domingo, abril 23, 2017

“Turistificação” dos centros históricos ou simplesmente uma renovação urbana destes espaços?

Já todos estamos familiarizados com a polémica que se tem gerado em torno da monopolização dos edifícios dos principais centros históricos e urbanos por parte de investidores estrangeiros ou por empresas do ramo hoteleiro, sendo os casos mais afetados Lisboa e Porto. Se ainda não está familiarizado com este assunto, eu faço-lhe uma breve introdução.
O crescimento do turismo em Lisboa está a transcrever-se numa transformação dos seus principais bairros históricos, como por exemplo Alfama, Mouraria e o Bairro Alto. O que acontece é que estes bairros são do interesse de muitos turistas, fazendo com que se mostrem empenhados na aquisição de imóveis para habitação de férias. Para além disso, esta atração dos turistas para estes bairros também desperta o interesse do setor hoteleiro para a compra de imóveis para Alojamento Local ou criação de Hostels.
 O mesmo está a acontecer nas principais ruas do centro do Porto, como a Rua das Flores e a Praça da Ribeira, isto é, está a desenvolver-se um programa de reabilitação urbana dos prédios mais antigos para que estas ruas se tornem mais agradáveis ao olhar dos turistas.
Mas o que acaba por acontecer, sendo este o lado negro do turismo, é que na impossibilidade de alguns senhorios seguirem com as obras de restauro dos prédios mais degradados, optam por vender os edifícios e pagar indeminizações aos inquilinos e estes vêem-se na obrigação de irem morar para fora do centro da cidade.
A polémica, aqui, não está na reabilitação urbana, porque os moradores são a favor das obras de restauro. Só não são a favor de que estes bairros e ruas sejam ocupados, maioritariamente, por estrangeiros.
Primeiro, o que é que atrai os turistas a estes lugares? Apenas o edificado – arquitetura típica, os azulejos e as cores da cidade - ou toda a vida que o envolve? As pessoas idosas à janela, as mercearias com produtos regionais, os grelhadores nas ruas nas noites de verão, o humor contagiante de quem lá mora… Em que ponto ficará a beleza destes locais quando forem apenas habitados por residentes temporários? Porque isso é o que se começa a constar. Estas casas recentemente compradas serão habitadas por estrangeiros. Estrangeiros esses que somente residirão na cidade durante um curto intervalo. E o que é que é que restará para mostrar aos turistas durante o resto do ano? Portadas fechadas e estores corridos.
É que esta “turistificação” tem o seu lado bom, como a melhoria de ruelas que anteriormente seriam duvidosas e atualmente se tornam agradáveis, mas por outro lado também já está a afetar o comércio local que lhe é caraterístico por não se conseguir sustentar com uma clientela escassa que unicamente lhes é habitual durante uma parte do ano – relembrando que estes espaços também foram afetados pela subida de rendas e impostos.
E então, coloca-se a grande questão em torno desta problemática: em que patamar fica a alma da cidade?

Ana Rita Ferreira


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional” do curso de Mestrado em Mestrado em Património Cultural, do ICS/UMinho]

Sem comentários: