Todos os anos são realizados em Portugal
diversos festivais de verão que trazem consigo milhares de pessoas, quer
portugueses, quer estrangeiros. Neste ponto encontramos o BOOM Festival como um
dos festivais que atrai mais estrangeiros ao nosso país.
O BOOM Festival começou em 1997 e na altura
realizava-se em Marateca, Águas de Moura, com apenas 4000 festivaleiros. Em
2012 passou a realizar-se em Idanha-a-Nova, Castelo Branco, sempre com um
crescimento acentuado de edição em edição, contando com 43 mil festivaleiros na
edição de 2014.
O BOOM é mais que um festival de música. Lá,
podemos encontrar desde workshops a
palestras, concertos, ioga, meditação, massagens e tratamentos corporais a dj´s sets de música trance e outros tipos de música eletrônica. Mais que um festival de
música, o BOOM já é considerado uma celebração, um festival transformacional,
onde a principal preocupação é a ecologia, a bioconstrução, a reflorestação e a
reciclagem.
Reconhecido mundialmente, já ganhou 4 vezes o
prémio Greener Festival Award, ganhou
em 2012 o Green Inspiration Award, pelas inovações ambientais, o European Festival Award, para o festival
mais ecológico em 2010, e foi ainda reconhecido pela Rolling Stone como um dos 7
Wildest Transformational Festivals.
Desde 2012 que os bilhetes tendem a esgotar com
uma enorme facilidade, sendo que em 2014 estiveram 44 mil pessoal no festival
mas decidiram limitar a 33 mil festivaleiros na edição de 2016, esgotando os
bilhetes em apenas um mês. As pessoas que vêm até Portugal para este festival
são oriundas de 154 países (edição de 2016).
Conseguimos perceber o quanto tem crescido o
BOOM Festival através do aumento do número de casas de banho de compostagem nas
diferentes edições do festival; a saber:
2006-20; 2208-90; 2010-176; 2012-186; 2014-284.
Mas que importância tem este festival
alternativo para Idanha-a-Nova? TODA! Sempre que existe uma edição do festival,
a agitação chega a esta pequena vila. O único hotel fica com 100% de lotação,
sendo que os ocupantes chegam dois meses antes do festival. Os supermercados
aumentam a sua venda em 40%, tendo mesmo que contratar mais funcionários e
arrecadar mais stock na altura do
festival para dar vasão a todas as pessoas novas que lá chegam.
É de salientar que dentro do festival, na área
de restauração, encontramos restaurantes estrangeiros mas também diversos
restaurantes locais, sendo que o BOOM dá muita importância aos produtos locais,
tendo como preferência produtores da região. Juntando a isto, temos o facto de
o BOOM doar receitas para ajuda de projetos locais, como a Associação Sementes
do Interior e Misericórdias com projetos de preservação de fauna e flora.
Em todas as suas edições o BOOM Festival conta
com 400 voluntários portugueses e estrangeiros, mas emprega cerca de 1.500
residentes do concelho. Segundo Artur Mendes, um dos responsáveis do festival,
em entrevista ao Noticias ao Minuto:
"o número de residentes empregados é
de cerca de 2.580 e o de pensionistas 4.490, a que se soma uma taxa de
desemprego de cerca de 15,9%", sendo que a criação de postos de trabalho
mesmo que temporários ajuda no combate ao desemprego na região.
Muito ligado ao consumo de drogas e visto negativamente pela
maioria das pessoas que não conhecem verdadeiramente o festival, este já é uma
marca para Idanha-a-Nova. Aqui, a população convive com os festivaleiros, sendo
já o festival uma marca de orgulho para a vila. Além da vivacidade e animação
que o festival trás à vila, ajuda a economia local, desde a hotelaria ao
comércio e à restauração. Muitas das pessoas aproveitam o movimento do festival
para combater o fraco movimento do resto do ano, principalmente do inverno
calmo e parado caraterístico do interior do país.
Presente numa área cada vez mais despovoada e abandonada, o
BOOM Festival trás a alegria, põe a economia a mexer, cria emprego e dá a
conhecer a milhares de pessoas uma parte de Portugal que muitos desconhecem.
Longe das grandes cidades e da praia portuguesa tão bem falada, o BOOM atrai
cada vez mais estrangeiros (mais de 90% dos festivaleiros) ao nosso país, sendo
que muitos deles acabam por ficar mais tempo do que o do festival para
conhecerem mais um pouco do nosso maravilhoso país.
Dentro do festival sentimo-nos como que numa aldeia
multicultural gigante, onde raças, nacionalidades e etnias não interessam a
ninguém, onde se privilegia a amizade, a paz, a cultura, a felicidade. Os
sorrisos que por lá se espalham são verdadeiros e contagiantes, e ultrapassam
as barreias do festival e se elevam à população em redor.
Enquanto participante de três edições do festival, sei sem
dúvida que são raros os portugueses que por lá se encontram, mas ao
dirigirmo-nos aos bares, postos de informação e afins deparamo-nos com
portugueses a ocuparem esses postos de trabalho, percebendo o quanto o BOOM dá
primazia ao combate ao desemprego em Portugal. Na edição de 2012 existiram até
bilhetes mais baratos para desempregados a longo prazo e estudantes
universitários portugueses, mostrando que o festival não é apenas capitalista
mas que se importa com a situação económica do país e tenta atenuar a crise
sentida em Portugal.
Distinguindo-se dos mais diversos festivais realizados pelo
nosso país fora, o BOOM tem como caraterística o facto de não querer apenas
acumular capital mas promover acima de tudo uma mudança na sociedade atual. Alfredo Vasconcelos, da organização do BOOM Festival,
adiantou que o evento movimenta cerca de 12 milhões a 13 milhões de euros, em
cada edição, e tem um impacto direto de 30 milhões a 35 milhões de euros, na
economia nacional.
Nádia Soares
Bibliografia:
•
http://observador.pt/2016/08/13/boom-festival-provocou-acrescimos-de-40-nas-vendas-em-idanha-a-nova/
•
http://sicnoticias.sapo.pt/cultura/2016-08-02-Sao-esperadas-mais-de-30-mil-pessoas-no-Boom-Festival
[artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado
em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
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