Quando
os turistas visitam a Eslováquia, e não passam sem a degustação da cozinha
tradicional, certamente encontram a expressão bryndza. Bryndza é um queijo branco natural amadurecido, feito a partir
de uma mistura de leite de ovelha e de vaca, e faz parte integrante de vários
pratos tradicionais da cozinha eslovaca.
Desde
o ano 2008, este queijo está presente na lista de qualidade da União Europeia, intitulado
“Slovenská bryndza” (Queijo de Ovelha Eslovaco). A qualificação IGP (Indicação Geográfica Protegida) protege não só a
receita original, que tem de conter mais do que 50% de queijo de ovelha, mas
também o método de produção. Deste ponto de vista, o futuro desta iguaria
tradicional parece protegido, mas, em busca de mais informações, encontrei um
artigo dizendo que apenas quatro fábricas de lacticínios produzem o verdadeiro
queijo de ovelha da Eslováquia. Apesar das exportações deste queijo significativamente
influenciaram e reforçaram o turismo, estas fábricas sobrevivem apenas com pequenos
lucros. Porque é que isto acontece?
O problema
encontra-se logo no início da produção, concretamente, na matéria-prima básica
– leite. A certidão europeia define precisamente as áreas de pastoreio de
ovinos (áreas montanhosas do país), bem como as raças, enquanto que para o
leite de vaca não estabelece nenhuma regra específica. Assim, os produtores
deste queijo têm que comprar leite das quintas e criadores regionais ou chalés de pastores, que estão registados na associação
de produtores do queijo de ovelha, resultando em custos mais elevados, comparando
com a compra em grandes fábricas de leite. Consequentemente, os “verdadeiros”
produtores estão a ser batidos por imitações que, através dos preços mais
baixos, empurram a qualidade para fora das prateleiras, uma vez que os
consumidores olham mais vezes para o preço do que para origem e composição do
produto.
Portanto,
vale a pena os produtores investirem na aquisição de marcas protegidas com o
risco de que os custos mais elevados possam levar ao aumento de preços e,
consequentemente, resultar em redução das vendas?
Eu,
pessoalmente, acho que a certificação e marcas de proteção de produtos ajudam a
proteger e preservar os produtos tradicionais, a sua receita original e, essencialmente,
a qualidade. Além do mais, no caso do queijo Bryndza eslovaco, a sua produção está associada ainda ao artesanato,
pastoreio e agricultura alpina e chalés de pastores, que são uma caraterística
essencial de várias regiões da Eslováquia. Desta forma, os produtores de
verdadeiros produtos lácteos contribuem não só para a sua preservação mas
também para o desenvolvimento do turismo regional, uma vez que este ofício
tradicional se tornou uma atração da autêntica cultura eslovaca para os
visitantes.
Apesar
dos esforços dos fabricantes para certificar os seus produtos e garantir a sua
qualidade, eles têm que superar mais um obstáculo - os próprios consumidores. Estudos
recentes apontam para uma mudança gradual no pensamento dos consumidores
eslovacos, ainda que a maioria deles continue a preferir o preço sobre a
qualidade. Por isso, acredito que os consumidores deveriam ser “educados” para priorizar
as marcas nacionais, que se preocupam não apenas com o lucro mas com a
qualidade e preservação da história que está por trás do produto.
Muitas
vezes, marcas como “Marca de Qualidade”,
“Denominação de Origem Protegida”, “Indicação Geográfica Protegida” ou “Especialidade Tradicional Garantida”,
ajudam na escolha do produto, mas para isso deverá talvez investir-se mais na
informação do público em geral acerca dessas próprias marcas e do que elas
significam.
Júlia Kundisová
Referências:
1. http://www.indprop.gov.sk/swift_data/source/pdf/specifikacie_op_oz/slovenska_bryndza.pdf
2. https://www.cas.sk/clanok/82800/slovenska-bryndza-je-uz-chranene-oznacenie/
3. http://dennik.hnonline.sk/ekonomika-a-firmy/410951-pravu-slovensku-bryndzu-vyrabaju-len-styria-mliekari
4.
http://www.nextfuture.sk/ekonomika/slovaci-v-obchodoch-sleduju-cenovky-je-dolezita-aj-kvalita/
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
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