O ano de 2016 foi mais um ano de recordes para o turismo em Portugal. O número
crescente de hóspedes e das respetivas dormidas são a prova disso. Subiram os
proveitos dos estabelecimentos de alojamento e aumentaram as exportações de
viagens e turismo.
Neste sentido, podemos recorrer a ilustrações numéricas que vão de encontro
ao que foi exposto anteriormente. Um indicador que muitas vezes é utilizado
como fator de competitividade é o RevPAR (receita por quarto
disponível), por assumir valores relativamente reduzidos. Dados fornecidos pela
PWC, demonstram que para o ano de 2015 este indicador assumiu valores de 50,60
euros para o Porto e de 75,30 euros para Lisboa. Comunicação feita pela mesma
fonte, prevê que estes valores tenham sido em 2016 de 56 euros e 75,30 euros
para as cidades do Porto e Lisboa, respetivamente. A evolução positiva deste indicador, que se prevê
continuar em crescimento, leva a concluir que estamos a trilhar o caminho
certo.
Ainda assim, apesar de todos estes bons indicadores, o
setor tem sido alvo de criticas negativas, nos últimos tempos. Dessa forma,
poderia construir-se uma lista exaustiva de todas estas críticas, mas uma delas
é a que decorre do contexto sugerido pelo título do texto.
Ouvimos dizer que quem nos visita é
"pé-descalço" ou "turista pé-de-chinelo". Esta expressão
tem uma interpretação clara. O que com ela se quer dizer não é nada mais nada
menos que uma crítica à classe sociocultural e financeira daqueles que nos
visitam, caraterizando-os como gente pobre, do povo, que pertence a uma classe inferior da sociedade.
É exatamente neste ponto, da caraterização dos
turistas, que discordo e até confesso a minha incompreensão; se não, vejamos: Reino
Unido, Espanha, França e Alemanha são os nossos principais mercados emissores, juntos,
representam mais de metade dos mais de 11 milhões de turistas internacionais
que recebemos em 2016. Qualquer um destes países apresenta um rendimento médio bastante superior ao português. Muitos poderão contra-argumentar que as médias escondem
muita informação. Sem dúvida. No entanto, não foram encontrados dados, à
exceção dos que resultam dos inquéritos ao turismo internacional, que me permitam
fazer a caraterização socioeconómica de quem nos visita.
Contudo, é garantidamente que os salários mínimos de Alemanha,
Reino Unido e França são razoavelmente superiores ao salário médio em Portugal e, daí, fica
espaço para questionar quem é que, afinal, anda de chinelos senão mesmo
descalço.
Nada de novo será dito quando afirmamos que nos anos
50 a ideia era a de que Portugal não tinha condições para atrair pessoas com
elevado poder económico. No entanto, será aceite por todos a ideia de que devemos
trabalhar para atrair pessoas com elevado poder económico, isto é, turistas Louboutin.
Em jeito de conclusão, creio que o nosso país deve estar preparado para
acolher todo o tipo de turista, independentemente da sua classe social, criando
assim um leque variado de serviços de suporte ao produto turístico. Devemos,
por isso, diversificar no alojamento, na restauração e em todos os serviços de
apoio, para que possamos acolher desde turistas “pé-de-chinelo” e turistas louboutin. Assim, haverá sempre uma
grande diversidade de culturas, e “diversidade de calçado” que acabará por
enriquecer o nosso país.
Ana Margarida
Ferreira Lima
(Artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de
opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no
2º semestre do ano letivo 2016/2017)
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