As questões abordadas no presente artigo
irão centrar-se nas problemáticas inerentes ao futuro da marca Alvarinho na
sub-região de Monção e Melgaço. Essas problemáticas encontram-se intimamente
associadas à produção da casta Alvarinho noutras regiões e à possível perda de
exclusividade da Denominação de Origem por parte destes territórios, até 2021. A
ideia base centra-se no alargamento da denominação à restante região dos vinhos
verdes. A sub-região de Monção e Melgaço goza deste estatuto desde 1989,
resultado da consolidação de recursos humanos e naturais, caraterísticas da
morfologia e composição química do solo. São estas algumas das particularidades
que conferem atributos únicos, reconhecidos a nível nacional e internacional,
ao néctar desta sub-região.
Tal como referi no início, o alargamento
da denominação de origem não é a única ameaça externa ao desenvolvimento da
marca Alvarinho. A utilização da casta em produções nacionais e internacionais
é, segundo a perspetiva de determinados produtores, a principal afronta e
desafio que se coloca às empresas. A casta é igualmente utilizada na divulgação
da marca em detrimento de valores que, na minha opinião, seriam uma mais-valia
na afirmação do Alvarinho produzido em Monção e Melgaço, tal como vamos poder
observar de seguida.
Se seguirmos uma linha de pensamento
imparcial rapidamente concluímos que as eventuais problemáticas alusivas à
casta não deveriam ser alvo de tanta atenção por parte dos produtores. A casta,
em si, não possui qualquer tipo de dono ou nacionalidade e, por esta simples
razão, não deveria ser tão visada.
Considerando que a divulgação da marca
com base na casta não se adequa à afirmação do Alvarinho da sub-região, face a
outros Alvarinhos, qual a melhor estratégia a adotar? A meu ver, os concelhos
de Monção e Melgaço detêm um conjunto de particularidades distintivas no âmbito
da produção de alvarinho, mas não só, que deveriam permitir uma promoção
sustentável da marca. Neste sentido, a estratégia comercial deveria cingir-se à
comunicação do produto com base no território.
O conceito de território deve ser
entendido sob a ótica da sua duplicidade. Território no sentido físico e
geográfico (berço do Alvarinho), e território no sentido social, cultural,
antropológico e histórico. Ou seja, o berço do Alvarinho conta com um conjunto
de singularidades que conferem condições únicas à sua produção. Para além das
condições ímpares dos solos e do clima, o vinho alvarinho encontra-se enraizado
na cultura das populações de Monção e Melgaço. Desta feita, a promoção do vinho
deve basear-se não só nas caraterísticas únicas da sub-região, que resultam em
alvarinhos de excelência, como, também, no caráter cultural, histórico,
económico, e social intimamente associado ao mesmo.
Não quero com isto dizer que não se têm
tomado medidas no sentido da difusão do Alvarinho com base no território.
Destaca-se, por exemplo, a realização de dois eventos no âmbito da sua difusão
(Feiras do Alvarinho em Melgaço e Monção), que se têm vindo a afirmar ao longo
dos últimos anos como ponto de referência na promoção do vinho alvarinho desta
sub-região. Destaca-se ainda a criação do Museu do Alvarinho, onde é possível
observar um conjunto de conteúdos que mostram o território como a justificação
de um produto (Alvarinho). O museu permite ainda estabelecer um ponto de
partida para a prática do Enoturismo, que tem vindo a florescer nos últimos
anos, e permite uma aproximação entre consumidores e produtores.
Todavia, ainda existe um conjunto de
disposições que podem ser um entrave para a divulgação da marca Alvarinho com
base no território. A situação que suscita maiores preocupações prende-se com
as problemáticas existentes na cooperação estratégica entre os dois municípios
e entre as próprias empresas, resultando em carências a nível estrutural e
organizacional que impossibilitam a apresentação do território como uma região
vinhateira de excelência. A meu ver, a solução deveria passar pelo
fortalecimento de parcerias conjuntas de forma a consolidar uma reputação
coletiva, resultando numa modificação estrutural da indústria.
Em suma, para fazer face a estas
problemáticas, será importante, na minha perspetiva, apostar na importância do território
e de todas as componentes que o caraterizam, projetando a marca Monção e
Melgaço e, consequentemente, o seu Alvarinho. A estratégia de produção deve
fixar-se no local de origem do vinho, ou seja, na área especifica que o
projetou e o deu a conhecer ao mundo. Mais do que lutar contra a produção do
vinho Alvarinho noutras zonas, a comunicação deve articular meios orientados
para a fixação da importância deste território na produção de vinhos de
excelência.
Marco Pacheco
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da ICS/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da ICS/UMinho]
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