segunda-feira, abril 24, 2017

Minho e Porto e Douro

A 16 de Maio de 2013, com a publicação da Lei nº 33/2013, Portugal estabeleceu o regime jurídico das áreas regionais de turismo do território continental, passando de 20 para apenas 7. As entidades regionais de turismo atuais são as seguintes: Turismo do Porto e Norte de Portugal, Turismo Centro de Portugal, Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa, Turismo do Alentejo e Região de Turismo do Algarve. Esta nova distribuição coincide com as unidades territoriais utilizadas para fins estatísticos, as NUTS 2, definidas pelo Parlamento Europeu.
Este texto pretende refletir se fará sentido não só a denominação “Turismo do Porto e Norte de Portugal”, especialmente a inserção da palavra Porto, como também o facto de esta NUTS II ser demasiado abrangente e com realidades culturais, sociais, patrimoniais e arquitetónicas díspares.
Consultando o sítio do Turismo do Porto e Norte e aquilo que a entidade encara como a sua missão e visão, descobrimos que “tem como objectivo identificar e promover a Região Norte como um todo, funcionando como um símbolo distintivo da sua oferta”. Se assim é, porquê introduzir redutoramente, logo na sua denominação oficial, a palavra “Porto”? Esta é apenas uma das muitas cidades da região e a escolha da inserção da palavra na denominação da entidade faz transparecer a imagem de que a área é composta pelo Porto e que o resto é paisagem, meros pontos de interesse espalhados pelo restante território, que uma ou duas vezes por ano são enriquecidas por festividades pontuais.
O “Norte”, enquanto NUTS 2, é composto por oito NUTS 3: Alto Minho, Cávado, Ave, Área Metropolitana do Porto, Alto Tâmega, Tâmega e Sousa, Douro e Terras de Trás-os-Montes. Fará sentido estas regiões, as suas cidades, vilas e aldeias e até o único Parque Nacional do país comunicarem para o exterior sendo ofuscados por uma palavra e por apenas uma cidade? Talvez faça sentido o Douro e Trás-os-Montes estarem associadas à cidade e área metropolitana do Porto, por razões históricas, económicas e geográficas, mas será que o Minho, com as cidades do quadrilátero e o seu património, as praias do seu litoral, a zona fronteiriça do rio Minho e o Parque Nacional da Peneda-Gerês, têm a ganhar em termos de atração turística com esta evidente e incisiva associação?
No Minho, nos últimos anos, tem aumentado significativamente aquilo que passo a denominar de turismo de camioneta: autocarros repletos de turistas insaciáveis que viajam à pressa e a partir de uma unidade hoteleira no Porto e que, em quatro pares de horas, visitam o Bom Jesus, a mais velha Sé do reino, parte do centro histórico de Braga e o centro histórico de Guimarães. Pelo caminho, bebem uma água, sujam as ruas com as sandes gentilmente “oferecidas” pelos agentes turísticos e lá vão apontando aos céus os seus selfie sticks. Claro que a região beneficia indiretamente pela sua visita relâmpago, pela eventual divulgação que possam fazer, mas será que compensa a pegada ecológica criada e será que é sustentável enquanto estratégia turística para o Minho? Compreendo que, para os agentes turísticos da área metropolitana do Porto seja uma mais-valia o facto de poderem ter na sua oferta turística não só as caves do vinho, o rio, a ribeira e a Casa da Música mas também uma experiência diferente, talvez mais rústica, talvez mais rica.


Foto tirada no dia 20 de Abril de 2017 em frente ao Museu Dom Diogo de Sousa, em Braga. “Follow us to Porto and North of Portugal”, pode ler-se no autocarro.

Por outro lado, e tendo vindo a auscultar a comunicação do Turismo do Porto e Norte nos últimos meses, quer online, quer offline, quer o Porto Welcome Center do aeroporto da região, esta revela-se extremamente redutora e por vezes até deficiente na forma como divulgam as diferentes cidades da região e especialmente as do Quadrilátero Urbano. No caso de Braga, por exemplo, esta é encarada como apenas uma cidade de turismo religioso, quando a mesma tem muitas outras atrações e motivos de visita, desde o património arquitetónico civil até à gastronomia, arqueologia e outros. Nos distritos de Braga e Viana do Castelo existem 60 Monumentos Nacionais classificados e poucos são os promovidos pela entidade. O mesmo se repete com a promoção dos distritos de Bragança e Vila Real e do património natural do Parque Nacional da Peneda-Gerês. A comunicação e divulgação dos legados romano, castrejo e rupestre também ficam muito aquém das potencialidades do território.
Porto e o resto do Norte de Portugal? Parece-me contraproducente e redutor. Porque não apenas “Norte de Portugal” e dividir a comunicação e as estratégias de marketing em duas ou mais regiões tuteladas? Porque não “Porto e Douro” e “Minho”? Ou “Porto”, “Minho”, “Tâmega” e “Douro”?


Paulo Oliveira Sousa 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]

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