Mais atual do que
nunca, o turismo sustentável se relança na atualidade como uma das soluções
para garantir que as futuras gerações conheçam a natureza da forma como nós a
conhecemos hoje. Esse fato é pertinente uma vez que o turismo de massas
tornou-se nos últimos anos uma atividade com grande potencial de impacto
ambiental negativo em diversas regiões do mundo, onde se valoriza o retorno
financeiro acima da proteção do meio ambiente.
Mas antes de mais
nada, é preciso entender tudo o que abrange o turismo sustentável. Embora
pareça fácil de entender esse termo, ele é mais complexo e abrangente do que se
parece.
O turismo
sustentável pode muitas vezes ser confundido com outras denominações
turísticas, como ecoturismo, turismo de natureza, turismo rural, turismo verde,
entre outros, que se resumem basicamente na sadia interação do visitante com a
natureza. Porém, o turismo sustentável vai além de proteger apenas as áreas
naturais de um determinado local, ele “busca a manutenção de um equilíbrio
entre os três eixos básicos nos quais se apoia: suportável ecologicamente,
viável economicamente e equitativo desde a perspectiva ética e social”.[1]
Nesse sentido, o turismo
sustentável contribui para o meio em que está inserido de uma maneira
holística, considerando não só a natureza mas, com a mesma importância,
considera a economia local, sua cultura, além do bem-estar de cada indivíduo
inserido no seu contexto. Assim, é possível dizer que o turismo sustentável
contribui para a preservação de bens naturais, econômicos e culturais.
Desde muito tempo,
percebe-se um movimento por meio de ministérios do turismo em diversos países
com a finalidade de diminuir os impactes causados pelo número elevado de
turistas em suas cidades. É o caso da iniciativa “passaporte verde”, presente
em diversos países. É uma campanha coordenada pelo governo francês.
Implantada no
âmbito das Nações Unidas, no Brasil é coordenada através dos ministérios do
turismo (MTur) e meio ambiente (MMA). Com nome de Projeto Férias Sustentáveis,
o programa visa qualificar a cadeia produtiva do turismo, a implementação de
estrutura básica e turística, ações de educação ambiental, além de incentivar o
turista a consumir de maneira mais consciente e, assim, reduzir os impactes.
Para isso, se utiliza de comunicação ativa, além de materiais que auxiliam o
visitante a melhorar suas condutas enquanto turista, nomeadamente, reutilizar
as toalhas no hotel, reduzir o consumo de água, escolher hotéis e restaurantes
que também possuam práticas sustentáveis.[2]
Ainda nesse
contexto, existem iniciativas ainda mais atuais e ambiciosas na conscientização
da proteção ambiental e social dos locais que se visitam, como exemplo, a
Travalyst, cujo slogan é “viajar como
um catalisador para o bem”. Idealizada por nomes como Príncipe Harry e grandes
potências mundiais no ramo de viagens, Booking, Skiscanner, Trip, Tripadvisor e
Visa, a ideia é fazer com que todos os viajantes entendam a responsabilidade
pelos seus impactes em viagens, e com isso fazer com que mudem a sua visão de
mundo e passem a ser provedores de mudanças reais por onde passam.[3]
Claro que a ideia
é demasiado ambiciosa, se não utópica, mas acredito que se não for feito algo
“ontem” os problemas continuarão sem nenhum caminho para a solução. Usar das
influências que possue esse grupo, para tornar físico um problema aparentemente
invisível até então, é no mínimo esperançoso quando se pensa em turismo
sustentável. Com uma voz que pode ir mais longe, é possível fazer chegar a quem
só tinha olhos abertos para as belezas locais a serem exploradas, no real
sentido da palavra. E não digo isso como uma crítica. Muitas vezes, ao querer
saber mais, são encontradas apenas boas informações a respeito da cidade que se
quer visitar, claro, só se vende o que é bom. É investigando mais profundamente
e muitas vezes em loco que é possível ver os efeitos negativos sofridos pela
população, que geralmente ficam afastadas dos grandes centros visitados.
Na Cidade do Cabo,
na África do Sul, em 2011, por exemplo, a poucas quadras de um luxuoso hotel,
era possível ver montanhas de lixo à beira da estrada e, mais afastado, no
caminho de algum passeio, era possível ver famílias caminhando e pedindo boleia
ao longo da estrada por não existir transporte público. Ainda mais distante, grande
número de famílias vivia em containers
em terrenos sem qualquer estrutura de moradia, onde o esgoto corria pelo meio
das moradias improvisadas.
Mesmo anos depois
da copa do mundo ocorrida na cidade, conhecida como cidade de lata, nessa
comunidade, a condição das famílias não mudou em nada[4], o que nos
levanta uma importante questão: além das ferramentas que já temos que nos
possibilita ser um turista consciente, como cobrar ações efetivas nos casos em
que as políticas públicas falham?
No contraponto do
exemplo acima, cito Dubai, onde tudo parece funcionar como uma orquestra. E não
importa de onde você veio ou quanto dinheiro tenha, é proibido que homens e
mulheres andem de mãos dadas ou troquem qualquer intimidade em público, além de
ser proibido o consumo de bebidas alcoólicas das 17:00 às 18:00 horas, quando a
música ambiente em qualquer parte também é substituída por suas rezas. O
turista consciente obedecerá às regras por entender que isso tudo faz parte
dessa cultura, já o turista desinformado reclamará de tais regras por se achar
acima da cultura e por vezes tentará desobedecer.
Assim, concluo que
tão importante quanto políticas públicas que contribuam para um turismo
sustentável, é um turista consciente de suas ações, que será capaz de
aproveitar cada local e as experiências que eles podem proporcionar, sem com
isso contribuir para a degradação dos espaços físicos e desigualdade na
distribuição da renda que ele gera. Reitero que elas devem caminhar juntas: as
políticas públicas organizando suas regras de acordo com a sua cultura e
realidade; e o turista, consciente do por que da existência de tais regras.
Simone Paixão da S. Ribeiro
[1]DIAS,
Reinaldo. Turismo Sustentável e Meio Ambiente. Editora Atlas, p. 107.
[2]Retirado
de: https://www.mma.gov.br/informma/item/8163-passaporte-verde.html
visto em: 09/04/2020
[4]Retirado
de: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/05/140515_legado_blikkiesdorp_jf_rb visitado em: 08/04/2020
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, lecionada ao Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho)
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