Para além do seu valioso património arquitectónico ou da sua distinção como o“ Berço da Nação”, a cidade de Guimarães também é reconhecida pela forte representação do sector têxtil, que aliás se concentra em toda a NUT III Ave, e que se vai desmantelando há mais de vinte anos.
O sector têxtil e de vestuário foi crucial para a estruturação de um modelo territorial disperso da população e das actividades no município, cujas raízes históricas remontam ao século XIX, onde o seu desenvolvimento foi o mais intenso (muito pelo impulso do antigo caminho-de-ferro). No entanto, o percurso desta indústria nem sempre foi linear, passando por momentos de pressão. O primeiro terá sido nos finais do século XIX, com a concorrência de grandes centros de produção da Europa e América, cuja resposta passou por aumentar as horas de trabalho e reduzir os salários, para assim diminuir os custos de uma produção que ainda era manual. Entre outras situações da história da indústria têxtil no município, avançamos dois séculos, entre os anos de 1980 e 1990, quando o sector não resistiu à forte concorrência do mercado chinês. Hoje, as fábricas que foram outrora abandonadas têm dado lugar a centros de exposições e investigação ou de acolhimento de eventos, quando foram reabilitadas, sobretudo no ano do mega-evento Capital Europeia da Cultura - Guimarães 2012.
As empresas têxteis que perduraram têm agora uma grande responsabilidade: a de apostar numa nova estratégia face aos novos desafios do emprego, o que implica a criação de novos produtos ou serviços prestados ou de melhoria considerável em relação ao passado, pois só assim o município poderá ter sucesso no mercado. Isto vem a propósito do novo conceito de competitividade, onde a capacidade de inovação, o desenvolvimento dos serviços e a qualificação dos recursos humanos passam a adquirir importância.
Resultados de um inquérito do Eurostat dirigido às empresas no ano de 2010 mostraram que as empresas portuguesas, mesmo tendo como pano de fundo uma crise económica, têm conseguido apostar na sua inovação, ocupando o país a quarta posição no ranking dos países mais inovadores. Recentemente, também Guimarães tem conseguido dar resposta à concorrência chinesa, apostando no design, na inovação tecnológica, na diminuição de resíduos poluentes e de produtos nocivos à saúde do consumidor final.
A título de exemplo, podemos mencionar a empresa vimaranense Pizarro, que apostou no design e em técnicas inovadoras que respeitam o ambiente e a saúde do consumidor, na cooperação com uma empresa externa e na parceria com marcas mundiais. Ou a marca “Skin to Skin”, da empresa New Textiles, unida à Universidade do Minho e em cooperação com hospitais, centros de investigação e associações de médicos e doentes, investindo em vestuário com controlo térmico para dermo-protecção, controlo térmico, repelente de insectos, entre outros.
Em forma de evento, o “Contextil – Arte Têxtil Contemporânea” adicionou um novo contexto à indústria têxtil – o da arte contemporânea – e conta com a sua 2ª edição este ano, entre os meses de Julho e Outubro.
Por outro lado, todo o conjunto de seminários realizados tem sido relevante para a apresentação de ideias e projectos inovadores, nas discussões para a manutenção do emprego, a produtividade, competitividade e crescimento das empresas ou a importância da inovação tecnológica na diferenciação e afirmação do sector têxtil nos mercados internacionais. Por último, cabe-me ressaltar o programa da AvePark, que pretende acolher, até 2017, 200 empresas tecnológicas simplificando a fixação de cientistas e investigadores na região norte do país.
Neste seguimento, as empresas vimaranenses têm conseguido responder à concorrência do mercado, assegurar uma durabilidade ambiental, económica, social e cultural, manter fluxos de conhecimento entre a Universidade do Minho, instituições de investigações e empresas, aumentando assim a possibilidade de obter um sistema de inovação eficiente.
Exaltando a sua singularidade e a sua especificidade histórica, Guimarães tem conseguido encontrar um rumo neste espaço concorrencial da “aldeia global”, onde as empresas e as instituições têm tido um papel fundamental nas novas iniciativas, impulsionando o crescimento económico e a competitividade territorial. A cidade berço poderá assim continuar a colher os frutos do mega-evento CEC 2012, que com certeza a posicionou enquanto território.
Valérie
Rodrigues (artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular "Economia e Política Regional" do Mestrado em Geografia, do ICS/UMinho) |
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