O Minho detém uma
identidade cultural muito vincada e uma maneira de ver e viver a vida que
tornam a região única. A própria pronúncia ou sotaque minhoto, que se tem
perdido um pouco, evidenciam ainda mais a sua identidade cultural. E é aqui que
entram empresas que primam pela inovação, mas mantendo a tradição e remetendo
para essa vertente linguística, como é o caso do DeGema.
Milton Araújo,
proprietário da Ferreira Capa (uma conceituada pastelaria em Braga), juntamente
com o seu irmão, Marcelo Araújo, realçam a vontade de uma equipa jovem em
repescar o passado e perpetuá-lo de uma forma totalmente inovadora. Surge assim
a empresa DeGema, criada em 2013, em Braga e “genuinamente nortenha”, como é
descrita no seu sítio, que prima pelo seu caráter inovador no que concerne ao
fabrico artesanal dos seus hambúrgueres, aliado aos peculiares nomes a eles
atribuídos, remetendo para expressões tipicamente nortenhas. Assim, não é de
estranhar pedir um “TOU BARADO” (sim, a troca dos “bês” é real, no geral), ou
um “PENICO DO CÉU”, um “QUE MORRINHA” ou até um “BACAS ANTRE O MILHO”.
Apesar de ter nascido
em Braga, esta empresa foi para lá do Minho e pode ser encontrada também no
Porto, em Vila do Conde e na Maia, o que comprova o seu sucesso.
Assim, esta
hamburgueria detém aqui um papel importante por imiscuir a tradição não só no
fabrico artesanal dos seus hambúrgueres como nos nomes a eles atribuídos,
demarcando fortemente a língua portuguesa, em especial, esta variante
linguística regional. Pretende inserir-se no contexto urbano, daí o seu
interesse no fabrico de hambúrgueres, que é um produto alimentício que se
generalizou entre a população. Se os hambúrgueres não for o forte de quem lá
vai, o menu dispõe também de saladas ou mesmo de gelados feitos artesanalmente.
Além dos sabores
tradicionais, a hamburgueria DeGema prima pela diversificação de sabores,
conotando assim para uma vertente mais cosmopolita, podendo fazer-se chegar a
um público mais generalizado. Aliado ao conceito inovador de fabrico artesanal
dos produtos, também a tradição se encontra presente na hora de pedir um
hambúrguer, já que os nomes se adaptam à cultura local.
A pronúncia não é algo
que se estude e aprenda na escola, é uma herança que vai passando pelas várias
gerações e que provém do convívio e espaço cultural e familiar da região.
Assim, a sua continuidade no seio de uma dada região encontra-se inerente ao
uso das palavras e expressões usadas pela população que, ao interagir entre si,
faz prevalecer as suas carateríscas linguísticas. Ainda assim, com o
alargamento da informação, as idas à escola, o contacto com outras pessoas,
permite estabelecer interações que poderão influenciar o modo de falar das
pessoas. Até mesmo por vergonha, as pessoas poderão querer alterar a sua
pronúncia.
A preservação do
património linguístico, que sem dúvida marca uma dada identidade cultural, é
primordial e, para que não se vá esmorecendo, é necessário recolher e divulgar
as tradições orais inerentes a cada região, como, por exemplo, contos,
cantigas, lengalengas, provérbios e mesmo recorrer a palavras e expressões
tradicionalmente regionais nos diálogos quotidianos.
Neste caso, a
prevalência das expressões minhotas poderá ser um pouco mais prolongada, já que
quem vai ao DeGema, com certeza, que não ficará indiferente nem aos sabores nem
às suas designações, podendo provocar interações e discussões acerca do tema, e
passar a palavra quanto a este conceito inovador. Ou, quanto muito não seja, ir
ao DeGema e “BAI-ME À BENDA”.
Vânia Daniela Martins Moreira
Sítio do DeGema:
www.degema.pt
https://nit.pt/buzzfood/04-01-2016-porto-prove-hamburgueres-a-moda-de-braga-com-sotaque-tripeiro.
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário