sábado, março 18, 2017

A Citânia de Briteiros: um legado histórico que não merece mais?

       A Citânia de Briteiros, classificada em 1910 como Monumento Nacional, encontra-se provida de um conjunto de infra-estruturas que levam a uma cómoda e interpretativa visitação do local. No entanto, e após várias tentativas de obter o devido reconhecimento por parte da UNESCO, ainda não obteve o mérito merecido: ser declarada como Património da Humanidade.
Cada vez mais Portugal, de Norte a Sul, afirma-se como um país turístico por excelência, agradando a uma vasta panóplia de turistas, que procuram diversos entretenimentos e adquirir novos conhecimentos. Como país que detém uma invejável riqueza histórico-arqueológica, este fator também pesa muito na decisão de escolher Portugal como ponto turístico.
O facto do centro histórico de Guimarães ter sido elevado a Património Mundial estimulou a vinda de uma enchente de turistas cada vez maior a esta cidade e, consequentemente, procurou-se desenvolver as infra-estruturas necessárias a esta leva turística com que o “berço de Portugal” se deparou. Assim, aproveitando uma visita ao centro histórico vimaranense, a Citânia de Briteiros espera-nos no alto do monte de S. Romão, com uma vista e um legado histórico-arqueológico que nos encantará.
Este sítio arqueológico é reconhecido como um dos mais importantes povoados fortificados no que concerne à designada “Cultura Castreja” no seio do Noroeste Peninsular. Ainda que este local seja, geralmente, evidenciado no contexto proto-histórico, existem no entanto evidências da presença pré-histórica e até mesmo após a Proto-História, altura da romanização da região.
Assim, muito se tem realizado para valorizar este magnífico sítio arqueológico, divulgando-o e até enviando candidaturas à UNESCO para que se distinga como Património da Humanidade, facto esse que ainda não aconteceu, mas não por falta de condições ou tentativas. Provavelmente, só faltará mesmo a “vontade” da UNESCO.
No domínio da valorização do local, apostou-se em novas infra-estruturas que o conotam para uma visita cómoda e que contêm uma componente interpretativa do local, tendo sido criado, em 2003, o Museu da Cultura Castreja na antiga casa de família de Martins Sarmento (o pioneiro arqueólogo que contribuiu para deixar a descoberto grande parte das ruínas deste povoado). Neste museu, dotado de equipamento tecnológico, encontra-se não só o espólio descoberto no decorrer das campanhas arqueológicas mas também informações acerca da evolução dos métodos e técnicas arqueológicos nos séculos XIX e XX, e confere-se ainda particular relevância a objetos pessoais e trabalhos desempenhados por Martins Sarmento. Uma importante componente é a de que se trata ainda de visitas acompanhadas, com marcação, particularmente a escolas e outras instituições.
Para melhorar a interação com a comunidade local e para melhor dar a conhecer os costumes e a vida desta cultura, é realizada a “Citânia Viva”, um evento de recriação histórica nas ruínas. A sua importância reflete-se na participação de habitantes da freguesia de S. Salvador de Briteiros, facto esse que permite a estes habitantes uma relação ainda maior com o seu passado e as suas raízes.
Foi ainda inaugurado um percurso pedestre que inclui a visita à Citânia, tendo sido implementado pela Zona de Turismo de Guimarães com a colaboração da Sociedade Martins Sarmento. Este percurso permite a visita ao museu da Cultura Castreja bem como aos conjuntos de moinhos das ribeiras das freguesias de Várzea e Donim.
O website, por outro lado, possibilitou a criação de um outro meio de divulgação, onde são difundidas diversas informações acerca do local e é ainda possível fazer uma visita virtual ao sítio arqueológico através do computador.
Para além disso, não convém esquecer o notável trabalho que ao longo dos anos se tem desenvolvido no decorrer das escavações, deixando conservadas as estruturas que provam a sua originalidade e monumentalidade. Esse trabalho foi desenvolvido com a colaboração da Sociedade Martins Sarmento e da Universidade do Minho.
            Deste modo, são várias as infra-estruturas que permitem fazer uma visita de regresso ao passado. Vale totalmente a pena a deslocação a este magnífico local inserido numa envolvente paisagística em comunhão com a natureza, remetendo-nos para uma visão romântica daquele povo mítico cujas raízes, ainda hoje, convocam motivos de discórdia entre os académicos.
Assim, perante todos os parâmetros que se levaram a cabo para a valorização de um sítio arqueológico que, no final de contas, é a nossa história também, coloca-se a questão: será que a Citânia de Briteiros não merece mais? Não merece este magnífico local um lugar de destaque na lista do Património Mundial da UNESCO?

Vânia Daniela Martins Moreira


Fontes:
www.csarmento.uminho.pt/docs/pformosa/Briteiros.pps
Lemos, Francisco Sande, ed. lit.; Cruz, Gonçalo Correia da, ed. lit.; Tomé, Cristina, trad.; Castro, Leonor, trad.; Campos, Manuela, trad., Citânia de Briteiros: Povoado proto-histórico, Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, 2011.

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da ICS/UMinho]

Sem comentários: