sexta-feira, abril 06, 2018

O turismo em Portugal - cada vez mais e melhor?

Portugal foi eleito o melhor destino turístico do Mundo em 2017, tornando-se o primeiro país europeu a receber esta distinção. Além do prémio nacional, Lisboa foi distinguida como a melhor City break do Mundo, a ilha da Madeira foi considerada o melhor destino insular, o parque de Sintra-Monte da Lua venceu na categoria de melhor exemplo de recuperação de património e a marca “Turismo de Portugal” recebeu ainda os prémios de melhores campanhas de promoção turística e de melhor organização de turismo do Mundo. Estes prémios, os prestigiados World Travel Awards, reconhecem a excelência da indústria hoteleira e turística de Portugal, em 2017.
A qualidade e a preservação das paisagens, a qualidade de vida, o respeito pela diversidade e a facilidade com que se pode alternar entre a montanha e a praia, a boa implementação da rede rodoviária e de transportes coletivos foram aspetos que permitiram este feito.
Desta forma, o número de visitantes das nossas cidades não pára de aumentar, tanto a visita a Portugal de cidadãos de outros países como as viagens e estadas de recreio de cidadãos portugueses dentro do território nacional. Dados recentemente divulgados pelo IPDT (Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo) revelam que a pressão turística do Porto ou Lisboa é maior do que a existente em Londres ou em Barcelona. Por cada habitante da cidade Lisboa há nove turistas que a visitam. No Porto, são oito turistas por cada habitante. A comparação com os números de Londres é ilustrativa da diferença - a cidade recebe quatro turistas por cada visitante -, enquanto em Barcelona o rácio é de cinco turistas para cada habitante. No entanto, este “boom” turístico tem um lado negro, que engloba a precariedade laboral, os salários baixos e a baixa qualificação.
Segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística), o ano de 2016 terminou com uma subida de todos os indicadores, tornando possível a criação de novos postos de trabalho, fazendo do turismo a atividade económica com maior contribuição líquida para inverter a taxa de desemprego que vinha do período precedente. No entanto, o ganho médio mensal dos trabalhadores no setor (alojamento e restauração) manteve-se em 690,5 euros (Pordata, 2018). Se compararmos com o salário médio mensal do País, 924,9 euros, percebemos que a discrepância persiste. Para agravar este cenário e segundo um estudo elaborado pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (2017), 35,9% dos trabalhadores do turismo ganham o salário mínimo. No que diz respeito à precariedade, esta tem sido justificada com o aspeto sazonal da atividade, o que obriga as entidades patronais a contratar um maior número de trabalhadores temporários para as épocas altas, recorrendo a empresas de trabalho temporário que praticam salários baixos e com contratos a termo certo. Quanto à qualificação, existe um número considerável de profissionais do setor com qualificações baixas, quer ao nível técnico-profissional quer ao nível superior.
Já se sabe que o setor hoteleiro desempenha um papel vital no turismo. A qualidade da relação que se estabelece com os hóspedes tem impactos na sua satisfação imediata, mas também na avaliação global que farão do destino. A verdade é que a existência de salários baixos e pouco apelativos, a falta de motivação para bem receber, a dificuldade de captação e a permanência de mão-de-obra qualificada são fatores que colocam em causa a qualidade e a competitividade do País, enquanto prestigiado e reconhecido destino turístico de excelência. Não bastam os crescimentos em número de visitantes ou em dias de permanência. É preciso também garantir a qualidade e preservar a maneira de ser e de conviver dos portugueses.
O setor terá que dar provas de maturidade, garantindo ser capaz de estar à altura das expetativas de quem, na sequência do estrelato internacional, nos venha a visitar nos próximos tempos. Há razões para festejar, mas os festejos não podem ser sinónimo de sobranceria, sob risco de deitar tudo a perder. Que se somem às justas festividades o redobrar da energia de todos os que trabalham no turismo para que sejam capazes de arregaçar as mangas e continuar a desenvolver um produto turístico de excelência.
Assim, Luís Araújo, presidente do “Turismo de Portugal”, em entrevista ao jornal Publituris, afirma que um dos eixos da Estratégia Turismo 2027 é “continuar a assegurar a nossa competitividade, enquanto nos esforçamos para garantir que os princípios e valores da sustentabilidade são observados, fazendo do Turismo uma atividade económica que gera emprego durante todo o ano”.
Portugal apresenta a mais-valia de uma cultura autêntica e de um povo que sabe e gosta de receber bem, e assim deve continuar a ser. Qualificar recursos humanos, diversificar mercados, continuar a apostar na coesão turística e promover um desenvolvimento equitativo são eixos de trabalho cruciais para manter a supremacia mundial que já temos.

Cátia Margarida Pereira Caldas

Referências:
https://www.jn.pt/nacional/interior/pressao-turistica-no-porto-e-lisboa-superior-a-londres-9232461.html

(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia do Turismo”, de opção, lecionada a alunos de vários cursos de mestrado da EEG, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)

Sem comentários: