O
Palácio da Dona Chica tem uma história longa e cheia de controvérsias,
iniciando-se em 1915, (data da construção deste). Foi mandado construir por
Francisca Peixoto de Sousa, que era natural de São Paulo (Brasil), após a morte
de seu pai (1913), que lhe tinha deixado de herança uma fortuna considerável.
Francisca
era uma mulher que gostava de luxos, de festas, de receber amigos em casa e
sonhava viver numa habitação de tipo apalaçado, que lhe proporcionasse a vida
que desejava.Com apenas 17 anos, esta casou-se com o filho de um médico conceituado e de um
influente político monárquico, casamento este de conveniência, que foi
promovido pelos pais. Ele (João Rego) era portanto um homem rico e de
conceituadas famílias, que também eram originárias do Brasil (por parte da mãe)
e de Portugal (por parte do pai).
Após
o seu casamento e morte do pai, esta mudou-se com João Rego para a residência
dos Peixoto do Rego, em Portugal - Braga (de onde o seu pai e marido eram
naturais), contudo Francisca não se sentia satisfeita e queria ter uma casa
luxuosa, onde poderia receber os amigos e dar grandes festas.
Foi
então que João Rego decidiu comprar um terreno com cerca de três hectares, em
Palmeira (Braga) e iniciar a construção do agora “Palácio da Dona Chica”, projetado
pelo arquiteto suíço Ernesto
Korrodi.
Considerando que Ernesto Korrodi deu ao palácio caraterísticas
ecléticas, sobre um estilo romântico e que foram plantadas nos campos da
propriedade, por ordem de Francisca, árvores tropicais, vindas do Brasil, tal fez
com que esta casa de tipo apalaçado ficasse ainda mais exuberante, ao estilo de
Francisca Peixoto de Sousa. Porém, quatro anos depois do início da construção
desta habitação, as obras pararam, devido ao divórcio de Francisca e João Rego.
Consta-se que tal aconteceu, sobretudo, pela
personalidade de Francisca, que era uma mulher que gostava da sua liberdade,
das festas e saídas com os amigos.
Em 1919, o “Palácio da Dona Chica” ficou então
inacabado e abandonado, tendo em conta que depois do divórcio Francisca foi
viver para o Porto e anos mais tarde voltou a casar, teve um filho e
divorciou-se de novo.
Mesmo apesar desse desfecho, Francisca continuava a
usufruir da sua vida luxuosa, onde fazia viagens por toda a Europa, comprava
carros sumptuosos, contratava diversos motoristas, vestia roupas ousadas (numa
altura em que a sociedade portuguesa era extremamente conservadora) e usava
jóias caríssimas. Mais tarde, Francisca mudou-se para Paris, deixando assim o
seu Palácio inacabado e abandonado, que outrora o seu maior sonho era vê-lo
concluído e habitar nele.
Ao
longo das décadas o palácio da Dona Chica foi mudando várias vezes de dono.
Houve muitos projetos e obras, com o objetivo de concluir os trabalhos no
interior do Palácio. Este, em 1985, foi classificado Imóvel de Interesse
Público e, em 1990, foi adquirido pela Junta de Freguesia de Palmeira, por 95
mil euros.
No
mesmo ano, a autarquia arrendou o palácio por contrato à IPALTUR, uma empresa
de turismo, que adaptou o imóvel a uma discoteca, bar, restaurante, salas de
reuniões e de congressos.
Em
1994, a empresa de turismo (IPALTUR) entrou em falência e cerca de 20 credores
ficaram com dinheiro por receber. Somente em 2003 é que este processo acabou
por ficar resolvido (deixando assim o Palácio da Dona Chica mais uma vez abandonado
durante todos esses anos, até 2010).
Em
2010, este imóvel foi comprado por um empresário do ramo imobiliário, que tinha
como objetivo restaurar o edifício e abrir ali um espaço para realizar
casamentos, festas e jantares, contudo esse projeto idealizado pelo empresário
nunca foi realizado. Desde então, este esteve no mercado e foi adquirido, em
2015, por José Veloso Azevedo, empresário de construção civil de Braga.
Depois
do Palácio da D. Chica passar por tantos proprietários, desavenças, disputas
judiciais e até mesmo por alterações arquitetónicas entrou num processo de
completo abandono e degradação.
Atualmente,
abandonado e degradado, o Castelo de D. Chica encontra-se à venda por 2.500 000
€, como se pode verificar no anúncio de venda publicado no site Idealista e no anúncio do site
Custo Justo.
Pensemos
agora no tão desejado e grandioso sonho de Francisca Peixoto de Sousa, que em
momento algum julgaria nunca habitar no seu Palácio luxuoso, nem tão pouco imaginaria
que décadas mais tarde este estaria em completo abandono, degradação, sem qualquer
proprietário, sem qualquer função.
E
nós? Que estudamos Património Cultural, cidadãos e conservadores do nosso
Património (Cultural) – material e
imaterial -, o que pensamos acerca disto?! Não nos faz confusão?!
Merecerá
o nosso Património estar abandonado e deixarmos que, desta forma, este entre em
total degradação?!
Agora
referindo-me apenas ao Património Material, assim como o “Palácio da Dona
Chica”, poderemos pensar em tantos outros estabelecimentos/ edifícios que se
encontram atualmente abandonados: palácios, estabelecimentos Industriais,
estabelecimentos hoteleiros… e por aí fora, como o Palácio da Comenda, a
Fábrica Confiança ou o Hotel Foz da Sertã.
E
o que poderemos fazer então perante esta situação?! Deveremos continuar a
“fechar os olhos”?! Certamente, o nosso Património merecerá uma maior atenção/preocupação
da nossa parte.
Adriana Carolina Silva Cardoso
Bibliografia
COSTA,
Lucília Verdelho da. Ernesto Korrodi 1889-1944: arquitectura, ensino e restauro
do património. Lisboa, 1997.
Webgrafia
https://www.publico.pt/2012/07/15/jornal/igespar-vai-classificar-palacio-de-braga-que-a-princesa-diana-afinal-nunca-comprou-24903139
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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