sábado, março 11, 2017

Desenvolvimento regional: marcas portuguesas de nome estrangeiro

         Sempre que viajo para o exterior, o meu pensamento é exatamente o seguinte: “O meu país é tão bonito e seguro. Tenho sol, praia e uma gastronomia de fazer crescer a barriguinha. Para além disso, é muito mais limpo do que o sítio onde eu estou agora. Já tenho saudades.” Digamos que a minha veia cosmopolita tem uma duração inferior a cinco dias.
Há quem diga que “quanto mais conheço pessoas, mais gosto do meu cão”, e eu fiz o meu próprio provérbio “quanto mais conheço outros países, mais gosto do meu país” porque na verdade existem poucos países com uma abrangência de atributos tão elevada quanto o nosso. E a verdade é que poderia estar aqui horas e horas a falar sobre as qualidades do nosso Portugal, mas não é por isso que estou aqui.
            Estou aqui para falar sobre uma tendência, quase um mito, que tem que ser desmistificado. Para uma marca crescer e ser feliz não precisa de ser escrita em inglês. Não tentem culpabilizar o fracasso de uma internacionalização pelo seu nome. Valorizem mais o que é vosso e a suas origens. A autenticidade nunca amaldiçoou ninguém.
 Lembrem-se que nós portugueses descobrimos o Mundo, antes de todos os outros lá chegarem. E temos vários exemplos de marcas que correram e correm mundo, escritas em português. As pulseiras Cabo de Mar estão em 13 países. As sabrinas de luxo, Josefinas, rodopiam em Nova Iorque.
A emblemática Silampos é uma marca 100% portuguesa que exporta para 50 países. A marca portuguesa de sapatos Felmini é uma das marcas que mais vende em Itália e até calçou uma das protagonistas da saga Transformers, com as suas botas fabricadas em Felgueiras. A marca Meia-Dúzia, que comercializa compotas em bisnaga e está presente nas cidades de Bruxelas, Berlim e Viena, para além de utilizar um nome português, escolheu ainda uma palavra singularmente portuguesa: “meia dúzia”.
Os pompons das sandálias da marca Alameda Turquesa foram ainda distinguidos em editoriais da Vogue Japão pela italiana Anna Dello Russo, e ainda conquistaram o único lugar português na loja online de Chiara Ferragni, considerada a blogger de moda mais influente do mundo. Por isso, como vêem, nada é impossível. E se a marca tiver realmente “pernas para andar” não será o nome em português que a vai impedir de percorrer o seu caminho.
A assinatura Luís Onofre é também um exemplo disso. Sempre com o escudo de Portugal nas solas, Luís Onofre já calçou Michelle Obama, a rainha Letizia, de Espanha, a princesa Victoria, da Suécia, as atrizes Penélope Cruz e Naomi Watts. E, recentemente, a milionária norte-americana Paris Hilton, voltou atrás, depois de deixar um hotel em Madrid, para recuperar a caixa exclusiva, forrada em cetim, dos seus sapatos Luís Onofre.
E para finalizar, uma outra tendência, inclinação ou até mesmo uma disposição natural poruguesa de apenas reconhecer o mérito quando ele começa a ser falado fora do nosso país: sabíamos que era feito em Portugal e agora até vamos tratar de recomendar a outras pessoas porque finalmente descobrimos o valor do produto. O exemplo é de Amália Rodrigues, que na década de 40 já era conhecida, famosa e fortemente referenciada em todo o mundo, e só na década de 90 é que pisou pela primeira vez o palco do Coliseu, por iniciativa da Rádio Renascença e de António Sala, locutor e cantor português.

Filipa Cibrão Ribeiro
  
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2016/17)

Sem comentários: