terça-feira, março 14, 2017

Porto, melhor destino europeu para 2017: uma mais-valia ou um problema?

Ao longo dos últimos anos, Portugal tem registado sucessivos aumentos na atividade do setor turístico. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2016 registou-se um aumento de 9,6% face ao ano anterior no número de dormidas nos estabelecimentos hoteleiros nacionais, que ascenderam a 53,5 milhões. Este total constitui um recorde, com os turistas não-residentes a serem responsáveis por mais de 70% do valor.
A cidade do Porto tem sido uma peça fundamental, contribuindo de forma significativa para o efeito. Hoje em dia, é difícil passear na zona da ribeira sem tropeçar num turista a cada passo que se dê. Nas ruas congestionadas da baixa, os autocarros amarelos são uma constante, assim como no rio Douro abundam embarcações de cruzeiros turísticos. E nos calmos jardins da Fundação de Serralves é possível ouvir todos e mais alguns idiomas e dialetos.
O organismo Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP) indica que a região contabilizou 6,8 milhões de dormidas no ano de 2016, estando próxima da fasquia dos 7 milhões que a mesma entidade tinha definido como meta apenas para 2020. Este valor representa um crescimento de 10,7%, verificando-se assim um ritmo superior à média nacional.
A distinção do Porto, no mês passado de Fevereiro, como melhor destino europeu para 2017 evidencia a afirmação da cidade como destino turístico, tanto no panorama nacional como a nível europeu. Depois de 2012 e 2014, é a terceira vez que a cidade arrecada o galardão, com o website European Best Destinations, o promotor da iniciativa, a destacar que nunca uma votação tinha sido tão consensual. A notícia recebeu amplo destaque na imprensa nacional e foi encarada com entusiasmo de uma forma geral pela população, não só pelo orgulho da vitória em si, mas também pelos benefícios que podem advir, nomeadamente em termos económicos.
As vantagens do incremento da atividade turística são inegáveis, com a estimulação da economia e a criação de empregos à cabeça, promovendo o desenvolvimento do local, seja por via direta, seja por ação de spillover. De facto, no cenário macroeconómico português as receitas provenientes do turismo representam quase metade das exportações de serviços, sendo o garante do saldo positivo da balança de serviços nacional, de acordo com o Banco de Portugal. E segundo um estudo do World Travel & Tourism Council, cerca de 20% da mão-de-obra portuguesa exerce ocupações de uma forma ou de outra relacionadas com a atividade turística. Muitos críticos da atualidade dizem inclusive que o turismo foi em larga medida responsável por atenuar a conjuntura de crise que tem marcado presença nos anos recentes.
Ainda assim, como diz a sabedoria popular, nem tudo são rosas, com o aumento do número de turistas a implicar transtornos para a população local: as obras e reabilitações são agora um fenómeno permanente na cidade do Porto, com edifícios históricos a serem alvo de requalificação para fins de restauração e hotelaria em quase todas as esquinas, perturbando o quotidiano dos moradores; os serviços municipais, como os transportes e a limpeza são cada vez mais pressionados pelo aumento de pessoas que frequentam a cidade; os preços nos cafés e restaurantes são significativamente superiores em zonas de maior enfoque turístico, como a ribeira. Estes são apenas alguns exemplos de ocorrências que se podem associar ao aumento do número de turistas.
É por isso necessário equacionar bem todos os prós e contras do aumento do turismo, enquadrando-se as capacidades da cidade, de forma a acautelar o bem-estar dos moradores. Um meio-termo é essencial, por forma a permitir que habitantes locais e turistas convivam pacificamente, ou situações como a de Barcelona, em que se equaciona restringir o número de visitantes, poderão tornar-se cada vez mais comuns.

João Silva Santos Pelaez Carones

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2016/2017) 

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