O processo de produção de determinado
produto numa região encontra-se muito ligado a uma determinada caraterística
geográfica. Desta forma, é necessário que o produto possua um registo histórico
significativo e que disponha de um valor cultural acrescentado para que possa
facilmente ser associado a algo específico. É neste panorama que decidi inserir
o caso do traje à vianesa, um produto composto por múltiplas peças e que se
encontra intrinsecamente relacionado com o quotidiano de antigamente das
populações, com as danças folclóricas do Alto Minho e com o evento que é
considerado a maior romaria de Portugal, a festa da Senhora da Agonia,
realizada todos os anos em Agosto, em Viana do Castelo.
Tal como acontece com tantos outros
produtos já possuidores de certificado, o traje à vianesa precisava de dar este
este passo para salvaguardar a identidade do produto e os interesses dos seus
produtores. Sem dúvida que o Traje Vianense tornou-se num símbolo de Portugal,
dentro e fora de fronteiras, representando uma espécie de ‘ex- líbris’ do conhecimento
artesanal português devido à sua imagem tão caraterística e, ao mesmo tempo,
diferenciadora, que tantas vezes foi retratada em publicidade e produtos.
Considero que o facto de o produto ser
tão reconhecido a nível nacional e até mesmo ser usado como um “traje nacional”
terá facilitado, ao longo das décadas, a transposição dos limites fronteiriços
da região que lhe dá o nome, quer a nível de produção, quer a nível de uso.
Somente em 2015 é que a Câmara Municipal
de Viana do Castelo procedeu à candidatura do seu traje a um lugar no Registo
Nacional de Produções Artesanais Tradicionais Certificadas. Com o processo de
certificação concluído em 28 de Dezembro de 2016, ficam não só delimitados os
núcleos geográficos de produção bem como os parâmetros, que englobam medidas,
cores, texturas, técnicas e moldes.
No caso dos produtores, este certificado
deve representar uma forma de combate à apropriação do produto por parte de
outras regiões, incentivo a nível económico e de motivação pessoal para que
cresça o número de artesãos, de forma a assegurar a produção artesanal do
produto no futuro.
A análise do despacho da Assembleia da
República emitido sobre este processo de certificação permite concluir que os
pontos que constituem o certificado podem servir também como uma espécie de
regulamento do bem trajar, o que certamente agradará aos folcloristas mais
conservadores. Ao assumir-se como um regulamento do bem trajar, poderia ser
usado para impor regras de rigor etnográfico aos elementos femininos que
participam no desfile que ocorre na festa da senhora da Agonia e, por outro
lado, aos grupos folclóricos existentes fora da região, e até mesmo fora de
Portugal, que envergam este traje nas suas performances,
de forma a valorizar e a dignificar a essência do traje à vianesa.
Bebiana Raquel Freitas Pereira
Despacho (extrato) n.º 15606/2016. Diário da República n.º 248/2016, Série II de 2016-12-28. Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e Economia - Instituto do Emprego e da Formação Profissional, I. P. Lisboa. Disponível em: https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-/search/105606672/details/normal?q=traje%20a%20vianesa%20
BALEIRAS, Rui Nuno (Coord.) [2011], Casos de Desenvolvimento Regional, Princípia Editora, Cascais.
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da ICS/UMinho]
Bebiana Raquel Freitas Pereira
Despacho (extrato) n.º 15606/2016. Diário da República n.º 248/2016, Série II de 2016-12-28. Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e Economia - Instituto do Emprego e da Formação Profissional, I. P. Lisboa. Disponível em: https://dre.pt/web/guest/pesquisa/-/search/105606672/details/normal?q=traje%20a%20vianesa%20
BALEIRAS, Rui Nuno (Coord.) [2011], Casos de Desenvolvimento Regional, Princípia Editora, Cascais.
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da ICS/UMinho]
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