quinta-feira, abril 13, 2017

Queijo Bryndza da Eslováquia: produto tradicional ou imitação moderna?

Quando os turistas visitam a Eslováquia, e não passam sem a degustação da cozinha tradicional, certamente encontram a expressão bryndza. Bryndza é um queijo branco natural amadurecido, feito a partir de uma mistura de leite de ovelha e de vaca, e faz parte integrante de vários pratos tradicionais da cozinha eslovaca.
Desde o ano 2008, este queijo está presente na lista de qualidade da União Europeia, intitulado “Slovenská bryndza” (Queijo de Ovelha Eslovaco). A qualificação IGP (Indicação Geográfica Protegida) protege não só a receita original, que tem de conter mais do que 50% de queijo de ovelha, mas também o método de produção. Deste ponto de vista, o futuro desta iguaria tradicional parece protegido, mas, em busca de mais informações, encontrei um artigo dizendo que apenas quatro fábricas de lacticínios produzem o verdadeiro queijo de ovelha da Eslováquia. Apesar das exportações deste queijo significativamente influenciaram e reforçaram o turismo, estas fábricas sobrevivem apenas com pequenos lucros. Porque é que isto acontece?
O problema encontra-se logo no início da produção, concretamente, na matéria-prima básica – leite. A certidão europeia define precisamente as áreas de pastoreio de ovinos (áreas montanhosas do país), bem como as raças, enquanto que para o leite de vaca não estabelece nenhuma regra específica. Assim, os produtores deste queijo têm que comprar leite das quintas e criadores regionais ou chalés de pastores, que estão registados na associação de produtores do queijo de ovelha, resultando em custos mais elevados, comparando com a compra em grandes fábricas de leite. Consequentemente, os “verdadeiros” produtores estão a ser batidos por imitações que, através dos preços mais baixos, empurram a qualidade para fora das prateleiras, uma vez que os consumidores olham mais vezes para o preço do que para origem e composição do produto.
Portanto, vale a pena os produtores investirem na aquisição de marcas protegidas com o risco de que os custos mais elevados possam levar ao aumento de preços e, consequentemente, resultar em redução das vendas?
Eu, pessoalmente, acho que a certificação e marcas de proteção de produtos ajudam a proteger e preservar os produtos tradicionais, a sua receita original e, essencialmente, a qualidade. Além do mais, no caso do queijo Bryndza eslovaco, a sua produção está associada ainda ao artesanato, pastoreio e agricultura alpina e chalés de pastores, que são uma caraterística essencial de várias regiões da Eslováquia. Desta forma, os produtores de verdadeiros produtos lácteos contribuem não só para a sua preservação mas também para o desenvolvimento do turismo regional, uma vez que este ofício tradicional se tornou uma atração da autêntica cultura eslovaca para os visitantes.
Apesar dos esforços dos fabricantes para certificar os seus produtos e garantir a sua qualidade, eles têm que superar mais um obstáculo - os próprios consumidores. Estudos recentes apontam para uma mudança gradual no pensamento dos consumidores eslovacos, ainda que a maioria deles continue a preferir o preço sobre a qualidade. Por isso, acredito que os consumidores deveriam ser “educados” para priorizar as marcas nacionais, que se preocupam não apenas com o lucro mas com a qualidade e preservação da história que está por trás do produto.
Muitas vezes, marcas como “Marca de Qualidade”, “Denominação de Origem Protegida”, “Indicação Geográfica Protegida” ou “Especialidade Tradicional Garantida”, ajudam na escolha do produto, mas para isso deverá talvez investir-se mais na informação do público em geral acerca dessas próprias marcas e do que elas significam.

Júlia Kundisová

Referências:
1.     http://www.indprop.gov.sk/swift_data/source/pdf/specifikacie_op_oz/slovenska_bryndza.pdf
2.     https://www.cas.sk/clanok/82800/slovenska-bryndza-je-uz-chranene-oznacenie/
3.     http://dennik.hnonline.sk/ekonomika-a-firmy/410951-pravu-slovensku-bryndzu-vyrabaju-len-styria-mliekari
4.       http://www.nextfuture.sk/ekonomika/slovaci-v-obchodoch-sleduju-cenovky-je-dolezita-aj-kvalita/ 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]

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