A
Terra e o céu não foram os únicos palcos de um dos episódios mais tristes da
humanidade. Durante a Segunda Guerra Mundial, as batalhas também aconteciam em
todos os oceanos ao redor do mundo. Naufrágios, afundamentos propositados de
rendição, aeronaves abatidas nos deixaram como herança um património cultural
submerso riquíssimo, além de tornarem-se a “casa” de dezenas de espécies
marinhas.
O
turismo para Mergulhadores cresceu exponencialmente nos últimos anos com o
surgimento das agências internacionais de certificação. O mergulho foi
globalizado e hoje a circulação de mergulhadores ao redor do mundo tornou-se
mais acessível e democrática. Segundo inventário iniciado em 1984, só em
Portugal existem cerca de 9mil registros de artefactos e embarcações naufragada
e 300 locais propícios ao mergulho. Entre eles, as Ilhas das Berlengas,
consideradas Reserva Mundial da Biosfera pela UNESCO, desde 2011.
Um
outro exemplo de ponto de interesse para os mergulhadores em Portugal é o U-Boat 1277. O submarino alemão foi afundado propositalmente por sua
tripulação no final da Segunda Guerra Mundial antes de sua rendição e
encontra-se a 30 metros de profundidade na costa de Angeiras.
O
património cultural submerso levanta alguns pontos para discussão sobre sua
preservação. Além de serem um ambiente propício para o desenvolvimento de
diversas espécies marítimas, esses “gigantes” são também o túmulo silencioso de
tripulações abatidas, e a legislação não permite sua exploração.
Casos como o do mergulhador brasileiro
Vilfredo Schurman, que dedicou-se a encontrar o submarino alemão U-513 abatido
por um hidroavião americano na costa de Santa Catarina – Brasil, não são raros.
Após 11 anos de pesquisa,18 expedições e quase dois anos “vasculhando” o fundo
do mar, o localizou. Todavia, a Marinha Brasileira não autorizou a equipe de
Schurman a chegar até ele. A embarcação está intacta e provavelmente também
abriga os esqueletos de 47 militares nazis, sendo considerada túmulo de guerra.
Para esta descoberta, permitiram apenas a exploração por robôs.
À
medida que a busca dessas relíquias aumentou nos últimos anos, seja por
pesquisadores ou mergulhadores recreativos, surgiu também a preocupação com a
sua preservação e em como este tipo de património pode ser “vivenciado” por
outros grupos além dos mergulhadores.
Outro
ponto a ser observado é que a ação das águas é implacável. A erosão tem
transformado esses “museus submersos” em verdadeiras sucatas. Muitos desses
navios, submarinos e aviões desaparecerão para sempre.
É fato que não há como parar o tempo, a ação
da natureza ou passar por cima da legislação. Mas como explorar essa nova
janela do turismo, de enorme potencial, e, ao mesmo tempo, garantir o registro
histórico deste património?
A
criação dos recifes artificiais pode ser a resposta para parte do
questionamento. Um case de destaque é
o projecto “Ocean Revival”, ao largo da costa de Portimão, em Portugal. Visando
promover o turismo subaquático, 4 navios de guerra de grande importância histórica
para a Marinha Portuguesa foram preparados e afundados intencionalmente em um
mesmo local com o intuito de criar um parque subaquático e ser o novo lar para
diversas espécies marinhas.
O projecto além de requalificar esse setor
turístico em Portugal, permitir o estudo científico do desenvolvimento de inúmeras
espécies marinhas, também estimula a permanência histórica do património, já
que é ligado a um complexo no Continente. A criação de um centro de exposições,
ligada ao Museu de Portimão, responde a mais uma parte do questionamento
exposto acima. Com a documentação de toda a história da frota, através de
filmes, fotos e desenhos, um público, além dos mergulhadores, tem a
oportunidade de vivenciar a experiência dos naufrágios em “terra firme”.
Com
o exemplo dos recifes artificiais, podemos concluir que o património histórico
submerso, como os naufrágios resultantes de guerras, poderiam ser melhor
explorados, tanto por mergulhadores, como turistas convencionais, se houvesse
uma ligação com museus das regiões em que foram abatidos, garantindo sua
permanência no contexto social e na história.
Joice Sashalmi Costa Ramos
Bibliografia:
BARONE, João. 1942: O Brasil e sua guerra quase desconhecida. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2013.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. 7. ed. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo: Fundação para o desenvolvimento da educação, 1999.
Webgrafia:
(Data
de acesso: 31.03.2018)
(Data
de acesso: 01.04.2018)
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de acesso: 01.04.2018)
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de acesso: 02.04.2018)
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de acesso: 02.04.2018)
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de acesso: 03.04.2018)
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de acesso: 03.04.2018)
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de acesso: 03.04.2018)
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de acesso: 03.04.2018)
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de acesso: 03.04.2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
(Artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Património Cultural e Políticas de Desenvolvimento Regional”, do curso de Mestrado em Património Cultural do ICS, a funcionar no 2º semestre do ano letivo 2017/2018)
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