A 16 de Maio de 2013, com
a publicação da Lei nº 33/2013, Portugal estabeleceu o regime
jurídico das áreas regionais de turismo do território continental, passando de
20 para apenas 7. As entidades regionais de turismo atuais são as seguintes:
Turismo do Porto e Norte de Portugal, Turismo Centro de Portugal, Entidade
Regional de Turismo da Região de Lisboa, Turismo do Alentejo e Região de
Turismo do Algarve. Esta nova distribuição coincide com as unidades
territoriais utilizadas para fins estatísticos, as NUTS 2, definidas pelo
Parlamento Europeu.
Este texto pretende
refletir se fará sentido não só a denominação “Turismo do Porto e Norte de
Portugal”, especialmente a inserção da palavra Porto, como também o facto de
esta NUTS II ser demasiado abrangente e com realidades culturais, sociais,
patrimoniais e arquitetónicas díspares.
Consultando o sítio do Turismo do Porto e
Norte e aquilo que a entidade encara como a sua missão e visão,
descobrimos que “tem como objectivo identificar e promover a Região Norte como
um todo, funcionando como um símbolo distintivo da sua oferta”. Se assim é,
porquê introduzir redutoramente, logo na sua denominação oficial, a palavra
“Porto”? Esta é apenas uma das muitas cidades da região e a escolha da inserção
da palavra na denominação da entidade faz transparecer a imagem de que a área é
composta pelo Porto e que o resto é paisagem, meros pontos de interesse
espalhados pelo restante território, que uma ou duas vezes por ano são
enriquecidas por festividades pontuais.
O “Norte”, enquanto NUTS
2, é composto por oito NUTS 3: Alto Minho, Cávado, Ave, Área Metropolitana do
Porto, Alto Tâmega, Tâmega e Sousa, Douro e Terras de Trás-os-Montes. Fará
sentido estas regiões, as suas cidades, vilas e aldeias e até o único Parque
Nacional do país comunicarem para o exterior sendo ofuscados por uma palavra e
por apenas uma cidade? Talvez faça sentido o Douro e Trás-os-Montes estarem
associadas à cidade e área metropolitana do Porto, por razões históricas,
económicas e geográficas, mas será que o Minho, com as cidades do quadrilátero
e o seu património, as praias do seu litoral, a zona fronteiriça do rio Minho e
o Parque Nacional da Peneda-Gerês, têm a ganhar em termos de atração turística
com esta evidente e incisiva associação?
No Minho, nos últimos
anos, tem aumentado significativamente aquilo que passo a denominar de turismo
de camioneta: autocarros repletos de turistas insaciáveis que viajam à pressa e
a partir de uma unidade hoteleira no Porto e que, em quatro pares de horas,
visitam o Bom Jesus, a mais velha Sé do reino, parte do centro histórico de
Braga e o centro histórico de Guimarães. Pelo caminho, bebem uma água, sujam as
ruas com as sandes gentilmente “oferecidas” pelos agentes turísticos e lá vão
apontando aos céus os seus selfie sticks.
Claro que a região beneficia indiretamente pela sua visita relâmpago, pela
eventual divulgação que possam fazer, mas será que compensa a pegada ecológica
criada e será que é sustentável enquanto estratégia turística para o Minho?
Compreendo que, para os agentes turísticos da área metropolitana do Porto seja
uma mais-valia o facto de poderem ter na sua oferta turística não só as caves
do vinho, o rio, a ribeira e a Casa da Música mas também uma experiência
diferente, talvez mais rústica, talvez mais rica.
Foto tirada no dia 20 de Abril de
2017 em frente ao Museu Dom Diogo de Sousa, em Braga. “Follow us to Porto and
North of Portugal”, pode ler-se no autocarro.
Por outro lado, e tendo
vindo a auscultar a comunicação do Turismo do Porto e Norte nos últimos meses,
quer online, quer offline, quer o Porto Welcome Center do aeroporto da região, esta revela-se
extremamente redutora e por vezes até deficiente na forma como divulgam as
diferentes cidades da região e especialmente as do Quadrilátero Urbano. No caso
de Braga, por exemplo, esta é encarada como apenas uma cidade de turismo
religioso, quando a mesma tem muitas outras atrações e motivos de visita, desde
o património arquitetónico civil até à gastronomia, arqueologia e outros. Nos
distritos de Braga e Viana do Castelo existem 60 Monumentos Nacionais
classificados e poucos são os promovidos pela entidade. O mesmo se repete com a
promoção dos distritos de Bragança e Vila Real e do património natural do
Parque Nacional da Peneda-Gerês. A comunicação e divulgação dos legados romano,
castrejo e rupestre também ficam muito aquém das potencialidades do território.
Porto e o resto do Norte
de Portugal? Parece-me contraproducente e redutor. Porque não apenas “Norte de
Portugal” e dividir a comunicação e as estratégias de marketing em duas ou mais
regiões tuteladas? Porque não “Porto e Douro” e “Minho”? Ou “Porto”, “Minho”,
“Tâmega” e “Douro”?
Paulo Oliveira Sousa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário