terça-feira, abril 24, 2018

Palácio da Dona Chica – a história do Palácio da Dona Chica e do seu declínio – merecerá o nosso património estar abandonado?

O Palácio da Dona Chica tem uma história longa e cheia de controvérsias, iniciando-se em 1915, (data da construção deste). Foi mandado construir por Francisca Peixoto de Sousa, que era natural de São Paulo (Brasil), após a morte de seu pai (1913), que lhe tinha deixado de herança uma fortuna considerável.
Francisca era uma mulher que gostava de luxos, de festas, de receber amigos em casa e sonhava viver numa habitação de tipo apalaçado, que lhe proporcionasse a vida que desejava.Com apenas 17 anos, esta casou-se com  o filho de um médico conceituado e de um influente político monárquico, casamento este de conveniência, que foi promovido pelos pais. Ele (João Rego) era portanto um homem rico e de conceituadas famílias, que também eram originárias do Brasil (por parte da mãe) e de Portugal (por parte do pai).
Após o seu casamento e morte do pai, esta mudou-se com João Rego para a residência dos Peixoto do Rego, em Portugal - Braga (de onde o seu pai e marido eram naturais), contudo Francisca não se sentia satisfeita e queria ter uma casa luxuosa, onde poderia receber os amigos e dar grandes festas.
Foi então que João Rego decidiu comprar um terreno com cerca de três hectares, em Palmeira (Braga) e iniciar a construção do agora “Palácio da Dona Chica”, projetado pelo arquiteto suíço Ernesto Korrodi.
Considerando que Ernesto Korrodi deu ao palácio caraterísticas ecléticas, sobre um estilo romântico e que foram plantadas nos campos da propriedade, por ordem de Francisca, árvores tropicais, vindas do Brasil, tal fez com que esta casa de tipo apalaçado ficasse ainda mais exuberante, ao estilo de Francisca Peixoto de Sousa. Porém, quatro anos depois do início da construção desta habitação, as obras pararam, devido ao divórcio de Francisca e João Rego.
Consta-se que tal aconteceu, sobretudo, pela personalidade de Francisca, que era uma mulher que gostava da sua liberdade, das festas e saídas com os amigos.
Em 1919, o “Palácio da Dona Chica” ficou então inacabado e abandonado, tendo em conta que depois do divórcio Francisca foi viver para o Porto e anos mais tarde voltou a casar, teve um filho e divorciou-se de novo.
Mesmo apesar desse desfecho, Francisca continuava a usufruir da sua vida luxuosa, onde fazia viagens por toda a Europa, comprava carros sumptuosos, contratava diversos motoristas, vestia roupas ousadas (numa altura em que a sociedade portuguesa era extremamente conservadora) e usava jóias caríssimas. Mais tarde, Francisca mudou-se para Paris, deixando assim o seu Palácio inacabado e abandonado, que outrora o seu maior sonho era vê-lo concluído e habitar nele.
Ao longo das décadas o palácio da Dona Chica foi mudando várias vezes de dono. Houve muitos projetos e obras, com o objetivo de concluir os trabalhos no interior do Palácio. Este, em 1985, foi classificado Imóvel de Interesse Público e, em 1990, foi adquirido pela Junta de Freguesia de Palmeira, por 95 mil euros.
No mesmo ano, a autarquia arrendou o palácio por contrato à IPALTUR, uma empresa de turismo, que adaptou o imóvel a uma discoteca, bar, restaurante, salas de reuniões e de congressos.
Em 1994, a empresa de turismo (IPALTUR) entrou em falência e cerca de 20 credores ficaram com dinheiro por receber. Somente em 2003 é que este processo acabou por ficar resolvido (deixando assim o Palácio da Dona Chica mais uma vez abandonado durante todos esses anos, até 2010).
Em 2010, este imóvel foi comprado por um empresário do ramo imobiliário, que tinha como objetivo restaurar o edifício e abrir ali um espaço para realizar casamentos, festas e jantares, contudo esse projeto idealizado pelo empresário nunca foi realizado. Desde então, este esteve no mercado e foi adquirido, em 2015, por José Veloso Azevedo, empresário de construção civil de Braga.
Depois do Palácio da D. Chica passar por tantos proprietários, desavenças, disputas judiciais e até mesmo por alterações arquitetónicas entrou num processo de completo abandono e degradação.
Atualmente, abandonado e degradado, o Castelo de D. Chica encontra-se à venda por 2.500 000 €, como se pode verificar no anúncio de venda publicado no site Idealista e no anúncio do site Custo Justo.
Pensemos agora no tão desejado e grandioso sonho de Francisca Peixoto de Sousa, que em momento algum julgaria nunca habitar no seu Palácio luxuoso, nem tão pouco imaginaria que décadas mais tarde este estaria em completo abandono, degradação, sem qualquer proprietário, sem qualquer função.
E nós? Que estudamos Património Cultural, cidadãos e conservadores do nosso Património (Cultural)  – material e imaterial -, o que pensamos acerca disto?! Não nos faz confusão?!
Merecerá o nosso Património estar abandonado e deixarmos que, desta forma, este entre em total degradação?!
Agora referindo-me apenas ao Património Material, assim como o “Palácio da Dona Chica”, poderemos pensar em tantos outros estabelecimentos/ edifícios que se encontram atualmente abandonados: palácios, estabelecimentos Industriais, estabelecimentos hoteleiros… e por aí fora, como o Palácio da Comenda, a Fábrica Confiança ou o Hotel Foz da Sertã.
E o que poderemos fazer então perante esta situação?! Deveremos continuar a “fechar os olhos”?! Certamente, o nosso Património merecerá uma maior atenção/preocupação da nossa parte.

Adriana Carolina Silva Cardoso


Bibliografia
COSTA, Lucília Verdelho da. Ernesto Korrodi 1889-1944: arquitectura, ensino e restauro do património. Lisboa, 1997.

Webgrafia
https://www.publico.pt/2012/07/15/jornal/igespar-vai-classificar-palacio-de-braga-que-a-princesa-diana-afinal-nunca-comprou-24903139

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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