quinta-feira, janeiro 13, 2011

Arranjos produtivos locais: uma oportunidade de desenvolvimento económico

O economista Alfred Marshall há muito expôs que há economias oriundas da proximidade entre as empresas. Essas economias vêm de um eficiência colectiva e externalidades, que criam vantagens competitivas novas, uma vez que há troca de informações entre os agentes. No Brasil há um esforço em localizar e incentivar essas economias. Esse processo possui diversos nomes, que vão desde sistema produtivo local à clusters, contudo no Brasil popularizou-se o termo arranjo produtivo local (APL). Segundo o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior do Brasil define APL como: aglomerações de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, inteiração, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa.
Actualmente no Brasil há uma busca pela aproximação das empresas com as universidades (especialmente as públicas), para que haja um “transbordamento” de conhecimento da academia para as empresas e vice versa. Essa relação próxima entre universidade e empresas é muito difundida nos Estados Unidos. O maior exemplo dos ganhos oriundos da proximidade entre as empresas, de uma mesma indústria, e universidades é o Vale do Silício, localizado no estado da Califórnia nos Estados Unidos. É nessa região onde estão localizadas várias das maiores empresas de tecnologia do mundo. É nesse cluster onde muitas inovações são desenvolvidas. O Vale do Silício iniciou-se com a instalação de empresas inovadoras nos arredores de Universidades californianas como Stanford e Universidade da Califórnia.
No caso brasileiro há um terceiro agente económico envolvido: o Estado. Ele actua em várias frentes mas a principal é financiamento de determinadas acções desenvolvidas, tanto através de duas instituições de apoio a pesquisa (CAPES e CNPQ) como pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES). Essas instituições possuem linhas de crédito destinadas a projectos de investigação e desenvolvimento (I&D) e até mesmo para financiar a criação de pequenas e média empresas (PME) que produzam algum bem ou serviço oriundo das economias criadas no interior de um APL.
Há vários exemplos disso no Brasil, em Florianópolis Santa Catarina, por exemplo, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) juntamente com moradores de regiões costeiras descobriu que havia uma região propícia ao cultivo de ostras em cativeiro. O staff da universidade entrou com os estudos acerca da implantação dessa actividade, os moradores entraram com a mão-de-obra e materiais para a produção, a prefeitura (instituição semelhante às câmaras municipais portuguesas) permitiu o uso do oceano e a UFSC também é a fornecedora das ostras em estágio inicial de desenvolvimento. Essa acção leva renda à uma parcela da população que antes dependia da pesca ou da agricultura de subsistência e que agora possui um padrão de vida superior. A cidade ganhou pelo aumento da arrecadação; os alunos, professores e pesquisadores da UFSC têm um local que serve como laboratório para testarem novas técnicas de cultivo, novas espécies de ostras, novos cruzamentos, etc. Sendo assim, houve um ganho geral para todos os agentes envolvidos, e é esse o objectivo maior dos APL, o ganho mútuo vindo da proximidade entre os agentes.
Esse tripé universidade/empresa/Estado ou sociedade gera ganhos para todos, mas com um custo muito reduzido. Essa relação pode até ser considerada como uma economia de escopo, pois na maioria das vezes utiliza-se as instalações já existentes das universidades ou das empresas, mesmo que em alguns casos há a necessidade de criarem novos laboratórios, etc.
As empresas que muitas vezes surgem a partir de ideias de algum estudante precisam de apoios estatais, pois não possuem uma escala muito elevada e não possuem uma condição financeira para serem tributadas como as demais. O Estado também pode disponibilizar espaço para que possa haver o desenvolvimento dessas actividades, bem como pode e deve ser o ofertante da infra-estrutura necessária para a implantação das empresas, laboratórios, etc. Conclui-se assim que se houver uma boa relação entre universidade/empresa/Estado pode haver o desenvolvimento de novos produtos, processos, inovações tecnológicas que trazem o progresso para uma determinada região e pode ser um meio de um país superar alguma dificuldade económica.

Jonatan Lautenschlage

[Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Desenvolvimento e Competitividade do Território” do Mestrado em Economia, Mercados e Políticas Públicas da EEG/UMinho]

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