Portugal foi eleito o melhor destino
turístico do Mundo em 2017, tornando-se o primeiro país europeu a receber esta
distinção. Além do prémio nacional, Lisboa foi distinguida como a melhor City break do Mundo, a ilha da Madeira
foi considerada o melhor destino insular, o parque de Sintra-Monte da Lua
venceu na categoria de melhor exemplo de recuperação de património e a marca
“Turismo de Portugal” recebeu ainda os prémios de melhores campanhas de
promoção turística e de melhor organização de turismo do Mundo. Estes prémios,
os prestigiados World Travel Awards, reconhecem
a excelência da indústria hoteleira e turística de Portugal, em 2017.
A qualidade e a preservação das paisagens,
a qualidade de vida, o respeito pela diversidade e a facilidade com que se pode
alternar entre a montanha e a praia, a boa implementação da rede rodoviária e
de transportes coletivos foram aspetos que permitiram este feito.
Desta forma, o número de visitantes das nossas cidades
não pára de aumentar, tanto a visita a Portugal de cidadãos de
outros países como as viagens e estadas de recreio de cidadãos portugueses
dentro do território nacional. Dados recentemente divulgados pelo IPDT (Instituto de
Planeamento e Desenvolvimento do Turismo) revelam que a pressão turística do
Porto ou Lisboa é maior do que a existente em Londres ou em Barcelona. Por cada
habitante da cidade Lisboa há nove turistas que a visitam. No Porto, são oito
turistas por cada habitante. A comparação com os números de Londres é
ilustrativa da diferença - a cidade recebe quatro turistas por cada visitante
-, enquanto em Barcelona o rácio é de cinco turistas para cada habitante. No
entanto, este “boom” turístico tem um lado negro, que engloba a precariedade
laboral, os salários baixos e a baixa qualificação.
Segundo o INE (Instituto Nacional de
Estatística), o ano de 2016 terminou com uma subida de todos os indicadores,
tornando possível a criação de novos postos de trabalho, fazendo do turismo a
atividade económica com maior contribuição líquida para inverter a taxa de
desemprego que vinha do período precedente. No entanto, o ganho médio mensal
dos trabalhadores no setor (alojamento e restauração) manteve-se em 690,5 euros
(Pordata, 2018). Se compararmos com o salário médio mensal do País, 924,9
euros, percebemos que a discrepância persiste. Para agravar este cenário e
segundo um estudo elaborado pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e
Segurança Social (2017), 35,9% dos trabalhadores do turismo ganham o salário
mínimo. No que diz respeito à precariedade, esta tem sido justificada com o
aspeto sazonal da atividade, o que obriga as entidades patronais a contratar um
maior número de trabalhadores temporários para as épocas altas, recorrendo a
empresas de trabalho temporário que praticam salários baixos e com contratos a
termo certo. Quanto à qualificação, existe um número considerável de
profissionais do setor com qualificações baixas, quer ao nível
técnico-profissional quer ao nível superior.
Já se sabe que o setor hoteleiro
desempenha um papel vital no turismo. A qualidade da relação que se estabelece
com os hóspedes tem impactos na sua satisfação imediata, mas também na
avaliação global que farão do destino. A verdade é que a existência de salários
baixos e pouco apelativos, a falta de motivação para bem receber, a dificuldade
de captação e a permanência de mão-de-obra qualificada são fatores que colocam
em causa a qualidade e a competitividade do País, enquanto prestigiado e
reconhecido destino turístico de excelência. Não bastam os crescimentos em
número de visitantes ou em dias de permanência. É preciso também garantir a
qualidade e preservar a maneira de ser e de conviver dos portugueses.
O setor terá que dar provas de maturidade,
garantindo ser capaz de estar à altura das expetativas de quem, na sequência do
estrelato internacional, nos venha a visitar nos próximos tempos. Há razões
para festejar, mas os festejos não podem ser sinónimo de sobranceria, sob risco
de deitar tudo a perder. Que se somem às justas festividades o redobrar da
energia de todos os que trabalham no turismo para que sejam capazes de
arregaçar as mangas e continuar a desenvolver um produto turístico de
excelência.
Assim, Luís Araújo, presidente do “Turismo
de Portugal”, em entrevista ao jornal Publituris, afirma que um dos eixos da
Estratégia Turismo 2027 é “continuar a assegurar a nossa competitividade,
enquanto nos esforçamos para garantir que os princípios e valores da
sustentabilidade são observados, fazendo do Turismo uma atividade económica que
gera emprego durante todo o ano”.
Portugal apresenta a mais-valia de uma
cultura autêntica e de um povo que sabe e gosta de receber bem, e assim deve
continuar a ser. Qualificar recursos humanos, diversificar mercados, continuar
a apostar na coesão turística e promover um desenvolvimento equitativo são
eixos de trabalho cruciais para manter a supremacia mundial que já temos.
Cátia
Margarida Pereira Caldas
Referências:
https://www.jn.pt/nacional/interior/pressao-turistica-no-porto-e-lisboa-superior-a-londres-9232461.html
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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