Já todos
estamos familiarizados com a polémica que se tem gerado em torno da monopolização
dos edifícios dos principais centros históricos e urbanos por parte de investidores
estrangeiros ou por empresas do ramo hoteleiro, sendo os casos mais afetados Lisboa
e Porto. Se ainda não está familiarizado com este assunto, eu faço-lhe uma
breve introdução.
O
crescimento do turismo em Lisboa está a transcrever-se numa transformação dos
seus principais bairros históricos, como por exemplo Alfama, Mouraria e o Bairro
Alto. O que acontece é que estes bairros são do interesse de muitos turistas,
fazendo com que se mostrem empenhados na aquisição de imóveis para habitação de
férias. Para além disso, esta atração dos turistas para estes bairros também
desperta o interesse do setor hoteleiro para a compra de imóveis para
Alojamento Local ou criação de Hostels.
O mesmo está a acontecer nas principais ruas
do centro do Porto, como a Rua das Flores e a Praça da Ribeira, isto é, está a
desenvolver-se um programa de reabilitação urbana dos prédios mais antigos para
que estas ruas se tornem mais agradáveis ao olhar dos turistas.
Mas o que
acaba por acontecer, sendo este o lado negro do turismo, é que na
impossibilidade de alguns senhorios seguirem com as obras de restauro dos
prédios mais degradados, optam por vender os edifícios e pagar indeminizações
aos inquilinos e estes vêem-se na obrigação de irem morar para fora do centro
da cidade.
A polémica,
aqui, não está na reabilitação urbana, porque os moradores são a favor das
obras de restauro. Só não são a favor de que estes bairros e ruas sejam
ocupados, maioritariamente, por estrangeiros.
Primeiro, o
que é que atrai os turistas a estes lugares? Apenas o edificado – arquitetura
típica, os azulejos e as cores da cidade - ou toda a vida que o envolve? As
pessoas idosas à janela, as mercearias com produtos regionais, os grelhadores
nas ruas nas noites de verão, o humor contagiante de quem lá mora… Em que ponto
ficará a beleza destes locais quando forem apenas habitados por residentes
temporários? Porque isso é o que se começa a constar. Estas casas recentemente
compradas serão habitadas por estrangeiros. Estrangeiros esses que somente residirão
na cidade durante um curto intervalo. E o que é que é que restará para mostrar
aos turistas durante o resto do ano? Portadas fechadas e estores corridos.
É que esta
“turistificação” tem o seu lado bom, como a melhoria de ruelas que
anteriormente seriam duvidosas e atualmente se tornam agradáveis, mas por outro
lado também já está a afetar o comércio local que lhe é caraterístico por não
se conseguir sustentar com uma clientela escassa que unicamente lhes é habitual
durante uma parte do ano – relembrando que estes espaços também foram afetados
pela subida de rendas e impostos.
E então,
coloca-se a grande questão em torno desta problemática: em que patamar fica a
alma da cidade?
Ana Rita Ferreira
[artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado
em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]
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