Na atualidade, o
turismo não é somente uma atividade de lazer ligada ao ócio e à recreação. É
uma atividade económica importante, que gera muitos empregos e tem o poder de
transformar lugares inteiros para que se possa desenvolver, alterando o quotidiano
das comunidades onde se insere, e de certa forma, suas tradições, costumes e
modos de agir. Assim, podemos dizer que o turismo se impõe como um fenómeno
económico, social, cultural e comunicacional, que envolve tanto as relações
concretas quanto as imaginárias.
No presente texto
irá ser abordado o turismo como fenómeno económico e social.
Como um segmento
económico, o turismo é um dos ramos que mais vem crescendo nos últimos anos,
principalmente em sociedades urbanas, pela sua grande capacidade de gerar
empregos (diretos e indiretos) em diversos setores da economia, pela sua
dinâmica e flexibilidade de expansão e pelos vultuosos lucros que propicia.
CRUZ (2000)
destaca que o turismo surgiu como uma atividade económica organizada em meados
do século XIX, utilizando-se integralmente a infraestrutura criada para os
outros usos do território. “De lá para cá, a atividade deixou de ser uma
usuária passiva dos territórios para tornar-se um agente condicionador de seu
(re) ordenamento” CRUZ (2000: ?). Essa capacidade de (re) organizar sociedades
inteiras para que o fazer turístico possa acontecer demonstra a força de ação,
muitas vezes avassaladora, dessa atividade. Mas isso não deve ser confundido
como um vetor de crescimento. O desenvolvimento turístico não é sinónimo de
desenvolvimento económico, na medida em que “nenhuma atividade económica
setorial pode assegurar um desenvolvimento global que contemple todas as dimensões
da vida social” (CRUZ, 2000: 25).
Essa contradição
é chamada por LEMOS (1998) de o “mito do desenvolvimento”. Na verdade, o que se
verifica é uma confusão a respeito dos conceitos de crescimento económico e de
desenvolvimento económico. KOTLER (1994) considera como desenvolvimento económico
o aumento da produção vinculado a uma diversidade maior de produtos, ou seja,
novas indústrias, maior utilização produtiva de recursos e mais inovações. Segundo
LEMOS (1998), o que o turismo pode representar é uma alternativa concreta de
crescimento económico, e não de desenvolvimento económico.
Segundo CRUZ
(2000), o turismo é antes de tudo, uma prática social que envolve o
deslocamento de pessoas pelo território, e que tem no espaço geográfico seu
principal objeto de consumo. Essa prática social envolve um número significativo
de atividades produtivas e disso decorre, em parte, a capacidade do turismo de
ordenar e reordenar territórios para o seu uso. Para ALMEIDA (2003: 1) o
turismo contemporâneo “tornou-se responsável pela maior circulação temporária
de homens e mulheres nas diversas partes do planeta”. O aumento desses fluxos
de deslocamento e de circulação de pessoas, mercadorias, ideias e informações
decorre, principalmente, da difusão de novas tecnologias de transporte e
comunicação, que promovem uma maior articulação entre o mundo e o lugar.
Dessa maneira, as
especificidades dos lugares são transformadas em mercadorias turísticas, pela
lógica mercantil, que por meio da publicidade transforma as particularidades
locais em objetos de consumo. Assim, as áreas rurais, as matas, as praias, os
rios, as cidades, o património, bem como a própria cultura, enfim, tudo tem um
potencial turístico e pode se transformar num atrativo porque “o turismo é
capaz de reorganizar sociedades inteiras para que ele possa acontecer” (CRUZ,
2000: ?) ao colocar sua lógica de organização dos espaços (a do lazer), sobre
as lógicas pré-existentes.
Segundo Marujo (n/d), além do evidente fenómeno económico
que está indissociável do turismo, podemos
destacar que o fenómeno turismo desperta interesse por vários motivos: causa um
forte impacto nos indivíduos e grupos familiares que se deslocam, provoca
mudanças no comportamento das pessoas e agrega conhecimento àqueles que o
praticam. Este fenómeno permite ainda o cruzamento de diversas culturas, e é um
meio de difusão de novas práticas sociais e aumenta as perspetivas de obtenção
da paz e da compreensão e aceitação de diferentes culturas.
Concluindo: o
turismo é um agente de mudança social, afeta todos os todos os fatores que
estão vinculados a uma cultura, valores, crenças, normas e ideologias, tem
portanto um papel socializador, o que permite não só crescimento económico como
desenvolvimento social.
Soraia Oliveira
Bibliografia
- ALMEIDA, Maria.
Lugares turísticos e a falácia do intercâmbio cultural. 2003. (mimeo).
- CRUZ, Rita.
Turismo, território e o mito do desenvolvimento. Espaço e Geografia, vol. 3, no
1, 2000: 19-26.
- KOTLER, Philip.
Marketing público: como atrair investimentos, empresas e turismo para cidades,
regiões, estados e países. Trad. Eliane Kanner. São Paulo: Makron books, 1994.
- LEMOS, Leandro.
Os sete mitos do turismo: a busca de alguns conceitos fundamentais. In: GASTAL,
S. (org). Turismo: 9 propostas para um saber fazer. Edição dos autores, 1998:
65-78.
-MARUJO, Maria
(n/d). A Sociologia e o Turismo. Centro de Investigação em Sociologia e Antropologia
“Augusto da Silva”.
(Artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de
opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no
2º semestre do ano letivo 2016/17)
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