sexta-feira, abril 06, 2018

Em Portugal, sê português

O turismo pode e deve ser mais do que um conjunto de experiências partilhadas por um grupo de pessoas durante um período de tempo. Atualmente, um dos temas que está na berra é a solidariedade e o voluntariado.
Muitas são as associações que contribuem para uma sociedade mais justa e igual, onde todos têm as mesmas oportunidades. Não poderá o turismo ser também um fator de desenvolvimento social? De acordo com Duarte D’Eça Leal, em entrevista ao site Observador do dia 16/10/2015, “O que o viajante quer é uma experiência social, mais do que uma simples viagem a meia dúzia de locais e monumentos de referência.
A procura de alojamento de proximidade reflete a procura da experiência de viver como um habitante do bairro ou da cidade. O viajante não quer apenas “ir a”, mas sentir que, por alguns dias, faz “parte de”. Se pensarmos na atualidade, percebemos que vivemos numa época em que a ajuda ao próximo é uma realidade que faz parte do dia-a-dia de muitas pessoas. Seja por esta ou por aquela razão, todos gostamos de experimentar o sentimento de gratidão, de serviço e de ajuda. Também o turismo pode e deve ser um fator de humanização, onde mais importante do que aquilo que se gasta, vê ou visita é aquilo que se dá: o tempo, a partilha de experiências, o sorriso ou uma palavra amiga.
Hoje em dia, não se fala de turistas que querem apenas passar uns dias diferentes e conhecer este ou aquele lugar, mas sim turistas que querem fazer a diferença na vida de alguém, conhecer a sua história e até sentir-se uma peça importante na sua vida. Os turistas procuram aquilo que é diferente e único e por isso não querem ficar isolados neste ou naquele local. Preferem ir a lojas tradicionais e mercados locais onde encontram produtos variadíssimos e distintos de todos os outros. Querem misturar-se connosco, falar connosco, aprender connosco e principalmente sentir-se um de nós. Querem andar pela rua e ver as senhoras a vender castanhas ou ir ao mercado e ver as peixeiras a regatear pelo melhor peixe.
Duarte D’Eça Leal, em entrevista ao site Observador do dia 16/10/2015 explica queHoje em dia os turistas saem de sua casa para entrar na casa de outras pessoas. Preferem o serviço e a proximidade e dispensam as amenidades, como o serviço de quartos”. Já Nuno Seabra Lopes, em entrevista ao site Observador do dia 16/10/2015 afirma que “As pessoas não vêm para visitar os monumentos vazios. Vêm para nos ver. Se nos vêm cá ver, alguma coisa, de certeza, que fizemos bem. É preciso reforçar a nossa unicidade. Até porque há um público novo que quer aquilo que é único. E nós queremos que as pessoas queiram voltar”.
Em 2017, o turismo bateu recordes em Portugal, o número de visitantes alcançou valores gigantescos e a tendência é para aumentar. Com um público-alvo cada vez mais exigente, é importante começar a apostar naquilo que nos diferencia e nos torna tão únicos. Afinal de contas não somos nós o povo conhecido pela hospitalidade, boa disposição e simplicidade? Se as pessoas vêm cá para nos ver, então façamos com que se sintam em casa e mostremos o bom que é ser português.

Maria João Lopes

Referências

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

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