Foto: Madi
Robson
O
turismo tem em si imensas e inúmeras vertentes: há quem o faça por fé, quem o
procure por descanso, quem vá ao encontro de novas culturas ou até,
simplesmente, quem deseje aprofundar o seu conhecimento e ter novas
experiências. Interesses sociais são igualmente motores de viagem, de ida, de
turismo. A necessidade de se transformar a si e aos outros faz com que exista
um nicho de mercado que procure este tipo de aventura para realizar
voluntariado.
Estes
consumidores que pretendem uma mudança para si mesmos e deixar uma marca aos
outros, que utilizam o seu tempo disponível em prol dos mais necessitados, seguem
a máxima de que conhecer os lugares ajudando outras pessoas é uma experiência
altamente transformadora. Eles usam as suas “férias” para concretizar o chamado
Turismo Voluntário, que nada mais é que uma forma de viagem alternativa, em que
o indivíduo paga uma taxa para participar em vários tipos de trabalho
voluntário (Mostafanezhad, 2013, citado por Kipp, 2020). É também conhecida
como uma jornada sustentável, que se baseia no altruísmo e no desenvolvimento
pessoal de quem vai e na evolução da região e da comunidade que recebe estes
visitantes do bem (Caldas, 2020).
Embora
a vontade seja uma condição necessária, esta não é suficiente. É preciso um
pouco mais para se estar apto a ir nesta jornada. São efetuados processos de
seleção para a escolha das pessoas com aptidões e caraterísticas que vão de
encontro às necessidades do local e das pessoas que se pretende auxiliar. A
língua pode ser um requisito fundamental: se esta viagem for internacional, um
nível de inglês intermédio ou avançado pode ser um fator determinante na
escolha do candidato a voluntário.
O
que todas estas expedições têm em comum é a necessidade de o aventureiro ter de
contribuir com algum dinheiro para fazer face às despesas inerentes a este
projeto, desde estadia a alimentação facultadas desta forma pela organização. Isto
serve para que este tipo de atividades sejam totalmente viáveis e que toda a
liquidez que as agências têm para investir nestas ações seja inteiramente
alocada na comunidade auxiliada.
Como
já referido, existem vários tipos de actividades colocadas à disposição e que
são escolhidas de acordo com as preferências e as causas que os voluntários
querem representar. Para quem tem uma preferência pela causa animal, pode
realizar esta deslocação para recuperação dos mesmos. Se existir uma melhor
preparação e ligação com crianças, a ação pode passar por lhes dar aulas ou até
aproxima-las do desporto, artes ou outras áreas. A saúde também pode ser
escolhida para este tipo de turismo, dando o seu contributo em clínicas e
hospitais. O auxílio pode passar ainda pela construção de casas e edificações
necessárias à sobrevivência e qualidade de vida de cada um, mas, para além de
amontoar tijolos, estas iniciativas servem para revirar mentalidades e levar,
por exemplo, o empoderamento feminino a lugares onde este nunca foi tema de
conversa.
Existem
algumas entidades que fornecem estas oportunidades em Portugal, uma delas é a ImpacTrip. Esta remota a 2015 e surgiu com
o desejo de alterar a forma como as pessoas viajavam, tornando esta situação
num momento com impacto social e ambiental positivo. O objectivo base é
facilitar a conexão entre voluntários e habitantes locais, tornando possível uma
experiência cultural para uns, os voluntários, e um enriquecimento da qualidade
de vida das comunidades que os recebem. Outra organização que dispõe deste tipo
de serviço é a “Para Onde?”, uma
associação sem fins lucrativos que nasceu em 2016 com a premissa de serem
criadas oportunidades, quer a nível local, nacional ou internacional, onde pessoas
diferentes se possam conhecer, encontrar e lutar por um mundo mais justo.
É
uma vida por uma vida, uma transformação, uma boa ação que muda a verdade de quem
mais necessita. É um intercâmbio de conhecimentos que altera mentalidades, que
abre portas a um futuro e a oportunidades nunca antes pensadas. Turismo
Voluntário é isto: vidas que mudam vidas, as delas próprias e as dos outros.
Sandra Matos
Referências Bibliográficas:
Caldas, I., Machado, H., & Sousa, B. (2020). Um olhar exploratório
sobre o Turismo Voluntário An exploratory study on Voluntary Tourism.
15–30.
ImpacTrip. Retirado em https://impactrip.com/ (último acesso:
25/03/2020)
Kipp, A., Hawkins, R.,
& Gray, N. J. (2020). Gendered and racialized experiences and
subjectivities in volunteer tourism. Gender, Place and Culture,
1–21.
Para Onde?. Retirado em http://paraonde.org/ (último acesso:
25/03/2020).
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2019/2020)
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