcançar a sustentabilidade urbana através do uso adequado
dos recursos que cada uma possui. Em Portugal, existem alguns municípios com o
título, como Idanha a Nova e Óbidos (desde 2015) e, mais recentemente, Barcelos
( 2017). Esta cidade sustentou a sua candidatura no facto de a comunidade
criativa local possuir um reconhecimento nacional importante, ser uma referência
no artesanato e desejar promover em redes internacionais as boas práticas e o
“know how” adquiridos ao longo de séculos.
Numa visita aos sítios do município e
do posto de turismo de Barcelos encontram-se várias ligações que remetem para a
Cidade Criativa do Artesanato e das Artes Populares, nomeadamente a criação de
rotas ligadas a várias áreas das artes e ofícios da região, entre elas a rota
do figurado, da olaria, dos bordados e da tecelagem, do ferro, da madeira e a
da cestaria e vimes. Nelas estão sinalizados artesãos, endereços físicos e redes
socias e localização gps das suas oficinas.
O museu da olaria está situado no
centro histórico da cidade e, além de albergar exposições permanentes e
temporárias sobre o figurado de Barcelos e os seus mais reputados artesãos,
dispõe no serviço educativo do museu de wokshops
destinados a crianças e jovens, seniores e famílias, no sentido de sensibilizar
a comunidade local sobre práticas artesanais antigas da região. Esta
oportunidade é estendida a grupos de visitantes que, com marcação prévia, podem
realizar a visita ao museu e participar na oficina de cerâmica com a modelagem
do barro e pintura de uma peça, como, por exemplo, o ex-libris da cidade – o
galo de Barcelos.
Estudos realizados, como Os impactes uma aproximação exploratória ao
caso de Barcelos, da autoria dos professores J. Cadima Ribeiro e Paula
Remoaldo, comprovam que o turismo tem aumentado significativamente, graças a
fatores como o Caminho de Santiago, o touring,
que cresceu e envolveu cidades muito próximas, e que determina que algumas
empresas de animação turística visitem Barcelos à quinta-feira para que os
turistas experienciem um evento local – a feira semanal.
É essencial aproveitar a marca e o
trabalho deixado pela candidatura e título da UNESCO e criar, fomentar e
promover iniciativas criativas que possam atrair mais turistas à procura da
envolvência com as práticas artesanais da região.
Além do exemplo de Barcelos, há outra
região do Baixo Minho que, há algum tempo, tem práticas de turismo criativo. O concelho
da Póvoa de Lanhoso, conhecido pelas oficinas de filigrana, tem identificados dois
núcleos - Oficina do Ouro em Sobradelo da Goma e Museu do Ouro em Travassos - onde
o turista pode visitar as aldeias e o meio envolvente de natureza, conhecer o
museu ligado à transformação do ouro, aprender e interagir com os ourives/artesãos
em todo o processo e técnicas aplicadas na filigrana. Nestes espaços, há a
possibilidade de compra de objetos que também estão disponíveis online em lojas que albergam marcas
tradicionais portuguesas, promovendo assim práticas e produtos artesanais
portugueses a nível internacional.
O turismo criativo é, sem dúvida, um
nicho de mercado a explorar e a sua difusão no país deverá merecer um maior
interesse e empenho dos responsáveis locais.
Susana Ferreira
Bibliografia
BALEIRAS, Rui Nuno (Coord.), 2011,
Casos de Desenvolvimento Regional, Princípia Editora, Cascais.
Webgrafia
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
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