Portugal é
um país de futebol. Quer apreciemos ou não, eventos de sucesso como o Euro 2004
atraíram perto de um milhão de turistas para Portugal. Contudo, os grandes
investimentos subjacentes a este evento desportivo de enorme envergadura
originaram acesas discussões. Então, e se conseguíssemos atrair o mesmo número de
turistas sem qualquer investimento? Parece pouco realista, no entanto,
refiro-me ao facto de Portugal ser capaz de aproveitar as suas vantagens competitivas
para ampliar a proposta de valor do país ancorada num recurso que nos distingue
– o Mar Português.
Portugal Continental
dispõem de mais de 800 quilómetros de costa, de um clima temperado com bastante
sol e de condições naturais únicas para o desenvolvimento do Turismo Náutico,
como complemento do produto turístico “Sol e Mar”. A combinação destas
potencialidades com a realização de prestigiados eventos mediáticos internacionais
tem vindo a posicionar Portugal como o principal destino de surf da Europa e um dos melhores do
Mundo, o que me motivou a explorar este segmento de aposta do turismo no
contexto do nosso país.
Existe uma
multiplicidade de locais em Portugal que todos nós associamos à prática desta
modalidade. Por exemplo, a Ericeira foi considerada pela organização
norte-americana, Save the Waves Coalition,
em outubro de 2011, como a Primeira Reserva de Surf da Europa e a Segunda do Mundo, depois de Malibu, na
Califórnia. Mais a norte, Peniche, é sinónimo de mar, de pesca e, claro, de surf. É nesta cidade que se localiza a
Praia de Medão, mais conhecida por Supertubos, onde decorre anualmente uma das
etapas do Campeonato Mundial de Surf,
o “RipCurl Pro”.
Mas não se
pode falar de surf sem falar na Nazaré
pois, afinal, foi nesta vila piscatória que o havaiano Garrett McNamara entrou para o Guinness
World Records ao surfar, em
novembro de 2011, uma onda com cerca de 30 metros. A partir daí, a Praia Norte
da Nazaré, onde o surf fez crescer a
economia, tornou-se uma atração turística tanto para surfistas destemidos como para fãs deste desporto que se deslocam
para observar o fenómeno das ondas gigantes.
Dados do
Instituto Português do Desporto e da Juventude, I.P., revelam que o número de surfistas federados tem registado uma
tendência crescente ao longo do tempo e que, em 2015, existiam 2.144 surfistas federados em Portugal. No
entanto, de acordo com a Associação Nacional de Surfistas, este número corresponde apenas a cerca de 1% dos
praticantes da modalidade, indicando que a grande maioria pratica este desporto
por lazer.
Para além disso,
nos últimos anos, a aposta nesta modalidade em Portugal levou à criação de
inúmeras escolas de surf, à
inauguração de lojas de renome como a Lightning
Bolt e a Ericeira Surf Shop, ao
aparecimento de marcas especializadas no fabrico de pranchas como a Boardculture, à criação de revistas
nacionais de surf, etc. Para além
disso, registou-se um aumento significativo na oferta de alojamentos
não-tradicionais, como os Surf Camps
e os Surf Hostels.
Neste
sentido, de acordo com a Associação Nacional de Surfistas (2015), o impacto económico do surf em Portugal ronda os 400 milhões de euros anuais quando
consideramos a indústria do surf, o
turismo associado ao surf e a receita
anual gerada pelos surfistas sempre
que praticam o seu desporto de eleição.
Considerando
o nosso território nas suas dimensões marítima e terrestre, 97% de Portugal é
mar, pelo que, tal como comecei por referir, no surf, não é necessário construir “estádios”. Nós temos o recurso e
a capacidade de atrair turistas para uma modalidade que prima por ser não
sazonal, ambientalmente sustentável e “sem bilheteira”.
Na minha
opinião, esta vocação de Portugal para o surf,
aliada aos serviços complementares turísticos de elevada qualidade, como o
alojamento e a gastronomia, constituem uma oportunidade para a dinamização das
economias locais e, sobretudo, para o desenvolvimento do país em termos
turísticos.
Por tudo o
que foi dito, o surf tem ganho
relevância mundial e, prova disso, é o facto de estrear-se nos Jogos Olímpicos
de Verão de 2020, que se irão realizar em Tóquio, no Japão. Em termos
nacionais, considero que Portugal deveria apostar neste “Mar de oportunidades” em
todas as suas vertentes e delinear uma estratégia que aposte no Surf enquanto negócio, criador de
emprego e desenvolvimento, nunca esquecendo a valorização da costa, das ondas e
das nossas belíssimas praias.
Ana Catarina
Pereira Pimenta
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2016/17)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2016/17)
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