A
cidade do Porto recebeu em 2017 o título de «Melhor Destino Europeu» e sobre a atribuição
deste título pouco há a discutir tendo em conta o encanto que a cidade desperta
a todos aqueles que a visitam. A nossa reflexão deve recair nas consequências
que toda essa visibilidade vai trazer à cidade e a forma como o Município vai
lidar com as futuras vagas de turismo.
Se
é certo que o turismo do norte, particularmente do Porto, tem trazido grandes benefícios
para a economia do país e contribuído, direta ou indiretamente, para abertura
de novas empresas e consequentemente a criação de novos postos de trabalho, a
grande preocupação tem sido manter a identidade da cidade invicta. Não é fácil
encontrar um equilíbrio para agradar o habitante local e o turista.
Quem
se desloca ao centro histórico da cidade, na chamada época alta, percebe que existem
mais estrangeiros do que portuenses, tornando-se até um pouco aflitivo ouvir
mais a língua estrangeira do que o belo sotaque do norte. Além disso, e não
querendo seguir ideais fundamentalistas, parece que o património da cidade se
tem tornado num produto rentável, dando a sensação que qualquer edifício velho
vira hostel ou então é transformado
num grande hotel de luxo.
Sobre
o assunto, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, garante num artigo do
jornal Público, que «Pela primeira vez, a CMP está exercer direito
de preferência sobre a transação de prédios no centro histórico. Com isto,
pretende evitar que a maioria dos edifícios transaccionados se destinem a
projectos turísticos, reservando, sempre que os valores sejam aceitáveis,
edifícios para reabilitar e colocar no mercado do arrendamento social.»,
contudo, não consigo esquecer a famosa, pelos piores motivos, intervenção nas
Cardosas ou até o mais recente e disparatado projeto para a Estação de S.
Bento.
Concordo
que não devemos seguir teses ultraconservadoras que defendem que se salve tudo
sob orientação do Estado, mas também não devemos aceitar que um quarteirão com
edifícios do séc. XVIII, XIX e XX seja transformado numa cenário de fachada
única ou então que a bonita Estação de S. Bento seja transformada num moderno shopping de atração turística.
Sobre
as Cardosas já nada há a fazer e sobre a estação ferroviária parece que o bom-senso
venceu e o projeto não foi aceite. Devem existir equilíbrios e limites. A cidade
do Porto não precisa de grandes artefactos para conquistar corações. O que atrai
as pessoas para a cidade são as tardes cinzentas e melancólicas nos dias de
Invernos ou os passeios junto ao rio Douro nos dias solarengos de Verão e,
sobretudo, o que faz da cidade do Porto diferente de todas as outras são as
suas gentes.
Os
portuenses sabem acolher como ninguém quem vem de fora e fazem com que qualquer
um se sinta em casa. O segredo para mostrar a verdadeira identidade da cidade é
trazer os portuenses para o centro histórico e aproximar as pessoas do
património.
[artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e
Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da
ICS/UMinho]
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