O que se passou com a TAP e o
Aeroporto do Porto com a retirada de voos e de rotas, e consequente
desinvestimento, gerou uma grande polémica, sobretudo numa empresa que é
maioritariamente controlada por capitais estatais. Perdeu o turismo, perdeu o
cidadão comum, muitos deles emigrantes, perderam os negócios da região, perdeu
o Porto (nomeadamente pela importância que representa tanto no Norte de
Portugal como na Península Ibérica). Perante isto, vamos então ver os diferentes
pontos de vista das partes envolvidas.
Já não é uma novidade a
importância que o turismo tem no país, desde a contribuição para um saldo
positivo na Balança Comercial, onde a rúbrica Viagens e Turismo, no ano de 2016, representava um total de 12.681
milhões de euros ou, por exemplo, a criação de novas empresas (que, segundo um
estudo da Informa D&B, foram criadas 11 mil empresas, desde alojamento e
restauração às de imobiliário e construção).
Em 2016, segundo resultados
preliminares, os estabelecimentos hoteleiros registaram 19,1 milhões de
hóspedes e 53,5 milhões de dormidas, o que correspondem a aumentos de 9,8% e
9,6%, respetivamente, face ao ano anterior. No norte, o número superou em muito
as expetativas que inicialmente foram previstas, sendo que se registou um
crescimento de 10,7% face a 2015, atingindo um total de 6,8 milhões de
dormidas.
A gestão da TAP, por si só,
deve ser questionada, uma vez que na última década houve um aumento das rotas e
passageiros e consequentes saldos operacionais positivos. No entanto, esta
gestão realizou alguns negócios ruinosos, como, por exemplo, a compra da
VarigLog e da VEM, em 2005 (cujo passivo era de 61 milhões de euros) ou da
Portugália, em 2007.
O processo de venda da
empresa é algo dúbio, no sentido em que o governo anterior, já na reta final do
mandato, e em jeito de despachar, vendeu a empresa por uns módicos 10 milhões
de euros, sendo que a justificação do governo era que a empresa precisava de
uma capitalização e, segundo informações veiculadas, a Europa não permitia essa
capitalização pela via estatal, restando apenas a via privada.
Espanto é quando se descobre que a tal
capitalização que a empresa precisava advinha de um empréstimo de curto-prazo
da banca nacional, garantido pelo Estado. E podíamos abordar mais temas, como a
compra de 17 aviões pela TAP à empresa AZUL. Mas o que realmente interessa é,
afinal, quanto é que a TAP ganha/perde com as rotas que tirou do Porto?
Mais do que uma gestão
estratégica, não será uma gestão política? Citando o Exmo. Sr. Presidente da Câmara
do Porto, "A estratégia da TAP é um insulto à
cidade do Porto e uma tentativa de destruir o aeroporto para construir um novo
aeroporto, uma nova ponte e uma nova Expo [em Lisboa]. Isto é um problema de
regime. Temos sido uns carneiros e temo-nos iludido com promessas sucessivas. O
TGV vai acabar por ser Lisboa-Madrid. A terceira ponte [sobre o Tejo] é um
grande objetivo do regime", existindo ainda factos como as viagens de
longo curso com escala em Lisboa (realizadas pela TAP) que ficam mais baratas a
partir de Vigo que do Porto.
Isto é um
problema que tem a ver com todos nós (cidadãos), porque a TAP desempenha um
papel fundamental não só na economia e no turismo mas, sobretudo, para as
comunidades portuguesas (sejam em solo nacional, ou internacional).
Afinal a TAP
segue estratégias de interesse público ou privado?
Christophe dos Santos
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade
curricular “Economia do Turismo”, de opção, leccionada a alunos de vários
cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2016/2017)
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