Todos os anos, a ENAT
(European Network for Accessible Tourism) premeia cidades europeias que se
destacam no investimento efetuado na adaptação das ruas, praças e
infraestruturas, tendo em conta a acessibilidade e inclusão de todos os
cidadãos. Em Portugal, salvo uma ou outra praia acessível, alguns hotéis,
poucos museus e monumentos, e os exemplos dos municípios da Lousã e do Funchal,
esta é uma problemática para a qual nem a opinião pública nem o poder político
despertaram.
A cidade do arquipélago da Madeira, foi recentemente premiada com uma menção honrosa do
Access City Award 2016 e pouco eco teve nos media, especialmente se compararmos
com o European Best Destination 2017, atribuído à cidade do Porto. A aposta no
turismo acessível, universal, inclusivo e sem barreiras deverá ser uma
prioridade nos próximos anos nos países da União Europeia.
O turismo universal pode ser definido como a fruição
de atividades turísticas que inclui o maior número de pessoas possível, tenham
ou não deficiência, apresentem ou não limitações de mobilidade, de audição, de
visão, cognitivas ou psicossociais, sejam elas temporárias ou definitivas. Com
o crescente envelhecimento da população e o consequente aumento do turismo
sénior, e pensando ainda em famílias com crianças pequenas, torna-se cada vez
mais urgente a adaptação dos espaços museológicos, culturais, públicos e de
alojamento a esta realidade. Melhorando as acessibilidades, quer físicas, quer
as de interpretação, potenciamos e melhoramos a experiência do visitante,
criando um espaço verdadeiramente para todos.
Em
2050, 20% da população residente na União Europeia terá mais de 60 anos, sendo
que, no caso português, a percentagem ultrapassa os 30%. Segundo um estudo efetuado pela Moody’s, o
envelhecimento da população vai retirar 0,4% à taxa de crescimento anual da
economia global durante os próximos anos, e esta desaceleração subirá para 0,9%
no período entre 2020 e 2050. Por estas e por outras razões, é premente apostar
em políticas para contrariar estes dados e adaptar as cidades e as suas
infraestruturas a esta nova realidade e aos diferentes tipos de cidadãos e
visitantes. Por outro lado, os turistas seniores, os casais com crianças
pequenas e os turistas com algum tipo de deficiência, temporária ou definitiva,
são aqueles que mais tempo permanecem num destino, ficando mais tempo alojados
e estimulando ainda mais a economia da região que decidem visitar.
É
neste cenário que o Turismo de Portugal lançou uma linha de financiamento de 5
milhões de euros para apoiar entidades públicas ou privadas a realizarem as
alterações físicas e arquitetónicas necessárias e a criarem novas soluções
inclusivas e universais. Paralelamente está a levar a cabo o programa “All For
All”, com o objetivo de manter o propósito do país como um destino turístico
onde o “Receber bem” é o lema.
Esta mudança e as
adaptações inerentes, pela sua multidisciplinaridade, são desafiantes. A
mudança em causa engloba áreas tão diversificadas como a arquitetura, a
engenharia, o património, a produção de conteúdo, a comunicação, o audiovisual,
a informática, a eletrónica, a sociologia, etc. Esperemos que empresas e
entidades públicas saibam aproveitar esta oportunidade e passemos a dar a
devida importância à universalidade e inclusividade das nossas cidades, dos
nossos hotéis, do nosso património e da forma como o comunicamos para que deixemos
de ter cidades e vilas projetadas com o objetivo de tornar os carros mais
felizes, ao invés de as planear para melhorar a fruição dos seus cidadãos e
visitantes.
Paulo Oliveira Sousa
[artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e
Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da
ICS/UMinho]
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