Neste artigo resolvi abordar um
tipo de turismo que por esta altura está muito presente no nosso país, o turismo
religioso, mais concretamente Fátima, tema que tem tanto de religioso como de
polémico, pois é sempre colocada na “balança” a componente religiosa vs. A componente
económica.
Se, por um lado, existem
pessoas que olham para o Santuário de Fátima com uma visão completamente crente
e de extrema Fé, existe, por outro lado, quem tenha um olhar mais sóbrio sobre
este tema, e pense em Fátima como exclusivamente uma fonte de rendimento para a
Igreja.
Este tipo de turismo é caraterizado
pelas viagens/peregrinações em que o turista procura experiências espirituais,
relacionadas com as práticas religiosas, como é o caso de Fátima, na Fé
católica. O turista religioso enquadra-se então nas peregrinações, nas
romarias, nas festas religiosas, na procura de espaços e edifícios religiosos
para visitar e conhecer (como são os casos dos templos, igrejas e santuários),
ou também na realização de um itinerário ou rota de caráter religioso, como é o
exemplo de Fátima ou, também, o caminho de Santiago de Compostela.
Em Portugal, país com uma
mentalidade tradicionalmente católica e muito vincada nesse sentido, é difícil
escrever ou pronunciar uma opinião sobre esta matéria sem ser “crucificado”. Na
minha ótica, observo Fátima com um olhar meramente turístico e económico, o que
não é de todo mau, nem de algum modo depreciativo, pois também concordo que é
uma atração/ponto turístico de grande sucesso no nosso país, senão o maior
ponto de atração turística de Portugal. Lembrando que somos conhecidos noutras
regiões do globo como o país dos três “Fs” (Fado, Futebol e Fátima).
Este entusiasmo e crença que
giram à volta das aparições de Fátima são muito favoráveis para a economia do
nosso país, e também daquela região. Os turistas que visitam todos os anos
Fátima vêm de todo o lado do mundo, e cada vez mais cresce o número de
nacionalidades e culturas que visitam todos os anos a Cova da Iria.
Alexandre Marto, proprietário
do Fatima
Hotels, deu recentemente uma entrevista à revista Visão (11.03.2017) em
que afirma: “Das quase 730 mil dormidas de 2015, cerca de 70 por cento foram de
estrangeiros. Se a elas juntarmos as reservas nos alojamentos das instituições religiosas,
o número supera o milhão de pessoas”. Números estes que se transformam num
consequente retorno económico bastante avultado, como aliás também refere
Alexandre Marto: “Não é preciso ser vidente para profetizar que os ganhos
recentes, mais de 27 milhões de euros, serão superados com a visita do Papa.”
Depois deste testemunho de
Alexandre Marto, proprietário do Fatima Hotels, facilmente se
consegue compreender, através destes excessivos números, o quão é importante
manter este “ponto de atração turístico”, alimentando sempre esta Fé em todos
os crentes, e não só, pois existem também inúmeros turistas que visitam o
Santuário de Fátima apenas para presenciar esta Fé que move multidões todos os
anos.
Tudo isto se reflete num
avultado retorno económico, a nível local, regional e até nacional. Toda esta
onda de Fé reflete-se em diversas áreas,
como por exemplo no lucro gerado pelas unidades hoteleiras, através das
estadias por parte dos visitantes, na restauração, com a visita destes mesmos turistas
para fazerem as suas refeições, mas também com o intuito de saborearem as
melhores especialidades do nosso país a nível gastronómico. Essas visitas refletem-se
também no comércio local, com a venda de porcelanas e objetos alusivos a Fátima
e ao Santuário, sem esquecer o “negócio” que se faz dentro do próprio Santuário,
que reverte em favor da “Fé cristã”, como por exemplo a pira de velas perto da
capelinha das aparições.
Contudo, sob o meu ponto de
vista, nem tudo que se realiza neste produto turístico que é Fátima é bom, ou
seja, existem pontos negativos neste destino do chamado Turismo Religioso.
Exemplo disso mesmo são os acidentes que todos os anos se registam e que
envolvem o atropelamento de peregrinos que fazem o seu percurso até ao
Santuário de Fátima. Por isso, seria imprescindível tentar melhorar a segurança
rodoviária nesta altura do ano, para que os mesmos consigam realizar o seu itinerário
em segurança.
Outro problema registado nestas
altura do ano em Fátima é a inflação de preços por parte de todos os comerciantes,
sejam eles pertencentes à hotelaria, restauração ou ao comércio, havendo ainda
relatos de particulares a arrendar as suas próprias habitações, ou divisões da
mesma, anexos, garagens, etc., para a obtenção de lucros.
Por experiência de pessoas
próximas, tenho ainda o conhecimento, através do relatos das mesmas, de cafés a
cobrarem dinheiro por um simples copo de água, o que me leva mesmo a pensar que
tudo isto não passa de um bom negócio para quem lá habita, e que até um simples
copo de água serve para realizar capital.
Em suma, consigo olhar para
este “evento”, e para tudo que o complementa, que se realiza todos os anos a 13
de Maio no Santuário de Fátima, como um grande evento no que diz respeito ao Turismo
Religioso, onde Fátima, sem dúvida alguma,
deu a conhecer o nosso país à escala mundial, e ano após ano o número de
visitantes, nacionais e estrangeiros, aumenta de forma impressionante, trazendo
óptimas receitas e vantagens para aquela região e para o nosso país.
Porém, para mim, fica sempre
esta dúvida no ar: será que é a Fé
cristã que move o negócio de Fátima ou, pelo contrário, o negócio de Fátima é
que move a Fé cristã ? Fica a dúvida.
Afonso
Teixeira
Bibligrafia:
http://www.ualmedia.pt/pt/?det=17726§ion=Atualidade&title=Fatima-Religiao-ou-negocio&id=2835&mid=
http://www.jornaldenegocios.pt/empresas/turismo---lazer/detalhe/papa-em-fatima-quase-mil-euros-por-uma-noite-em-saco-cama
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário