Barcelona. Passei
por lá na semana passada. Regressava de um intercâmbio na Polónia quando dei
por mim a fazer escala no país vizinho. Assim que desembarco, a primeira coisa
que me vem à cabeça são os inúmeros artigos que li, quer nos jornais nacionais,
quer nos jornais internacionais, que anunciavam que Barcelona iria limitar o
número de turistas. Isto porque, segundo os vários meios noticiosos, os
moradores dessa cidade já estavam fartos de tantos turistas, que por sua vez
provocam o aumento dos custos das casas dos habitantes locais, cujos salários,
que já são baixos, não conseguem suportar esse aumento. Dei por mim a pensar
como é que essa limitação turística iria funcionar na realidade, e se já
estaria em curso.
Posto isto,
lembrei-me de Portugal. Apesar de não recebermos tantos turistas em Portugal
como provavelmente Espanha recebe, dei por mim a questionar-me se algum dia
também nós nos fartaremos dos turistas. Tenho noção de que para isso acontecer
as nossas taxas de ocupação turística teriam que crescer muito mais. Mas, a
verdade é que Portugal está na moda. Esta é uma afirmação e de uma certa forma slogan que creio que tem vindo a atrair
e vai atrair ainda muitos mais turistas.
Com os vários
meios de comunicação a promoverem Portugal como o destino do ano, com o Porto a
ganhar o prémio de melhor destino europeu, cujo jornal The Irish Times intitula de Califórnia portuguesa, e com o
crescimento dos investimentos nos vários setores ligados ao turismo, creio que
o bichinho da curiosidade já atingiu muitos estrangeiros.
Com tudo isto vem
um sentimento agridoce da minha parte. Por um lado, fico extremamente feliz por
saber que o meu país está nas bocas do mundo. Isso irá desmitificar certos
mitos (tais como o de Espanhol ser a língua oficial de Portugal), irá trazer
várias vantagens à nossa economia e comerciantes locais e, visto eu mesma ser
uma espécie de embaixadora de Portugal de cada vez que viajo ou resido num país
estrangeiro, fico feliz por ver que provavelmente muitos dos turistas que por
aqui passam vieram pois também eles estiveram em contacto com alguns dos
milhões de embaixadores portugueses que emigram todos os anos.
No entanto, e por
outro lado, crescem os receios. Vêm-me mais uma vez à memória as reportagens e
os artigos que denunciam as crescentes pressões para os habitantes da Ribeira
abandonarem as suas casas. Recordo-me ainda dos famosos bares discoteca Tokyo,
Jamaica e Europa na zona de Lisboa que fecharam devido à reabilitação que vai
ocorrer no edifício em que se encontram (que irá ser transformado num hotel), e
que provavelmente não irão reabrir devido ao preço absurdo da renda que lhes é
pedido.
Todos os artigos
elaborados no âmbito dos assuntos referidos anteriormente realçam o facto de o
turismo ser benéfico para a nossa economia e para se proceder à reabilitação de
áreas e edifícios públicos e históricos de maneira a melhorar as cidades em si,
mas saberemos nós quando temos que parar?
Devem os
investidores continuar a despejar as pessoas locais de uma cidade, que no fundo
acabam por ser a alma e a essência desse lugar, cuja amabilidade e sorrisos
serão recordados por muitos turistas de maneira a construir cada vez mais
hotéis, hostels, ou qualquer outro
tipo de equipamento turisto? O que é que acontece quando a população local
começar a ficar revoltada pois o turista que acabou de passar à nossa frente é a
razão pela qual muitas pessoas tiveram que encontrar um novo sítio ao qual
chamar casa? Devemos nós continuar a construir desenfreadamente e continuar a
viver esta euforia do turismo ou está na altura de parar, sentar e pensar um
bocado mais no povo português?
Posto isto, penso
que muitos portugueses concordam comigo quando digo: criem, invistam, continuem
a apostar e a “vender” Portugal não só aos estrangeiros mas também aos portugueses,
mas encontrem um equilíbrio. Não percam a consideração pelas culturas locais
que, num mundo tão uniforme, padronizado e com gostos globais, começam a ficar
extintas. Não destruam a essência e alma de um lugar que não é nada mais nada
menos do que as pessoas que lá habitam.
Mª Irene Ribeiro
(Artigo de opinião produzido no âmbito
da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, leccionada a alunos de
vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano lectivo
2016/2017)
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