quarta-feira, março 15, 2017

´City Awards 2016` e turismo acessível

Todos os anos, a ENAT (European Network for Accessible Tourism) premeia cidades europeias que se destacam no investimento efetuado na adaptação das ruas, praças e infraestruturas, tendo em conta a acessibilidade e inclusão de todos os cidadãos. Em Portugal, salvo uma ou outra praia acessível, alguns hotéis, poucos museus e monumentos, e os exemplos dos municípios da Lousã e do Funchal, esta é uma problemática para a qual nem a opinião pública nem o poder político despertaram. 
A cidade do arquipélago da Madeira, foi recentemente premiada com uma menção honrosa do Access City Award 2016 e pouco eco teve nos media, especialmente se compararmos com o European Best Destination 2017, atribuído à cidade do Porto. A aposta no turismo acessível, universal, inclusivo e sem barreiras deverá ser uma prioridade nos próximos anos nos países da União Europeia.
O turismo universal pode ser definido como a fruição de atividades turísticas que inclui o maior número de pessoas possível, tenham ou não deficiência, apresentem ou não limitações de mobilidade, de audição, de visão, cognitivas ou psicossociais, sejam elas temporárias ou definitivas. Com o crescente envelhecimento da população e o consequente aumento do turismo sénior, e pensando ainda em famílias com crianças pequenas, torna-se cada vez mais urgente a adaptação dos espaços museológicos, culturais, públicos e de alojamento a esta realidade. Melhorando as acessibilidades, quer físicas, quer as de interpretação, potenciamos e melhoramos a experiência do visitante, criando um espaço verdadeiramente para todos. 
Em 2050, 20% da população residente na União Europeia terá mais de 60 anos, sendo que, no caso português, a percentagem ultrapassa os 30%. Segundo um estudo efetuado pela Moody’s, o envelhecimento da população vai retirar 0,4% à taxa de crescimento anual da economia global durante os próximos anos, e esta desaceleração subirá para 0,9% no período entre 2020 e 2050. Por estas e por outras razões, é premente apostar em políticas para contrariar estes dados e adaptar as cidades e as suas infraestruturas a esta nova realidade e aos diferentes tipos de cidadãos e visitantes. Por outro lado, os turistas seniores, os casais com crianças pequenas e os turistas com algum tipo de deficiência, temporária ou definitiva, são aqueles que mais tempo permanecem num destino, ficando mais tempo alojados e estimulando ainda mais a economia da região que decidem visitar. 
É neste cenário que o Turismo de Portugal lançou uma linha de financiamento de 5 milhões de euros para apoiar entidades públicas ou privadas a realizarem as alterações físicas e arquitetónicas necessárias e a criarem novas soluções inclusivas e universais. Paralelamente está a levar a cabo o programa “All For All”, com o objetivo de manter o propósito do país como um destino turístico onde o “Receber bem” é o lema. 
Esta mudança e as adaptações inerentes, pela sua multidisciplinaridade, são desafiantes. A mudança em causa engloba áreas tão diversificadas como a arquitetura, a engenharia, o património, a produção de conteúdo, a comunicação, o audiovisual, a informática, a eletrónica, a sociologia, etc. Esperemos que empresas e entidades públicas saibam aproveitar esta oportunidade e passemos a dar a devida importância à universalidade e inclusividade das nossas cidades, dos nossos hotéis, do nosso património e da forma como o comunicamos para que deixemos de ter cidades e vilas projetadas com o objetivo de tornar os carros mais felizes, ao invés de as planear para melhorar a fruição dos seus cidadãos e visitantes.

Paulo Oliveira Sousa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da ICS/UMinho]

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