A região demarcada dos vinhos verdes foi criada em 1908. A região é delimitada tendo por base a carta-de-lei de 18 de Setembro, onde constam também as formas de culturas e as castas características ao vinho verde (Marques, H.).
Esta região, que se localiza a noroeste de Portugal, situa-se numa altitude inferior a 700m, onde podemos encontrar vastos recursos naturais, nomeadamente a água. Protegida a Este pela serrania, esta região é recortada pelos vales dos rios que correm de Este para Oeste. Os rios de que falo são o rio Minho, Lima, Ave, Sousa, Tâmega e Douro. “Citando uma frase conhecida de Amorim Girão, lembra «um vasto anfiteatro que, da orla marítima, se eleva gradualmente para o interior», expondo-o à influência do oceano Atlântico, fenómeno reforçado pela orientação dos vales dos rios, perpendiculares à costa, o que facilita a penetração da influência marítima. Estende-se por todo o NW. Tem como limites: a Norte, o rio Minho, a nascente e a Sul, as zonas montanhosas, que constituem uma separação natural das zonas do interior, de características mais mediterrâneas, e por último o Oceano Atlântico, que constitui o seu limite a poente (http://www.cvrvv.pt, acedido em Março de 2014).
Ao nível geológico, os solos são predominantemente de origem granítica, nomeadamente granitos porfiróides, que se caracterizam por uma boa permeabilidade, contudo com uma baixa retenção de água. Assim sendo, estes solos são pobres e ácidos, onde dominam os franco-arenosos. No entanto, esta região é rica em matéria orgânica, devido às quantidades de estrume que foram depositadas nos solos ao longo dos tempos, tornando-os de pobres graníticos a terras férteis, daí a tendência para o elevado vigor das vinhas (Castro, R.).
A vinicultura é um dos sectores mais dinâmicos da agricultura portuguesa, sendo também dos sectores que melhor se adaptou à concorrência comunitária. No contexto da União Europeia, Portugal é o quinto maior produtor de vinho, com valores médios próximos dos da Alemanha, mas com uma distância considerável dos primeiros produtores e exportadores, como é o caso da Itália, França e Espanha. Ao nível internacional, os vinhos portugueses ocupam um lugar de destaque, situando-se num grupo de países com quotas de mercado que variam entre 3% e 5%. No que respeita ao mercado interno, é clara a preferência dos consumidores portugueses pelos vinhos nacionais. Este facto tem contribuído para uma série de alterações estruturais que se têm verificado ao nível da produção, bem como o aparecimento de actividades complementares, nomeadamente o enoturismo (Simões, O., 2008).
O enoturismo surge através de um conjunto de actividades associadas à visita a empresas vitivinícolas, visita a museus e outros estabelecimentos ligados ao sector. Também se incluem aqui a participação em eventos de interesse vitivinícola com o objectivo principal de conhecimento e provas dos vinhos das regiões visitadas. Portanto, trata-se do contacto de turistas com a actividade vitivinícola (Simões, O., 2008).
Guimarães pertence à sub-região do Ave da região demarcada dos vinhos verdes. Este município, apesar de ter tido um aumento na produção dos vinhos verdes, não tem a mesma expressão quando comparada com os municípios das sub-regiões do Lima, Cávado e Monção.
No entanto, existe um caso de sucesso na produção dos vinhos verdes. Refiro-me à adega cooperativa de Guimarães. Esta adega surgiu em 1963, com o objectivo de receber, vinificar, e comercializar as uvas dos seus cooperadores. Com investimentos realizados para modernizar as instalações e tirar máximo rendimento dos vinhedos e a produção de vinhos com elevada qualidade, a partir de 1999, em consequência dessas acções, foram lançadas várias qualidades de vinho com bastante sucesso.
Apesar de esta cooperativa ser o maximizador dos vinhos verdes em Guimarães, tendo um elevado número de cooperadores vinícolas, e ter até sucesso na marca de vinhos comercializada, traz também as suas consequências. Isto é, o facto de ser uma cooperativa com elevada expressão no município leva a que não apareçam outras marcas de vinho produzidas em território vimaranense e, consequentemente, a tradição dos vinhos verdes não se multiplique e apareçam outras actividades ligadas ao sector, como é o caso enoturismo ou o turismo rural.
Assim, o contributo da vitivinicultura para o processo de desenvolvimento local e regional depende muito da sua vitalidade como actividade económica e também da sua capacidade de impulsionar o desenvolvimento de actividades complementares (Simões, O. 2008, p. 278). É neste contexto que o enoturismo tem um papel importante, pelo facto de se apresentar como o elo de ligação entre a vinicultura como actividade económica e o aproveitamento de elementos culturais, patrimoniais e paisagísticos. Acrescenta também, directamente, uma mais valia às empresas visitadas, sobretudo, pelos produtos e serviços vendidos. Neste seguimento de beneficio, importa salientar a importância que o consumo e a valorização do vinho têm por via desse elemento designado “ideologia do vinho” . Sendo que o consumo e a valorização do vinho aparecem como objetivos e o vinho como alimento é um momento subjectivo.
As regiões agrícolas fazem apelos no sentido da produção de uma ideologia específica ligada às respetivas regiões, criando assim fatores de competitividade muito importantes, sobretudo para ligar a indústria do vinho a outros setores de atividade económica, nomeadamente, ao turismo. As rotas do vinho, em particular, e o enoturismo, em geral, são extremamente importantes, pois podem contribuir decisivamente para a produção "ideológica" referida anteriormente.
Para aumentar a competitividade de uma determinada região, não basta produzir. Tem também de haver a sua divulgação, de forma a que os seus produtos sejam conhecidos e aproveitados pelos agentes económicos. Neste contexto, é também fundamental produzir conhecimento sobre a história da região, a sua cultura e as suas especialidades (Simões, O., 2008).
Márcio Pires
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)
(artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho)
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