“Há uma música do Povo
Nem sei dizer se é um Fado
Que ouvindo-a há um ritmo novo
No ser que tenho guardado…”
Fernando Pessoa
Foi com orgulho, alegria e satisfação, que depois de um grandioso elogio, Portugal acordou no passado dia 27 a ouvir fado, a ouvir o mais recente património imaterial da humanidade.
Durante largos anos, foi sentida a necessidade de criar uma distinção cultural a nível internacional de grande valor e representativo de uma sociedade, mas apenas em 2006 entrou em vigor a convenção para a salvaguarda do património cultural imaterial. Esta organização, defendeu que o património da cultura abrangesse tradições, expressões de vida, conhecimento e competências que constituíssem a cultura e a identidade de cada país.
Foi com base nas características acima descritas que a Câmara Municipal de Lisboa, juntamente com outras entidades, decidiu tornar o sonho realidade. Por isso, em Junho de 2010 assumiu que o fado seria candidatura a património cultural imaterial da humanidade. Decorridos 17 meses, em Bali, na Indonésia, o fado foi oficialmente considerado património da humanidade, e o que até há bem pouco tempo era “um género de grande versatilidade poética e musical” desconhecido para muitos tornara-se num reconhecimento internacional.
Apesar de ter sido a primeira vez que Portugal viu o seu nome associado à lista de patrimónios imateriais da humanidade, já continha alguns pontos de referência, como a título de exemplo o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém em Lisboa, e os Centros Históricos de Guimarães e Évora. Esta condecoração, veio sobretudo permitir a Portugal preservar na memória todas as canções de Amália, as canções de Lisboa, as canções de Portugal.
Com esta candidatura surgem um conjunto de acções, devidamente planeadas, como o estudo e a investigação do património do fado; a constituição de um arquivo digital de fonogramas de fado, com a perspectiva de estarem nas entidades arquivistas e museológicas; a promoção de roteiros temáticos do fado na cidade de Lisboa; a implementação de um programa educativo que promova, nos vários níveis de ensino, os conteúdos relacionados com o universo e cultura do fado, através de cursos de guitarra portuguesa, seminários e “workshops”.
Depois da festividade e orgulho com que foi vivido o reconhecimento do fado a nível internacional, os principais objectivos, em que se debruçou a minha análise, foram as vantagens e desvantagens que lhe estão inerentes.
De facto, este reconhecimento vem permitir comprovar ao Mundo que Portugal, apesar das dificuldades gravíssimas que enfrenta, não se resume “ao défice e à dívida pública” pois existem muitos outros aspectos, tal como o fado, de reconhecimento que lhe estão subjacentes e que permitem demonstrar a riqueza de um país pequeno à beira mar plantado.
Permite relembrar aos portugueses que o som que os levou ao reconhecimento jamais será esquecido, podendo também atrair jovens e adultos oriundos de países diferentes a conhecer a música que agora é património da humanidade.
No entanto, considero que apesar de ter sido um reconhecimento bastante importante e notório para o nosso país, pode não recair na melhor altura. Penso essencialmente, e uma vez que nos encontramos numa situação económico-financeira muitíssimo árdua, em que são necessários grandes esforços e sacrifícios, que a concretização das acções estabelecidas no acto da candidatura poderão tornar-se um investimento avultado, pois apesar dos patrocínios alcançados, é evidente um acréscimo financeiro necessário por parte do estado, nomeadamente, da área da cultura que considero de certa forma dispensável.
Ana Rita Marinho Carvalho
[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Regional” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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