O conceito de “Turismo Negro”, embora desconhecido pela maioria das pessoas, tem
ao longo do tempo despertado interesse e fascínio. Esta é considerada por
alguns autores como uma das mais antigas formas de turismo: “ desde que as pessoas são capazes de
viajar, que têm sido atraídas – intencionalmente ou não – para lugares,
atracções ou eventos que estão, de uma forma ou de outra, relacionados com a
morte, o sofrimento, a violência e o desastre” (Stone, 2005). Outros autores
encaram o Dark Tourism como um
fenómeno moderno, com início no século XX (Lennon e Foley, 2000). Sharpley (2009) diz-nos que esta área de
estudo foi crescendo de popularidade junto dos turistas e académicos.
Segundo a minha opinião,
esta popularidade está relacionada com o modo como as pessoas encaram a morte, ou
seja, como inevitável, no entanto evitando falar de dor e de perda, mas ao
mesmo tempo refletindo em como será a vida após a morte e formulando opiniões.
Para isso, segundo Walter (2009), existem meios que atuam como mediadores da
morte, que são: “arqueologia, sepulturas, genealogia, música, literatura, lei,
família, língua (oral e escrita), fotografias, História”. Estes três últimos dão
origem, na nossa sociedade, ao turismo e aos meios de comunicação.
Existe
uma curiosidade intrínseca em todos nós e que se pode verificar em casos em que
se observa um acidente de viação, em que as pessoas se juntam a observar, num
misto de curiosidade e terror. Um exemplo foi quando ocorreu o ataque
terrorista ao voo 103 da Pan Am, em Lockerbie (Escócia), em 1988. A imprensa
relatou uma fila de mais de 9km para o local do acidente, e a AA (Automobile
Association) recebeu pedidos de mais de 2000 pessoas a perguntar qual o melhor
caminho para o local.
Atualmente,
os cemitérios, ou seja o turismo cemiterial também tem vindo a crescer. Estes
servem de local de culto, de reflexão pessoal, e por isso têm uma forte carga
de simbolismo religioso, histórico e cultural.
A
preservação de alguns lugares como sítios de memória da História é importante
para que não se voltem a repetir erros do Passado. Servem de exemplos de como a
Humanidade por vezes esquece o valor da vida humana. Destinos como Auschwitz
(campos de concentração), Vilnius (Museu de Homenagem às vítimas do Genocídio),
Latvia (Prisão Hotel e Museu), Chernobyl (acidente nuclear), Nova Iorque (World
Trade Center), Rio de Janeiro (favelas), entre outros, são os locais mais
procurados e visitados pelos turistas em todo o mundo.
A oferta turística deste tipo de
turismo é diversificada e em alguns destinos ocorreram de facto mortes e
atrocidades, outros são construídos (propositadamente) para recriar eventos
sombrios. Temos aquilo que se chama de Turismo Negro mais escuro e o Turismo
Negro mais claro, segundo o espectro de tonalidades da Oferta de Turismo Negro
de Stone (2006).
Economicamente, estes
locais promovem a sustentabilidade e a preservação através do dinheiro
proveniente dos turistas. No entanto, será ético que a partir de um
acontecimento trágico ou de um local como um campo de concentração, onde
ocorreram imensas mortes a judeus, se tire vantagem para promoção do turismo? Essa é uma questão que me preocupa, isto é,
a morte ser usada apenas como um negócio turístico com o intuito de gerar
lucro, sem se refletir no propósito maior de alguns destes locais.
Para concluir, concordo
que o interesse por locais de ligação com a morte é algo que sempre esteve
presente na nossa vida e que a partir da época moderna este começou a ser mais
conhecido como forma de Turismo. No entanto, não concordo com o facto das
agências turísticas se aproveitarem de situações trágicas ou acontecimentos
fatídicos para gerarem lucro em volta desses locais.
Sandra Daniela Silva
Fontes:
https://pt.slideshare.net/patricia-vitorino/turismo-negro-24648365,etc.
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da ICS/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, da ICS/UMinho]
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