O termo contrabando é particularmente
simbólico para as populações que habitam as zonas de fronteira. Longe vão os
tempos em que as gentes da raia arriscavam, por muitas vezes, a própria
integridade física de forma a obterem rendimentos alternativos para o sustento
das suas famílias, que, perante a escassez de oportunidades de trabalho e
remunerações reduzidas nos trabalhos existentes, procuravam no contrabando uma
alternativa suplementar.
Assim sendo, assiste-se em Portugal, ao
longo dos últimos anos, a uma aposta na criação diversificada de itinerários
temáticos com o objetivo de desenvolver o turismo cultural e de natureza,
sobretudo nas zonas do interior. É neste contexto que ocorre o surgimento das rotas
de contrabando como atração turística.
Desta feita, importa, neste momento,
analisar alguns exemplos de atividades efetuadas no âmbito do contrabando e das
suas rotas em vários pontos do interior português:
· O primeiro
exemplo prático diz respeito a Chaves (Vila Real). Nesta cidade, realizou-se no
dia 10 de Setembro de 2016 a caminhada «Rota do Contrabando», promovida pela
Câmara de Chaves e pelas termas deste município. O percurso decorreu entre
Vilarelho da Raia e Vila Verde da Raia, freguesias de Chaves. A distância
percorrida rondou os 7 km e os custos da inscrição os 5,00 €.
· Salvaterra do
Extremo (Idanha-a-Nova, Castelo Branco) tem contado, nos anos transatos, com a
organização de um percurso noturno que aproxima a experiência dos participantes
daquela que seria a prática do contrabando durante o seu auge. O valor da
inscrição rondou os 8,00 €.
· Em Montalvão
(Nisa, Portalegre) realiza-se todos os anos um percurso pedestre
transfronteiriço com destino a Cedillo, Espanha. O itinerário em questão
estende-se ao longo de 17,5 km (11 km em Portugal, 6,1 km em Espanha e 0,4 de
barco). Os preços de inscrição podem oscilar entre os 9,00 € - 15,00 €. No ano
passado, dia 19 de Março de 2016, esta atividade contou com 672 participantes.
Como se pode
observar, existe um vasto leque de ofertas que possibilitam o contacto, direto
ou indireto, com o contrabando. No entanto, a promoção turística do contrabando
é, segundo o meu ponto de vista, falaciosa. De uma forma geral, as rotas de
contrabando encontram-se inseridas em práticas de promoção de patrimónios
diversos, gastronomia, artesanato, etc. É neste enquadramento que se apresenta
o contrabando nos programas turísticos.
A propósito
desta problemática, destaco uma visita promovida por uma agência de viagens (pintolopesviagens.com),
intitulada «Trilhos do Contrabando». Apesar do título sugestivo, o único
conteúdo programático que se correlaciona diretamente com o contrabando é a
visita ao museu de Moimenta da Raia, em Vinhais. Para além disto, a viagem
passa por locais da fronteira portuguesa e espanhola onde predominou esta
prática (Vinhais, Chaves). De resto, a programação insere-se no âmbito das caraterísticas
referidas anteriormente, procurando a promoção de outras valências
histórico-culturais. A viagem em questão encontra-se agendada para os dias 29 e
30 de Abril, com um custo de 225 €.
Esta é a grande problemática inerente à possível turistificação do contrabando. Como se pode perceber, o contrabando é um meio utilizado para promover outros valores culturais, paisagísticos, etc. Aparece, portanto, na maioria dos casos, num plano residual no âmbito do produto que se pretende oferecer aos turistas.
A meu ver, os municípios raianos onde o contrabando deteve um papel marcadamente preponderante deveriam investir na valorização de recursos de captação turística deste tipo. Atualmente, assistimos a uma busca incessante por novas experiências e contextos. Neste sentido, julgo que a exploração turística poderia partir do contrabando como justificação da sua importância cultural e histórica, de forma a desembocar noutras valências, tal como acontece com património natural, por exemplo.
A primeira medida a ter em conta seria, desde logo, a consolidação de informações relativas à atividade e aos trilhos do contrabando. Após a consulta de algumas páginas web de municípios raianos, só consegui obter informações relativas à rota de Tourém (Montalegre). Pede-se também a dinamização no âmbito da criação de um maior número de eventos afetos ao contrabando, maior disponibilidade de informação no local, e integração ativa de antigos contrabandistas e guardas-fiscais que ainda se encontrem na disposição de participar nas atividades desenvolvidas.
Claro está que a promoção efetiva do contrabando deve ser conduzida através de estratégias de diferenciação do produto. Por exemplo, em Penha Garcia (Idanha-a-Nova) poder-se-ia voltar a apostar numa travessia dos percursos a cavalo, relembrando as antigas práticas de contrabando.
Em suma, procura-se apostar num valor cultural que se distingue das ofertas turísticas comuns e que possibilita a perpetuação da história das gentes raianas no tempo. No entanto, assistimos a uma turistificação aparente do contrabando sem que sejam tomadas medidas concretas para a sua regulação.
Esta é a grande problemática inerente à possível turistificação do contrabando. Como se pode perceber, o contrabando é um meio utilizado para promover outros valores culturais, paisagísticos, etc. Aparece, portanto, na maioria dos casos, num plano residual no âmbito do produto que se pretende oferecer aos turistas.
A meu ver, os municípios raianos onde o contrabando deteve um papel marcadamente preponderante deveriam investir na valorização de recursos de captação turística deste tipo. Atualmente, assistimos a uma busca incessante por novas experiências e contextos. Neste sentido, julgo que a exploração turística poderia partir do contrabando como justificação da sua importância cultural e histórica, de forma a desembocar noutras valências, tal como acontece com património natural, por exemplo.
A primeira medida a ter em conta seria, desde logo, a consolidação de informações relativas à atividade e aos trilhos do contrabando. Após a consulta de algumas páginas web de municípios raianos, só consegui obter informações relativas à rota de Tourém (Montalegre). Pede-se também a dinamização no âmbito da criação de um maior número de eventos afetos ao contrabando, maior disponibilidade de informação no local, e integração ativa de antigos contrabandistas e guardas-fiscais que ainda se encontrem na disposição de participar nas atividades desenvolvidas.
Claro está que a promoção efetiva do contrabando deve ser conduzida através de estratégias de diferenciação do produto. Por exemplo, em Penha Garcia (Idanha-a-Nova) poder-se-ia voltar a apostar numa travessia dos percursos a cavalo, relembrando as antigas práticas de contrabando.
Em suma, procura-se apostar num valor cultural que se distingue das ofertas turísticas comuns e que possibilita a perpetuação da história das gentes raianas no tempo. No entanto, assistimos a uma turistificação aparente do contrabando sem que sejam tomadas medidas concretas para a sua regulação.
[artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património
Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado
em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
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