domingo, março 19, 2017

O 13 que não é de azar

Todas as Sextas-feiras 13 do ano são sinónimo de azar, pelo menos em forma de superstição, para a maioria da nossa população. Digo para a maioria porque, para os habitantes de Montalegre, tem significado diferente. Para estes trata-se de uma data marcada pela alegria, festa e, especialmente, “prosperidade” naquele território.
         Por esses dias as ruas de Montalegre enchem-se de foliões, caraterizados a rigor, para festejar o dia das bruxas, foliões estes que chegam dos mais variados locais do nosso país, mas não só, pois esta inteligente estratégia de promoção turística atravessa as fronteiras do nosso Portugal, provocando também a visita de cidadãos das mais diversas nacionalidades, sendo os espanhóis os visitantes estrangeiros mais assíduos.
          O sucesso das Sextas 13 em Montalegre vai-se mantendo ano após ano e valeu à entidade organizadora o prémio de melhor evento público nos anos de 2010 e 2012, como é referido no sítio da mesma.
 A afluência a este evento é cada vez maior, e em todas as ocasiões que se festeja este dia são esperadas milhares de pessoas em Montalegre. Segundo o presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves, Novembro de 2015 foi talvez a que teve maior adesão, como o próprio fala no sítio oficial da Câmara Municipal de Montalegre: “tivemos seguramente a maior enchente que a Sexta 13 teve desde o início e já vai na décima oitava edição”; reforça, ainda, que, “sem exagero, foi a Sexta 13 que mais pessoas recebeu [...] está em constante crescimento. Estimo que ultrapassou os 30 mil visitantes”.
Relativamente ao investimento realizado neste mesmo ano, o líder do executivo afirma que foram investidos “aproximadamente 150 mil euros” e que foi obtido “um retorno superior a um milhão de euros”.
Números impressionantes estes de 2015, que fazem com que a organização do evento, ano após ano, eleve a sua exigência no que toca à qualidade e diversidade do programa, para que este dia continue a representar para esta região um motivo de orgulho, lazer e, acima de tudo, que contribua para o seu desenvolvimento cultural e económico.
Um caso muito particular em Portugal este de Montalegre, porém comprova como a preparação de um “simples” evento, que inicialmente até foi um pouco desvalorizado e um pouco criticado por ser considerado disparatado, foi tomando as conhecidas proporções e consequentes resultados positivos, sejam eles de cariz económico, cultural ou turístico para esta região, que teve como principal obreiro o Padre Fontes.
Como remate final, Orlando Alves refere ainda que “Quem veio tem sempre vontade de repetir. Quem um dia foi atingido pela mensagem, de que aqui se fazem coisas interessantes, tem a curiosidade de comparecer e isso voltou a acontecer”.
Ainda fazendo referência a esta Sexta 13 de Novembro de 2015, não é só o cidadão “anónimo” que ficou rendido à mesma. Jorge Gabriel, apresentador da RTP, afirmou: “É incrível a vontade popular de vir celebrar uma data que apenas tem influência de superstição para nós. É um misticismo que continua a encantar-nos e não temos resposta óbvia para ele. Só pelo facto de existir um município que consegue aglutinar tanta gente num ponto do interior do país tantas vezes escondido e menosprezado já é fantástico.”.
Relativamente à última Sexta 13 realizada, que foi em janeiro de 2017, e passados dois anos daquela que para Orlando Alves foi a Sexta 13 com a maior afluência de sempre, o autarca mantinha a mesma espectativa, como afirma em declarações num artigo publicado no Sapo 24: “Este evento tem um significado enorme em termos económicos. Tudo isto mexe com a economia local, desde a hotelaria, restauração ou comércio”. Menciona ainda no mesmo artigo que os investimentos voltam a rondar os 150 mil euros e que “o retorno é incomensuravelmente maior”.
São estes números e dados estatísticos que alimentam a vontade de quem prepara este evento, e também do povo de Montalegre, para que as “bruxas” permaneçam pelas terras do barroso por muitos mais anos, engordando assim uma economia local, e tornando este local numa referência nacional do chamado Dark Tourism.
No que diz respeito aos impactos económicos, socioculturais e ambientais que as Sextas 13 trazem para Montalegre, facilmente se identificam os aspectos positivos, porém existem detalhes que  podem ser referidos como algo negativo ou menos positivo para o local, como ilustra a seguinte tabela.

·        Tabela de impactos do evento Sexta 13 em Montalegre

Positivos
Negativos
Económicos
- Retorno financeiro substancial;
- Restauração e hotelaria beneficiam deste evento (Hotéis, restaurantes, bares, cafés, etc.)
- Inflação de preços a nível da restauração e hotelaria, etc.;

Socioculturais
- Orgulho da comunidade;
- Reforço da identidade cultural;
- Valorização da gastronomia local;
- Divulgação de produtos regionais e artesanato local;

- Possibilidade de conflito entre locais e visitantes;
Ambientais
- Nada  a assinalar;
- Possibilidade de destruição de decoração histórico-cultural;

 As noites de Sexta feira 13 em Montalegre, são acima de tudo uma estratégia inteligente de promoção turística por parte do Município de Montalegre. A tendência deste evento, ano após ano, é continuar a crescer e dar a esta região e a este povo um grande encaixe económico.
 Por outro lado, também permite demonstrar o que este local tem de melhor, como é o caso da gastronomia, com as suas carnes e enchidos maravilhosos, o artesanato local, e locais emblemáticos do município como, por exemplo, o Castelo de Montalegre, local central das Sextas 13, onde se realiza a famosa queimada pelas mãos do Padre Fontes.
Sem dúvida nenhuma que este caso de Montalegre se trata de um sucesso a nível nacional, talvez único, no que toca à realização de um evento para a promoção turística e desenvolvimento regional de um determinado local.
A adoção do Dark Tourism por parte de Montalegre não podia ter dado melhor resultado, o que é caso para dizer que Montalegre vive bem com os demónios e bruxas que por ali param.

Afonso Teixeira

Bibliografia:
http://www.sextafeira13.org/


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da ICS/UMinho]

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