O
gosto pelo desconhecido e pelo misterioso sempre fizeram parte do imaginário
humano. Filmes de horror, histórias macabras e visitas a locais com fama de
assombrados despertam não só o medo mas também a curiosidade de muitos.
Para
os mais corajosos, está em processo de grande desenvolvimento uma vertente do
turismo um tanto inusitada: o turismo cemiterial. Para além do turismo negro,
que explora justamente o medo e a memória de locais que passaram por episódios
macabros ou de sofrimento, como a Quinta das Lágrimas, em Coimbra, que
supostamente teria sido palco do assassinato de Inês de Castro, amante do
Infante D. Pedro, ou, então, os campos de concentração de Auschwitz, o turismo
cemiterial envolve outras dimensões.
O
foco vai além da visita a túmulos de famosos, como o de Edith Piaf, no
cemitério Père Lachaise, em Paris, ou o túmulo do piloto brasileiro Ayrton
Senna, no Cemitério do Morumbi, no Brasil. O olhar volta-se para a arquitetura
e arte tumular, história das edificações funerárias e sua grandiosidade.
Antes,
visto como um subproduto de outras linhas do turismo cultural, assumia um papel
de coadjuvante em roteiros turísticos urbanos, apenas como um ponto adicional
de visitação nas cidades. Hoje, afirma-se no cenário mundial com uma rota
exclusiva: a rota europeia dos cemitérios.
A
rota, reconhecida pelo Conselho da Europa, possui cerca de 60 cemitérios
espalhados por 20 Países. Portugal encontra-se no roteiro com os Cemitérios
Municipais do Porto - Prado do Repouso, de 1839, e o de Agromonte, aberto em 1855
- que também pertencem à Association of
Significant Cemiteries in Europe.
Fazem
parte também desta rota o cemitério Montparnasse, em Paris, Highgate, em
Londres, as Catacumbas de Roma e o antigo cemitério Judaico, em Praga.
O
turismo cemiterial cresce em Portugal, chegando a beneficiar a economia,
todavia não atinge uma velocidade maior por conta de sua significação perante a
sociedade, que ainda vê os cemitérios como locais sombrios, de mau agouro e,
principalmente, como locais santos destinados ao culto da morte, contrariamente
a locais de cultura, história e arquitetura singulares. Ademais, os municípios
tendem a diminuir a importância dos cemitérios e não os valorizam como produto
turístico, sendo comum a ausência de guias, visitas guiadas organizadas e
atividades calendarizadas.
Para
vencer o estigma, a Câmara do Porto chegou a celebrar a Semana à Descoberta dos
Cemitérios, que costuma acontecer por toda a Europa, com atividades como um
tour guiado pelos cemitérios municipais, com a participação de historiadores e
músicos contemporâneos, tocando violino e violoncelo. Trata-se, claramente, de
uma tentativa de mudar o “mood” do local através da música e de conhecimento
consistente.
Um
outro exemplo de como os cemitérios podem ser explorados como produtos
culturais é o cemitério de Monchique, em Guimarães, premiado em 2005 na
categoria “Espaços exteriores de uso público”, no Concurso Nacional de
Arquitetura Paisagística. O projeto paisagístico, de Daniel Monteiro, somado ao
projeto arquitetônico de Maria Manuel Oliveira e Pedro Mendo, são exemplo de
uma nova leitura dos espaços de enterramento. Uma extensa área verde com a água
delineando todo o cenário tornam-no também um local de contemplação.
Ainda
há uma longa jornada pela frente para que as pessoas mudem a sua impressão
sobre os cemitérios. Mas graças a projetos como a Rota Europeia citada
anteriormente - que segue em busca de novos membros e locais a serem explorados
– um novo significado pode ser dado a esses espaços, tornando-os de fato um
produto de destaque no turismo ao redor do mundo.
Para
saber quais cemitérios fazem parte da Rota, acesse:
Joice Sashalmi Costa Ramos
Webgrafia:
https://observador.pt/2017/09/22/turismo-negro-15-lugares-obscuros-para-visitar-pelo-mundo-e-por-ca/
(Data de acesso: 17.04.2018)
(Data
de acesso: 17.04.2018)
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de acesso: 17.04.2018)
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de acesso: 17.04.2018)
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de acesso: 18.04.2018)
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de acesso: 18.04.2018)
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de acesso: 18.04.2018)
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de acesso: 18.04.2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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