Passagens aéreas acessíveis, aplicativos de celular
para taxi, sites para encontrar
hotéis, ferramentas de tradução instantânea, mapas online. É indiscutível que a infinidade de ferramentas eletrônicas
e a facilidade de obtenção de crédito têm impulsionado o desenvolvimento do
turismo. Soma-se a isto o fato da não tão recente indução dos media sociais de que uma felicidade
plena só se é alcançada quando outros lugares do mundo são conhecidos e outras
culturas são vivenciadas; viagens estas comprovadas por fotos posadas com o Taj
Mahal, Machu Picchu, Times Square ou Torre Eiffel ao fundo.
Mas será que apenas a rápida passagem por estes pontos
turísticos conhecidos mundialmente, que elevam os índices do turismo de massa,
realmente oferecem o preenchimento que o viajante procura?
A partir desta dúvida, um maior número de turistas tem
evitado despender dias visitando reconhecidos pontos turísticos, e, em substituição,
procuram locais frequentados pelos próprios habitantes daquele local. Tal cenário
possibilitou a criação de novos produtos turísticos - conjunto de componentes
tangíveis (como ruínas arqueológicas, museus, restaurantes clássicos) e
intangíveis (como a hospitalidade dos locais, quantidade de atenção e
informação disponibilizada) - alternativos.
É crescente, por exemplo, o número de sites independentes dos governos locais
– secção turismo - sobre acontecimentos na cidade, agendas de festivais de
música e cultura, lista de pequenos museus, parques e pubs com conotação histórica e não muito propagados. Também é
crescente o número de informações disponibilizadas sobre turismo rural.
Neste ponto, é importante pontuar as principais
diferenças entre o turismo de massas e o turismo alternativo: enquanto no
primeiro – e mais realizado – pessoas buscam conhecer lugares tradicionais, com
roteiros pré-programados, geralmente com o apoio de uma agência de viagem ou a compra
de pacotes que incluem hospedagem, passagens aéreas e guia local; no segundo,
pessoas com espírito aventureiro buscam conhecer novos locais e experiências,
sendo seu próprio guia, e vivenciam mais de perto o local que visitam.
“[...] práticas alternativas privilegiam a pequena
dimensão e a localidade no que respeita à natureza dos complexos, valorizam as
energias alternativas e a produção local bem como procuram o contacto directo
com as comunidades, tentando conhecê-las e com elas relacionar-se porque estas
representam e simbolizam, em última instância, o exótico e diferente, o
primitivo, a tradição, a identidade comunitária e a autenticidade [...]”.¹
Outras características ajudam a identificar o tipo de
turismo que está a ser realizado:
·
Transporte:
no turismo de massas, a locomoção entre locais é feita por transporte
contratado, enquando que no turismo alternativo é feito por transporte público,
pedal ou carona.
·
Estilo
de acomodação: no turismo de massas, os viajantes geralmente ficam em
conceituadas redes hoteleiras, com quartos privados; no turismo alternativo, os
viajantes procuram por pousadas ou albergues, o que aumenta as oportunidades de
mais contato com pessoas locais.
·
Estilo
de compras: turistas envolvidos em turismo de massas procuram frequentar as
lojas com marca conhecido mundialmente, enquanto no turismo alternativo
viajantes procuram trocar experiências com artesãos locais e não apenas comprar
o produto.
Há, ainda, a possibilidade do turismo alternativo
realizado em determinado local transformar-se em turismo de massas. A procura de
alojamento mais barato, encontrado na própria moradia dos locais, que começou
de forma lenta e de pouca intensidade (AirBnB), passou recentemente a concorrer
com grandes agências de viagem reconhecidas mundialmente, como Booking.com,
E-Drams.com e Expedia.com. Um exemplo ainda mais tangível é o das fazendas
produtoras de vinho na Itália e produtoras de café no Brasil que passaram a
receber estrangeiros por um determinado tempo, onde uma troca é realizada:
trabalho voluntário em troca de alojamento.
Sendo assim, o turismo é uma atividade com grande
facilidade de agradar a pessoas com estilos e necessidades diferentes: enquanto
umas buscam aventura, outras busca segurança; enquanto umas preocupam-se com
roteiros e horários para um proveito melhor programado, outras deixam-se
surpreender pelos possíveis acontecimentos de situações inesperadas. A questão
não é apontar qual é a melhor alternativa para quem utiliza o turismo como
fonte de lazer e expansão do conhecimento, mas alertar àqueles que trabalham na
área que, com a mudança das necessidades dos indivíduos, inúmeras alternativas
podem surgir, e um elevado número de novas ferramentas e produtos que seguem
esta filosofia alternativa e independente – com uma prática responsável- podem
crescer econômica e financeiramente, uma vez que ainda há mercado para ser
explorado por este segmento.
Amanda Regiane
Bucci
Referências:
¹ O presente artigo de opinião foi fortemente suportado
na comunicação intitulada “O Turista e o Viajante: contributos para a conceptualização do
Turismo Alternativo e Responsável”, de Brígida Rocha Brito, apresentada no IV Congresso Português de Sociologia,
que pode ser lido na íntegra em:
http://www.aps.pt/cms/docs_prv/docs/DPR462dea1a49422_1.PDF.
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2016/2017)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2016/2017)
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