É no “País Barrosão”, território de fronteira com a Galiza, plantado nos vales dos rios Cavado e Rabagão, com as serras das Alturas e do Larouco, sempre vigilantes, e um terço do seu território classificado com único Parque Nacional Português, o do Gerês, que se encontra o “Ecomuseu de Barroso”, que proporciona toda uma análise e reflexão sobre o desenvolvimento local e os projetos de turismo sustentado.
A ideia de um Ecomuseu para a região de Barroso resulta da consciência, mas também da preocupação de salvaguardar um património, nas suas múltiplas componentes, natural, cultural e sócio-económica, com a finalidade de contribuir para o desenvolvimento das populações. Por isso, se adotou um conceito de Museu do Território, o qual repousa na valorização dos seus recursos chave: a população e o património natural e cultural.
O Ecomoseu de Barroso não é um museu típico, na medida em que não se confina apenas a um espaço fisco. O seu objetivo reside em incentivar os processos de diversificação das atividades, nomeadamente as associadas ao ecoturismo e outras que propiciem uma melhoria socioeconómica e permitam encontrar novos motivos de fixação à terra, em colaboração com a comunidade local. Procurando, ainda, manter os níveis de sustentabilidade do desenvolvimento e alcançar uma revitalização agrícola do território.
Em suma, o Ecomuseu situa objetos no seu contexto, preserva conhecimentos técnicos e saberes locais, consciencializa e educa para os valores do património cultural; permite desenvolver programas de participação popular e contribui para o desenvolvimento da própria comunidade. Tem como princípio organizar eventos sempre em parceria com as forças vivas do concelho. Deste modo, o envolvimento da população local é essencial, porque facilita a sua sensibilização e mais facilmente se vai criando um movimento de preservação, garantido assim a sustentabilidade das organizações.
Os eventos organizados pelo Ecomuseu têm duas vertentes. A mais usual é a recuperação de tradições, que se encontram em risco de desaparecer, como é o caso das antigas cegadas do centeio à mão, a malhada a malho ou com a velhinha malhadeira ou mesmo a volta à aldeia para cantar os reis aos vizinhos. Em inferioridade, a tentativa de despertar a população para novos desafios, através do turismo sustentado, que tem como regra de desenvolvimento criar novas profissões e dar a conhecer pequenos recantos de mercado, que merecem ser desenvolvidos e aproveitados, como é o caso da apanha de cogumelos silvestres e a organização de provas de turismo ativo de natureza, de BTT e pedestres (Carrilheiras de Barrosos).
Trata-se, no fundo, de aproveitar os enormes recursos do concelho, na área do turismo em espaço rural, ecoturismo, turismo de habitação, gastronomia e agro-turismo, turismo desportivo de natureza, criando uma nova imagem aos produtos regionais, áreas onde a criação de riqueza é compatível com a manutenção do equilíbrio ambiental e a preservação da identidade do seu povo e respectivas tradições.
É apenas de lamentar as denominações de origem e as certificações dos produtos locais, que são de excelente qualidade, que deveriam reverter para o produtor, como maior receita, mas infelizmente representa mais um custo e não vislumbram canais de comercialização sérios, que incentivem o aumento de produção animal e agrícola.
Penso que o Ecomuseu está a originar novos empregos, bem como um turismo crescente, que não se pretende de massas, mas que deixe de ser tão sazonal.
O futuro desta região não passa pelo abandono da pastorícia, nem da agricultura, pois são essenciais para a preservação da paisagem, mas antes acrescidas de um extra que virá da procura turística.
Eis um claro exemplo, de que o Homem ao ter perceção das riquezas ambientais, culturais e de património histórico, pode reverter tudo isso em actividade económica, emprego e rendimento. É, então, necessário educar para sensibilizar os recursos humanos, para que as pessoas aprendam a gostar mais do que têm ao seu lado e, consequentemente, dar-lhe mais valor.
Tal como afirma Hugues de Varine:”Os processos e métodos de desenvolvimento local apoiam-se, necessariamente, sobre a cultura viva dos cidadãos: nenhum desenvolvimento pode ser sustentável sem uma participação dos cidadãos, participação essa, que deve fazer-se na linguagem da cultura”.
Assim, parece que a máxima, bem conhecida em Portugal: “para lá do Marão mandam os que lá estão” continua a ser atual.
Joana Cristina Alves Oliveira
Fontes:
-”O caso de desenvolvimento turístico de Montalegre: Uma ideia da Natureza”, de Ricardo Correia e Carlos Brito, inserido no livro “Casos de desenvolvimento Regional
[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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