A marca Vista Alegre foi criada a partir de um sonho de José Ferreira Pinto Basto no século XIX. Sendo já na altura destacado o seu reconhecimento pelo sucesso da fábrica de vidro da Marinha Grande, decidiu então criar uma fábrica de “porcelanas, vidro e processos químicos”. Encontra-se edificada em Ílhavo, distrito de Aveiro, região Centro e sub-região do Baixo Vouga.
O fundador foi uma individualidade em múltiplos aspectos: negociante, industrial, lavrador e político. Era essencialmente um homem protector das artes, da instrução e das instituições de caridade. Todas estas preocupações levaram-no a ocupar um lugar de destaque na sociedade portuguesa do século XIX.
A visita à fábrica de Porcelana da Vista Alegre dá-nos a oportunidade de descobrir os segredos de fabrico desta arte centenária, visto conhecermos um das mais prestigiadas indústrias cerâmicas nacionais. Essa visita permite-nos acompanhar o produto cerâmico desde as fases iniciais de produção até ao produto final, valorizando toda a qualidade técnica e artística que concederam a esta marca um lugar de destaque a nível nacional e internacional. Apercebê-mo-nos que a pasta de porcelana é composta essencialmente por três minerais: argila, quartzo e feldspato. A argila é responsável por conferir à pasta translucidez e brancura; o feldspato é fundamental no processo de cozedura e, por fim, o quartzo funciona como o elemento fundamental para a formação do “esqueleto” das peças.
Pelo simples facto de se ter tornado uma marca de renome, com bastante importância na economia portuguesa, houve a necessidade de criarem um museu de forma a exporem a sua história e as principais peças.
O museu histórico da Vista Alegre foi inaugurado no ano de 1964. Com a orientação de Gustavo Ferreira Pinto Basto, administrador entre 1881 e 1921, houve a recolha de objectos que se encontravam dispersos pelas dependências da empresa. Em 1920 surgiram as primeiras instalações, contudo, apenas foi aberto ao público na década de 60 do século XX como já referi. Este encontra-se integrado no complexo da fábrica de Porcelana da Vista Alegre, ocupando uma das antigas alas de oficinas da empresa.
Neste museu encontram-se expostas colecções que se relacionam com a história e desenvolvimento da fábrica, desde a sua fundação ate à actualidade. São igualmente considerados objectos de estudo testemunhos materiais ligados à evolução social, cultural e económica do lugar da Vista Alegre.
Por outro lado, a especificidade do local onde se encontra integrado o museu, confere-lhe um papel determinante na salvaguarda e construção de uma história local e regional, através da conservação de evidências de uma memória colectiva ligada ao espaço físico e social do Bairro da Vista Alegre e seus habitantes.
Este pode ser visitado entre as terças e sextas-feiras das 9h às 18h e sábados e domingos das 9h às 17h, com o preço por indivíduo de 2,5€ e seniores/estudantes 1,25€.
Existe também uma capela, um palácio e um teatro associado a esta marca. A capela foi mandada edificar no final do século XVII pelo Bispo de Miranda, sendo conhecida pela capela da Nossa Senhora da Penha de França. É um edifício imponente e de bela arquitectura, na fachada encontra-se uma imagem em pedra ricamente trabalhada e no interior destacam-se os azulejos setecentistas. Foi adquirida em hasta pública a 26 de Outubro de 1816 e classificada Monumento Nacional no ano de 1910.
O palácio, começado a construir no século XVIII, rodeado de belos jardins e com um terraço sobre a ria de Aveiro, foi a morada de sete gerações da família Pinto Basto, fundadora da marca. Hoje em dia é utilizado para hospedar os convidados da Vista Alegre que visitam a fábrica ou visitantes distintos em dias de festa e reuniões de negócios.
Por fim, o teatro foi criado para entretenimento e valorização cultural dos trabalhadores e habitantes do bairro social. Foi inaugurado quase ao mesmo tempo que a fábrica, e reconstruído/decorado em 1851, com tectos adornados e cortinas enfeitadas. A última vez que foi remodelado foi em 1970. Este teatro teve actividade reduzida durante alguns anos mas em 1998 foi recuperado e reaberto, hoje em dia, é utilizado por um grupo de teatro amador composto por trabalhados da fábrica.
Uma curiosidade interessante é o facto do corpo de Bombeiros Privativo da Vista Alegre, criado a 1 de Outubro de 1880, ser o mais antigo corpo privativo do país. Também os primeiros equipamentos do comando são verdadeiras peças de museu: bombas de água manuais puxadas por duas mulas, estranhos extintores, dois jipes, entre outros.
Concluindo, esta marca realmente representou uma grande projecção do nome de Portugal para o exterior. Hoje em dia, as suas lojas encontram-se distribuídas por Portugal, Espanha, Angola e Moçambique. Também o surgimento da vila Vista Alegre criou os elementos necessários que uma sociedade procura para se sentir confortável, por exemplo, um lugar de culto, a igreja, e um lugar de ócio, o teatro. Distingue-se desde logo, de todas as outras vilas industriaIs criadas apenas com o intuito dos trabalhadores se encontrarem mais perto das empresas e não desperdiçarem tanto tempo, apenas eram vistos como maquinas para os seus superiores.
Ana Isabel Miranda
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular Economia Regional do 3º ano da Licenciatura em Economia da EEG/UMinho]
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