A Euroregião
formada pela Galiza (Espanha) e pela Região Norte de Portugal constitui um
espaço transfronteiriço, situado no noroeste da Península Ibérica, e ocupando
50.860,8 Km2.
A região da
Galiza é ocupada pelas províncias da A Coruña, Lugo, Ourense e Pontevedra,
sendo que a Região Norte de Portugal (nos termos tilizados pela nomenclatura
comum das novas Unidades Territoriais Estatísticas de Portugal – NUTIII,
definidas pelo Regulamento (CE) n.º 1059/2003 do Parlamento Europeu) é ocupada
pelas regiões de Alto Trás-os-Montes, Douro, Tâmega, Minho-Lima, Cávado, Ave,
Entre Douro e Vouga e Grande Porto.
A integração de
Portugal e Espanha na então CEE (1986) veio proporcionar a esta região, e aos
seus responsáveis, a possibilidade de densificar em termos estratégicos aquela
que é uma evidente identificação social e cultural entre as populações que
habitam as regiões acima referidas.
Numa breve
abordagem á população residente, podemos desde logo verificar que nos
encontramos perante densidades demográficas diferentes, pois observamos que os
3.741.092 (dados do INE, 2010) habitantes da região norte de Portugal
representam cerca de 35% da população do país, para uma área geográfica que
representa cerca de 23%, e que em contrapartida, verificamos que a Galiza
comporta 2.795.422 habitantes (dados do IGE, 2011), representando 7% do total
de Espanha, para uma área geográfica de apenas 6%.
Analisando os
níveis de atividade em grupos etários comuns, verificamos uma dissonância, com
uma percentagem de taxa de atividade de 62,6% no Norte de Portugal (dados INE,
2010) e de 55,2% na Galiza (dados IGE, 2011), que é acompanhada na sua
distribuição etária. Aproveitando estes mesmos dados, verificamos que a taxa de
desemprego se tem mostrado mais acentuada na Galiza, 15,4% em 2010, quando
comparada com a taxa de desemprego no Norte de Portugal nesse mesmo ano, 12,6%.
Ao analisarmos
com maior cuidado os dados dos sectores de empregabilidade, verificamos que em ambas
as regiões, é o setor terciário que funciona como maior destino de emprego
(52,27% no Norte de Portugal, e 66,97% na Galiza), embora nos seja permitido
observar que a população residente empregada no Norte de Portugal tem
igualmente grande significado no sector da produção industrial, transformadora
e ainda a ter em conta a construção.
E é neste último
setor que encontramos uma diferença real na forma as regiões estabeleceram as
suas prioridades de investimento e de crescimento, mas também em função da
produtividade alcançada.
A região norte
possui (em 2009) 42.254 empresas nesse setor, empregando 417.907 funcionários,
apresentando uma produção de cerca 27.765 M€, enquanto a Galiza possui apenas
18.832 empresas, empregando 173.548 funcionários, mas apresenta uma produção de
35.106 M€.
Esta diferença –
o Norte apresenta uma produção de € 657.000 / empresa, enquanto a Galiza eleva
esse valor €1.854.000 / empresa, é reflexo de uma força de trabalho que
contribui para uma riqueza que ultrapassa o triplo da produção no norte de
Portugal. Sem outros dados que nos permitam aprofundar a análise, temos
claramente de analisar as indústrias em causa, e a sua capacidade de produzir
uma mais valia: o Norte de Portugal com uma aposta nas indústrias têxtil,
vestuário, e de fabricação de equipamento, enquanto a Galiza aposta na
Alimentação, Bebidas, Tabaco e Material de transporte.
Numa última
análise, podemos incluir as variáveis referentes à capacidade de
internacionalização: os dados de 2011, apresentam uma maior capacidade
exportadora da Galiza (M€ 17.536) face ao Norte de Portugal (M€ 11.487), mas em
que é o Norte de Portugal que apresenta uma melhor taxa de cobertura das
importações pelas exportações (115,9% versus 106,4%). O perfil exportador do
Norte de Portugal é dado fundamentalmente pelos têxteis e pelo calçado,
enquanto (e mesmo tendo em conta o peso da Inditex) a Galiza mantém um peso
considerável da sua indústria automóvel.
Numa reflexão
final, é certo que a fronteira que separa Portugal de Espanha existe, mas em
muitas regiões ela sempre foi ténue, e foram as suas populações que criaram e
incentivaram as trocas comerciais e culturais fundamentais para podermos falar
de uma Euroregião fundada na história e cultura, mas que tem um objectivo de
aumentar a capacidade competitiva dos seus agentes económicos. Cada vez mais
estas regiões sentiram a necessidade de crescer olhando para o seu parceiro
mais próximo, recusando qualquer intromissão de nacionalismo bacoco, e
abraçando as particularidades sócio-económicas que poderão contribuir para um
crescimento comum. Talvez, e para terminar, apenas a diferente estrutura fiscal
dos países em que se integram possa contribuir para um crescimento desigual,
mas tal levava-nos para uma análise bastante mais complexa e necessariamente
mais aprofundada.
Nuno Filipe da
Silva Barroso
(texto de opinião produzido no âmbito da uc. Bases Estruturais da Euro-região Galiza-Norte de Portugal, do Mestrado em Politicas Comunitárias e Cooperação Territorial da EEG e do ICS/UMinho)
(texto de opinião produzido no âmbito da uc. Bases Estruturais da Euro-região Galiza-Norte de Portugal, do Mestrado em Politicas Comunitárias e Cooperação Territorial da EEG e do ICS/UMinho)
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