A
30 de Novembro de 2016, a falcoaria portuguesa foi classificada pela UNESCO
como Património Cultural Imaterial da Humanidade, um dia depois do fabrico do
barro preto de Bisalhães ter sido também ele classificado com um caráter
urgente de salvaguarda. Estas distintas artes foram as duas mais recentes
classificações do património português, no entanto, o número de candidaturas a
esta classificação tem aumentado de ano para ano e prova disso têm sido as constantes
notícias a que temos assistido.
Em
2011, a diretora geral da UNESCO, Irina Bokova, já tinha alertado para o
excesso de candidaturas referindo que A
Convenção do Património Imaterial é uma oportunidade para descobrir expressões
culturais de todo o mundo, mas poderá ser vítima do seu próprio sucesso.
Se,
por um lado, temos um país rico em tradições populares, artesanato e
gastronomia, por outro, parece que só o valorizamos quando uma entidade de fora
o classifica como património da humanidade. É certo que este tipo de
classificações traz um reconhecimento externo mas não seria mais lógico
encontrar medidas para primeiro promover o património dentro da comunidade
local ou até mesmo no próprio país? Será que é necessário alguém de fora vir
afirmar que um determinado tipo de património é importante e deve ser
salvaguardado? Talvez a questão mais importante seja perceber porque motivo algumas
destas candidaturas são aprovadas, mas com um caráter urgente de salvaguarda,
isto é, a candidatura é aceite não só pelo seu caráter de autenticidade e
genialidade, mas sobretudo porque o património em questão está em risco de
desaparecer.
No
fundo, a lógica de candidaturas no caso português tem sido invertida pois estas
não são apresentadas porque uma determinada arte, oficio ou tradição é
importante e representativa da cultura portuguesa, mas sim porque não existem
planos e medidas de salvaguarda internas, tornando-se necessário a UNESCO
intervir. A arte chocalheira e o fabrico de barro preto de Bisalhães são dois
dos exemplos onde este tipo de classificação é aplicada. Na arte chocalheira,
apenas existem 13 mestres a continuar a arte, e no fabrico de barro preto,
apenas 5 com idades próximas dos 75 anos. Nestes dois casos, não deveria ser
necessário uma classificação para existirem medidas de salvaguarda. As medidas
de proteção e valorização destas artes deviam surgir através da integração e
sensibilização da população local e nacional.
Por
fim, além das medidas de salvaguarda, as classificações da UNESCO trazem aos
municípios uma visibilidade que antes não existia, contribuindo muitas vezes para
crescimento económico, tornando as classificações num alvo apetecível e numa
espécie de estratégia de marketing.
Concluindo,
por trás de uma classificação, surge muitas vezes a ideia que o património adquire
mais valor perante o visitante. Contudo, não nos devemos esquecer que qualquer
tipo de património só pode ser valorizado pelos outros se for, em primeiro
lugar, valorizado por nós.
Catarina Sousa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
Catarina Sousa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
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